Imprensa

PPE: Diário Regional faz melhor
cobertura, mas falta profundidade

DANIEL LIMA - 15/07/2015

O Diário Regional fez na edição de ontem a melhor cobertura da projeção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sobre o impacto imediato na economia da região do Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Isso não quer dizer que tenha feito a matéria dos meus sonhos. Como nenhum outro grande jornal do País, Folha, Estadão e O Globo, também não o fizeram, das duas uma: ou estão todos fora do passo do que se espera da cobertura ou este jornalista está exigente demais. Como acho que não estou exigente demais, todos estão fora do compasso. Mas não é nada grave.


 


O repórter Anderson Amaral fez uma reportagem ponderada, razoavelmente contextualizada, embora quase relatorial. Não ficou apenas nas informações dos sindicalistas e do Secretário-Geral da Presidência da República, Miguel Rosseto, participante do evento preparado pelo Sindicato dos Metalúrgicos que já teve Lula da Silva como presidente e hoje tem um Rafael Marques sem o carisma e densidade verbal do mais tarde presidente da República. Aliás, Marques repetiu antecessores. Lula da Silva só tem mesmo um. Os demais são caricaturas. E muito mais que isso, caso de Luiz Marinho, por exemplo.


 


O Diário Regional abriu a melhor manchete (na verdade, abriu manchetíssima de primeira página) sobre o assunto. E teve a embocadura lógica, enquanto os demais veículos frustraram a expectativa. O Diário Regional foi direto ao ponto: “PPE vai preservar 3 mil empregos na base do Sindicato dos Metalúrgicos, projeta Marques”. Nenhum concorrente regional, inclusive o Diário do Grande ABC, sempre num patamar de institucionalidade maior, chegou levemente perto disso. O Repórter Diário se referiu, no título, a seis mil empregos preservados, após ouvir o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André (que também abrange Mauá) e registrar que autopeças se juntarão às montadoras.


 


Cadê os estudos?


 


Todas as matérias que carregam a versão do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC se deixam levar pelo tom especulativo. Não há estudo algum que transmita a sensação de que chutometria não é esporte preferido do sindicalista Rafael Marques. Tanto que na semana passada o ABCD Maior, muito próximo dos sindicalistas, abriu manchete de que seriam 30 mil empregos a salvo do facão na base dos metalúrgicos de São Bernardo.


 


O que os jornais precisariam dizer e não dizem porque ficam presos demais à pauta dos sindicalistas é que há vários pontos a considerar para retirar o lacre de salvação da lavoura do Programa de Proteção ao Emprego que o governo federal decidiu lançar para amenizar a barra da catástrofe econômica. 


 


Vamos então aos pontos principais, os quais precisariam ser exaustivamente considerados antes que se lançassem as bases de uma proposta que se perde pela inconsistência:


 


1. Convite à vagabundagem.


2. Privilégio às grandes empresas.


3. Desprezo à produtividade.


4. Compadrio capitalista.


5. Autoprotecionismo sindical.


6. Protelação da realidade inexorável.


7. Instrumentalização político-partidária.


 


Expostos esses pontos centrais de desvios que a Imprensa em geral mais que ignora, desconsidera, porque é presa fácil de figurinhas carimbadas que essa mesma imprensa incensa, vamos então a rápidas considerações sobre cada quesito listado.


 


1. Convite à vagabundagem. Quem garante que as empresas beneficiadas não forçarão a barra para colocar mais trabalhadores fora do chão de fábrica nesse período de recesso industrial? Como há possibilidade de reduzir em até 30% as horas trabalhadas, com desconto de 15% dos respectivos custos salariais, eis uma fórmula que pode estimular critérios de elasticidade do contingente de trabalhadores a desaparecer da produção raquitizada pela recessão. As informações que dão conta de que haveria cuidados na aplicação das medidas individuais das empresas, com supervisão dos sindicatos, só aumentam a desconfiança de que desvios podem ser sistematizados. 


