Imprensa

Bandidos sociais ainda duvidam:
quanto mais atacam, mais reajo

DANIEL LIMA - 17/08/2015

Esse texto é didático e tem endereço certo: evitar que leitores desatentos que não acompanham os trabalhos deste jornalista caiam na sórdida armadilha de falseadores da verdade que procuram se utilizar de facilidades tecnológicas em várias plataformas de comunicação para massificar inverdades completas e meias verdades matreiras.


 


Próximo a completar 50 anos de atividade profissional, carrego há oito anos no mundo digital o mesmo DNA dos tempos de veículos impressos. Escrever é permanente oportunidade para enfrentar desafios e demonstrar aos poderosos de plantão que não os temo; por isso jamais fiz concessões a facilidades.


 


Diferentemente de alguns desafetos que manipulam todas as armas possíveis e imagináveis para tentar atingir minha honra profissional e pessoal, jogo completamente limpo. Dou nomes aos bois quando há comprovações de que os bois são bandidos e mantenho os bois bandidos anônimos até que instâncias ministeriais, policiais e judiciais desbaratem entranhas de safadezas. Faço exatamente o que os manuais de bom jornalismo determinam. E isso é doloroso aos poderosos de plantão.


 


Liberdade atacada


 


Os casos envolvendo o empresário Milton Bigucci são emblemáticos dos desafios a quem quer manter a honra e a dignidade de afirmar ser jornalista. Por razões suspeitas, porque soam muito estranhas, o milionário da construção civil conseguiu fazer com que a liberdade de expressão fosse abalroada por uma Justiça imprecisa, quando não alienada. Recorrerei a instâncias internacionais contra o cometimento dessa barbaridade constitucional. Afinal, simplesmente antecipei, com os cuidados de quem tem experiência suficiente, que o empresário Milton Bigucci, presidente do conglomerado MBigucci e também do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC (Acigabc), é um quadrilheiro juramentado.


 


Milton Bigucci está metido com a quadrilha da Máfia do ISS na Capital, da qual se beneficiou grandemente segundo apurações do Ministério Público Estadual e da Controladoria-Geral da Prefeitura de São Paulo. O Ministério Público do Consumidor de São Bernardo o considera comandante da organização empresarial mais abusiva aos direitos dos adquirentes de imóveis na região. Além disso, Milton Bigucci promoveu tramoia com parceiros ao arrematar uma área então da Prefeitura da São Bernardo, onde constrói o empreendimento Marco Zero da Vergonha. Também foi apontado pelo advogado Calixto Antônio Júnior como membro da confraria que se locupletou com a Máfia do Semasa, embora não tenha sido denunciado pelo promotor criminal Roberto Wider Filho. Aliás, nenhum dos bandidos do outro lado do balcão do mercado imobiliário que promoveram série de irregularidades constou da lista de delinquentes.


 


Esperando por queixa-crime


 


Estou aguardando com a tranquilidade de quem sabe que informação jornalística não é parque infantil que Milton Bigucci vá à Justiça e me denuncie pelos textos que produzi, produzo e continuarei a produzir informando o distinto público que ele é um arrombador social tanto na função de empresário como de dirigente empresarial. Milton Bigucci dificilmente reagirá porque sabe que acabou a margem de manobra que utilizou com semântica e vantagens comparativas àquela condenação absurda.


 


Milton Bigucci não pode negar que não seja quadrilheiro porque o escândalo do Marco Zero, mais que comprovado por testemunhas e documentos, emergiria em investigação mais apurada, caso decida ir ao Judiciário. Ou seja: o tiro sairia pela culatra. O parecer da Promotoria Criminal do MP de São Bernardo seria, portanto, destruído. Da Máfia do ISS não é possível escapar -- como deixou claro o promotor criminal Roberto Bodini. Da Máfia do Semasa teria que se virar com o advogado e denunciante Calixto Antônio Júnior, que o relacionou como um dos beneficiários de propinas. Quem sabe em delação premiada Calixto Júnior fale mais do que aqueles que aparentemente escaparam à degola de penalidades gostariam que falasse? Afinal, perdido por um, perdido por mil. Não foi assim que os delatores da Lava Jato, benditos delatores, malditos delatores apenas para a presidente Dilma Rousseff e sua turma, mudaram os rumos das investigações da força-tarefa?


 


Ventura confirmadíssimo


 


Sei que corro risco de cair do cavalo como jornalista independente porque a velocidade de apuração do Ministério Público, por exemplo, nem sempre é a mesma da Justiça. É emblemática a ação penal movida pela Cyrela, por conta de denúncia fundamentada de que houve irregularidades aos montes no empreendimento imobiliário Residencial Ventura, condomínio de classe média alta plantado em terreno que durante sete décadas sediou uma indústria química. Não fosse um erro processual certamente este jornalista teria sido condenado. Agora, cinco anos depois, o Ministério Público Estadual emite parecer técnico confirmando minhas informações. Espera-se que os desdobramentos não sejam brandos aos responsáveis por vários crimes, entre os quais o fato de venderem imóveis sem que os interessados tivessem conhecimento sobre a saúde ambiental daquela área.


