Vai ficar muito chato para os jornais diários impressos e digitais que um jornalista como eu que lida mais com análises do que com a notícia bruta, porque são as análises que diferenciam o jornalismo de verdade nestes tempos fastfoodianos, vai ficar muito chato, dizia, que um jornalista como eu acabe por revelar as entranhas dessa disputa entre o Sindicato dos Cegonheiros e a Volkswagen do Brasil. A greve instaurada porque se pretende alterar profundamente esse negócio rentabilíssimo no entorno da produção de veículos daquela montadora incorpora complicações muito distantes do que se vem noticiando.
Ainda nestes dias que se aproximam vou ter um encontro com uma fonte de identidade jamais a revelar e que se soma a outra que já me indicara haver mais penumbras do que luminosidade no noticiário sobre os cegonheiros.
Traduzindo em miúdos e sem revelar o que se passa, porque também tenho o direito de fazer suspense, o que posso antecipar é que a Volkswagen do Brasil descobriu, ou melhor, caiu na real, de que está a produzir milionários na clandestinidade de negócios que não resistiriam a uma blitz da Receita Federal, quando não, pensando bem, também da Polícia Federal. Nada, convenhamos, que fuja ao modelo de capitalismo e trabalhismo com que contamos.
O que os cegonheiros vinculados à Volkswagen do Brasil sintetizam com enorme contundência é que os jornais estão cada vez mais esfacelados nas redações, reflexo imediato de primeiro grau sobre a cobertura de assuntos que exijam mais investigação e menos declaração. O jornalismo relatorial que ultrapassa todos os limites no País é parente muito próximo do jornalismo de gabinete.
Até nos bordéis
Não sou desses saudosistas que entendem que repórter tem de estar fisicamente nas ruas como princípio básico do trabalho de informar. Repórter tem de estar nas ruas, nos gabinetes públicos, nos aeroportos, nos portos e no escambau. Mesmo que de forma virtual. O que quero dizer é que repórter de verdade precisa ter fontes confiáveis e que não interessa onde essas fontes estejam quando acionadas. Podem estar até num bordel, se querem saber. Aliás, sobre determinadas questões a apurar, os bordeis são um prato cheio. Se é que me entendem.
Estou dando uma dica sobre os cegonheiros da Volkswagen como espécie de desafio aos repórteres e também aos editores para que tirem a bunda da cadeira da informação orquestrada por forças de pressão que fazem tudo para esconder o essencial e arrebentem com o segredinho que coloca aquela montadora e o sindicato em polos extremos.
Se esperam que oficialmente a Volkswagen abrirá o jogo é provável que vão dar com a cara na porta, como, aliás, estão dando. O buraco é mais embaixo. Há determinadas questões que exigem sigilo inclusive como proteção a selvagerias.
O que posso antecipar sem revelar o segredo da Coca Cola é que há muito dinheiro envolvido nessa parada. Dinheiro que não passa pelos cofres da Volkswagen. Mas a Volkswagen não vai dizer nada, embora não falte gente disposta a contar tudo o que sabe -- desde que sejam preservadas as identidades envolvidas. Quem se habilita a passar a perna neste jornalista e publicar primeiro o que se passa entre os cegonheiros? Estou dando uma colher de chá para que façam uma grande matéria.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)