 


2. Privilégios às grandes empresas. Quem é do ramo sabe que as relações entre grandes empresas, sobretudo montadoras de veículos e sistemistas, e sindicatos de trabalhadores, são tão permissivas quanto a tolerância com que policiais tratam as mulheres de vida fácil desde que as mulheres de vida fácil facilitem a vida de policiais. Não à toa o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC antecipa que Ford e Mercedes-Benz são as primeiras da lista a gozar dos privilégios do PPE. As pequenas e médias empresas muito dificilmente terão vez no PPE. Há barreiras fiscais e tributárias que as impedem de ao menos sonhar com o suporte do dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador. São raras as pequenas e médias indústrias que não estejam inadimplentes em alguma esfera de governo. As grandes sempre têm retaguarda jurídica para transformar dívida em demanda judicial cujo resultado só pode ser considerado definitivo depois de transitado em julgado. Pequenos e médios mal sabem o que isso significa.


 


3. Desprezo à produtividade. Reparem que em nenhuma linha sequer de qualquer que tenha sido as matérias publicadas há menção à produtividade dos trabalhadores como gatilho condicionante à aplicação do PPE. E quem disse que os sindicalistas estão preocupados com essa irrelevância? Eles querem mesmo é ocupar espaços para dizer ao distinto público que salvam alguns milhares de empregos quando, de fato, o inchaço de trabalhadores nas fábricas vem de longa data entre outros motivos porque se acreditou na eternidade da bolha de consumo.


 


4. Compadrio capitalista. O que há de mais expressivamente expansivo nas relações entre capital e trabalho, sobretudo em áreas muito aquém da produtividade internacional, como é a Província do Grande ABC, é um conluio disfarçado de beligerância entre grandes empresas e sindicatos de trabalhadores. Tudo para deixar como está. Há pressões sindicais contra ajustes necessários nas fábricas e estas, por outro lado, presas à teia sindical, buscam refúgio, inclusive com suporte sindical, no governo federal para se manterem razoavelmente competitivas. O PPE não passa disso. Qualquer correlação com o que se aplicou na Alemanha, por exemplo, não passa de embuste. Compara-se laranja com manga.


 


5. Protecionismo sindical. Os sindicalistas de atividades que influenciam mais diretamente a vida político-partidária, caso dos metalúrgicos da região, fazem um jogo mais que manjado de autoproteção de suas cidadelas disfarçadas de proteção de supostos protegidos, os trabalhadores. Tudo não passa de um jogo de cena. E como só enxergam a si próprios, como se vivessem numa redoma, os demais agentes econômicos e sociais da região em que estão inseridos, caso desta Província, que se danem. Não se admite que percam as vantagens comparativas que só parecem interessantes à região. Capitalismo protegidíssimo de primeira classe em custos trabalhistas afasta investimentos em outras áreas.


 


6. Protelação da realidade inexorável. Por mais que insistam os sindicalistas nesse jogo de faz de conta no qual a palavra competitividade é execrada e capitalismo só interessa mesmo porque eles obtêm enormes vantagens com o protecionismo engendrado, sempre haverá de chegar o dia em que a conta será cobrada. Como está sendo cobrada ao longo dos anos com a queda persistente de investimentos e de empregos de qualidade na região.


 


7. Instrumentalização político-partidária. No anseio incontido de tornar-se partido monolítico, intenso, opressor e onipresente na vida brasileira, o PT fez dos metalúrgicos da Província do Grande ABC, entre outros territórios, exércitos de trabalhadores doutrinados a conterem qualquer tentativa de correção de rota econômica, dificultando ao extremo as adequações que a internacionalização da economia impõe. os sindicalistas de São Bernardo ditam o ritmo de boa parte da agenda econômica da região porque, do lado oposto, vicejam burrice, despreparo e quando não, medo. 


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