Acaba de chegar, finalmente, às minhas mãos, meu diploma de idoneidade profissional. Dispensável, claro, mas nem sempre o dispensável é descartável. Estou falando da condenação que sofri do Judiciário porque insinuei há três anos e pouco que, na condição de dirigente classista e de empresário, jamais como pessoa física, o milionário empresário Milton Bigucci poderia estar delinquindo. Quando fui julgado em instância final, comprovara-se que Milton Bigucci está longe de ser flor que se cheire, porque fede. Mas o Judiciário ignorou os fatos, relacionando-os indevidamente à vida privada do empresário.
O chamado “Despacho-mandado”, que recebi hoje de manhã em minha residência, vai parar numa das paredes de meu escritório. Trata-se de símbolo de independência e responsabilidade. Ao lado desse instrumento judicial vou reproduzir, também em quadro emoldurado, uma das manchetíssimas do Diário do Grande ABC que dão conta das falcatruas de Milton Bigucci. O mesmo Bigucci que insisto em desafiar a ir à Justiça não porque insinue que seja um marginal corporativo e classista, mas porque afirmo que se trata exatamente de um delinquente nas duas esferas.
Quadro emoldurado
Vou providenciar esta tarde, o mais tardar amanhã, a moldura do “Despacho-Mandado” da Justiça. É o maior diploma profissional que poderia receber. Já me conferiram indevidamente várias láureas, entre as quais o título de cidadão de Santo André e a Medalha João Ramalho, de São Bernardo. Nem sei onde as enfiei. Nem quero saber. Todos que se lembraram de meus trabalhos erraram nas homenagens. Jornalista não trabalha para isso -- trabalha para colaborar com a sociedade. É claro que estou me referindo a jornalista de verdade, não de uma fauna que está na mídia de olho na política, quando não em outras atividades.
Vou pendurar com zelo e orgulho a confirmação de uma sentença estapafúrdia de um magistrado que não acompanhou a realidade dos fatos desde que insinuei -- segundo a defesa de Milton Bigucci -- que estava a tirar o brilho daquele transgressor. Os acontecimentos que se sucederam a partir do momento em que Milton Bigucci ingressou com ação judicial para me condenar – ele tentou, também, inutilmente, retirar os textos desta revista digital – foram tão escandalosamente esclarecedores sobre as peripécias desse quadrilheiro juramentado que nenhum representante do Judiciário brasileiro poderia chegar ao desplante de me condenar por antecipar a verdade dos fatos. Por isso vou recorrer a instâncias internacionais.
Começar uma quarta-feira ouvindo palmas no portão e receber um oficial de Justiça que me trouxe o diploma de idoneidade profissional foi bom demais. Duro mesmo é estar na pele de Milton Bigucci, acossado por série de irregularidades que cometeu e provavelmente segue a cometer à frente do conglomerado de empresas que dirige, estando por conta disso às voltas com o Judiciário, com o Ministério Público e também com instâncias policiais.
Fim da virgindade
As paredes de meu escritório são virgens santas. Não remetem a qualquer homenagem que tenha recebido, a qualquer reconhecimento que me proporcionaram indevidamente. Os autores desses exageros não sabem que a profissão que abracei não permite esse tipo de recompensa. As paredes de meu escritório continuarão como estão, menos num cantinho que vou reservar ao diploma que me é conferido pelo Judiciário -- e também à reprodução da manchetíssima do Diário do Grande ABC.
Acabo de ganhar o Oscar de independência profissional conferido por um dos maiores manipuladores de emoções e dinheiros da Província do Grande ABC. O dirigente classista e comandante corporativo que faz do mercado imobiliário algo como terra de ninguém. Ou fazia, porque desde algum tempo resolvi lhe dar uma surra de compromisso social.
Quantas paredes de escritórios e de residências recheadíssimas de encomendas eu conheço e todos conhecem de gente que não faz outra coisa senão delinquir como Milton Bigucci? A virgindade das paredes pastel de meu escritório é rompida por um motivo mais que justo, para não dizer consagrador. Ou o fato cristalino de um jornalista resistir aos encantos mais que conhecidos de Milton Bigucci em transformar qualquer diálogo em monólogo e algo mais não tem significado algum nestes tempos de Operação Lava Jato?
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)