 


Mesmo o caso em que Milton Bigucci se vangloria de ter-me derrotado na Justiça -- um verdadeiro escárnio como já cansei de escrever -- é uma aberração jurídica. Explico: entre a ação criminal movida contra mim e os acontecimentos que mostraram a verdadeira face ética e moral do dirigente do Clube dos Especuladores Imobiliários e comandante da MBigucci, houve intervalo suficiente para que o magistrado que me impôs a pena que, insisto, será devidamente combatida em tribunais internacionais, tomasse conhecimento de que os textos contestados pelo quadrilheiro eram cafés pequenos se comparados aos fatos revelados. Cumpri o dever profissional de denunciar mesmo que sutilmente um farsante social que só foi elevado a essa condição, de forma cabal, tempos depois. Fui punido pela Justiça que se fixou exclusivamente na artilharia de acusação preparada pelos advogados do suposto ofendido, hoje mais que caracterizado como delinquente social. 


 


História de responsabilidade


 


Nesta temporada em que completo 50 anos de jornalismo sem jamais -- até a agressão que sofri da Justiça por conta da influência de Milton Bigucci -- ter qualquer texto criminalizado, meu maior desafio é contribuir no sentido de que a mídia digital, feita por jornalistas sérios e independentes que, na maioria desses casos, foram forjados na mídia impressa, não seja confundida com sites panfletários, indecorosamente mentirosos e manipulados por paus mandados movidos por dinheiro sujo de quadrilheiros em geral e alguns especificamente.


 


Escrevo com tanta convicção, cuidado, determinação e destemor que jamais em tantos anos de jornadas de trabalho sentei à mesa para datilografar, como no passado, ou dedilhar um teclado de computador, como nos últimos 20 anos, carregando qualquer resquício de dívida quanto às informações que repasso de forma muito particular, muito personalizada -- como os leitores reconhecem. 


 


Tenho muitos cartões de visita a apresentar àqueles que me acompanham. Basta mergulhar no acervo desta revista digital, por exemplo. E àqueles que eventualmente têm dúvidas, porque o mundo da Internet costuma associar alhos com bugalhos, passei a utilizar um exemplo definidor de minha atuação: carrego com orgulho a distinção de ter sido acionado judicialmente várias vezes pelo quadrilheiro Milton Bigucci e, numa dessas situações, ter tido o prazer de receber um atestado de idoneidade do Judiciário que, açodadamente, deu guarida àquele quadrilheiro sem ter tido o cuidado de acompanhar o noticiário sobre as lambanças daquele que até então se apresentava como filantropo.


 


Um ou outro endereço eletrônico moldado para dar vazão à covardia contra um jornalista comprometido com a verdade não merece outro destino senão a gênese com que foi concebido: a lata de lixo eletrônica.


 


Retrato bem-acabado


 


Ainda no último sábado, na coluna semanal que assina na Folha de S. Paulo, o escritor e cineasta cubano Leonardo Padura discorreu sobre a profissão de jornalista, da qual também faz parte. Um retrato fidelíssimo da situação atual que envolve a maioria da categoria. Entre os muitos trechos do artigo, Pandura escreve:


 


 E ainda há quem pergunte sobre as razões do estado calamitoso do jornalismo em nível universal? Se o que acontece no México pode ser visto como caso extremo (de assassinatos de jornalistas em escala industrial), em muitos outros países do mundo os jornalistas vivem em estado de risco físico ou profissional, pressionados pelas esferas de decisão política, econômica ou editorial que não querem de modo algum que exista um jornalismo com função informativa e cívica, como a que se supõe que deve ter esse quarto poder. Porque se no México se assassinam os profissionais incômodos, em outros lugares busca-se modos de silenciá-los, ou melhor, de utilizá-los. As dissidências são castigadas das mais diversas maneiras, e muitos profissionais dos meios de comunicação já aprenderam a lição muito bem. Resultado: a superficialidade nas análises e o servilismo do poder público, que tomou conta de grande parte do trabalho informativo. Por isso, fica cada vez mais evidente a improvisação e a falta de profissionalismo de muitos dos que vivem do exercício do jornalismo. Seus salários são cada vez menos atraentes, e as redações se enchem cada vez mais de jovens pouco preparados, que precisam ganhar o pão e não buscar complicações para suas vidas. Em lugares onde se fala com orgulho da liberdade de expressão e dos direitos humanos, matam-se moralmente os profissionais da imprensa com as pressões políticas, econômicas e editoriais que eles precisam acatar. Ou buscar outro trabalho – escreveu Padura.


 


Morrendo de medo


 


Aqueles que eventualmente acreditam que este jornalista esteja morrendo de medo porque um quadrilheiro milionário quer retirá-lo de circulação a todo custo, aqueles que acreditam nessa balela precisam entender uma coisa: quanto mais sofro hostilidades, restrições, perseguições e tudo o mais, mais estou decidido a ir adiante. 


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