Não sei por que há tanto paternalismo da Imprensa no tratamento a sindicalistas. Não sei é força de expressão. Sei porque sei sim o que se passa, embora ache uma estupidez. O que se passa é que os sindicalistas, de maneira geral, são extraordinariamente sedutores. Eles discorrem sobre pobreza, sobre desigualdade social, sobre capitalismo selvagem, sobre tudo isso e sobretudo sobre abusos dos que chamam de patrões. Poucos jornalistas resistem ao evangelho dos excluídos. Pelo menos até que ganhe maturidade profissional e enxergue o conjunto da obra em terceira dimensão, não por um buraco da porta da ingenuidade.
Reparem que todo o noticiário destes tempos sobre crise econômica e desdobramentos no mercado de trabalho reúne tom de recriminação ao empresariado, como se a responsabilidade pelos desvarios não fosse principalmente da gestão federal. Não tenho nem quero procuração de empresário algum para defender a classe, até porque sou suficientemente grandinho para saber que há gente de toda espécie agindo como capitalista e não como empreendedor. O que quero mesmo é traçar uma linha divisória sobre empregadores de maneira geral e trabalhadores também de maneira geral.
Os sindicalistas, em larga escala, notadamente das categorias mais representativas, são espertíssimos. Eles sabem manipular a mídia, sob pena de boicotar os repórteres que se meterem a besta no campo de batalha se não seguirem a cartilha de visão unilateral dos fatos. São raros os jornalistas de linha de frente, aqueles que vão diretamente às fontes de informações, que resistem à cantilena dos representantes dos trabalhadores. Há um código não escrito mas muito respeitado, quando não temido, de que quem ousar contradizer os donos do trabalho dará com os burros nágua no próprio ambiente de redação. Não faltarão ramificações que tratarão de defenestrá-los.
Linha de montagem
Por isso, tudo que sai da linha de montagem de informações das corporações sindicais de trabalhadores é rigorosamente intocável. Um ou outro veículo de comunicação, muito raramente, oferece contraposições a argumentos geralmente frouxos dos sindicalistas. Alguns especialistas tomam todos os cuidados possíveis e imagináveis para não parecerem inimigos dos trabalhadores. Temem entrar para o grupo de personas não gratas dos sindicalistas sempre discriminatórios quando se trata de defender interesses próprios e das categorias que representam.
A chamada grande imprensa, tão duramente criticada pelos sindicalistas, é campo fértil à divulgação dos conceitos socialistas dos representantes de trabalhadores. Há choradeira orquestrada para enquadrar principalmente os grandes jornais entre os inimigos dos trabalhadores que constam da rede das centrais sindicais mais ativas. Tudo não passa de estratégia bem concatenada. Fazem-se de vítimas para manterem o noticiário sob controle.
Dou como exemplo de que a via unilateral estabelecida pelos sindicatos em defesa de suas cores é quase que incontestável o caso da aprovação do Programa de Proteção ao Emprego, PPE, que visa pressupostamente minimizar os estragos da política econômica do governo federal no setor industrial. Raras vozes se levantaram para contrapor-se a algumas das supostas vantagens das medidas, as quais, de fato, são corporativistas e um jogo de cartas marcadas.
Maioria sacrificada
Quem ousa dizer que as grandes empresas, sobremodo as montadoras de veículos, articularam as medidas em conjunto com as grandes centrais sindicais de trabalhadores porque sabem que irão se beneficiar do conjunto de normas em detrimento da maioria da população?
As redações de jornais, principalmente, sempre foram terrenos apropriados para o controle da pauta econômica pelos sindicatos mais organizados. No caso da Província do Grande ABC, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, de onde emergiram Lula da Silva, Vicentinho Paulo da Silva, Luiz Marinho, entre tantos outros, sequestrou-se e ainda se sequestra a pauta econômica. Os trabalhadores em excesso nas fábricas induzidas a contratar durante o período de vacas gordas de consumismo descolado de produção sustentável agora são trambolhos a serem devidamente retirados da lista de ativos produtivos das empresas. É assim em todo o mundo civilizado ou incivilizado no qual a regra do jogo da sobrevivência empresarial não permite fraquejos.
Os jornalistas que se deixam levar pela cantilena sindical de emprego sem risco vivem em outro mundo porque mais do que qualquer outra categoria profissional no País nas duas últimas décadas estão a comer o pão que o diabo amassou em matéria de demissões, de rebaixamento de salários, de desprestígio social e de tantos outros passivos aos quais só não dizem adeus com a troca de profissão porque quem conhece bem a classe sabe o quanto é resiliente. Pena que seja tão facilmente enganada e não se dê conta, também, de que está na hora de olhar para o próprio umbigo se quiser sobreviver.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)