Os empresários que lideraram a manifestação Reage ABC na última quinta-feira em Santo André contra a política econômica do governo federal e de ramificações públicas locais estão se virando nos 30 para encaminhamento que os retire da pecha de oportunistas políticos travestidos de desesperados econômicos. Não vou chegar a afirmar que eles estão aprisionados numa cela sem ventilação à possibilidade de dar a volta por cima, mas convenhamos que respiram por aparelhos.
Se não oferecerem nesta segunda-feira de manhã ao comando do Clube dos Prefeitos do Grande ABC e da Agência de Desenvolvimento Regional um documento substancioso sobre o que pretendem em forma de iniciativas para evitar que a degringolada da indústria local ganhe mais impulso ainda, as lideranças do movimento que levou 300 pessoas às ruas de Santo André serão chamadas não só de oportunistas políticos como também de especuladores partidários.
Eles estão encalacrados porque não esperavam por reação tão imediata e firme de representantes dos organismos regionais desta Província.
Embora essas lideranças trabalhem em silêncio e também longe da mídia, numa ação talvez proposital porque não teriam muito que falar, certo é que estão se virando para não serem surpreendidos de calças curtas de improvisação.
Contragolpe desafiador
O encontro com líderes do Clube dos Prefeitos e da Agência Regional deveria ser realizado na última segunda-feira, mas os empresários foram colhidos no contrapé: quando saíram às ruas e desembocaram na sede das duas entidades, eles não imaginavam que seriam recebidos pelo prefeito do Clube dos Prefeitos, Gabriel Maranhão, e pelo secretário-executivo da Agência, Giovanni Rocco que, imediatamente, programaram o encontro para definição de uma pauta consensual quatro dias depois.
Por não contarem -- segundo a versão defensivista -- com disponibilidade de tempo na última segunda-feira, os dirigentes empresariais solicitaram a remarcação da reunião para a próxima segunda-feira. Foram atendidos. Agora estão mergulhados em consultas para saber o que vão fazer com o mico de terem de apresentar propostas.
Se levaram um contragolpe delicadíssimo da Agência e do Clube dos Prefeitos, quem sabe, se bem preparados, ofereçam espetáculo de tréplica que contribua para minimizar os estragos históricos na economia regional?
Como não fui chamado e tampouco sou lembrado por essas lideranças a apresentar algum tipo de contribuição (embora o acervo desta revista digital reúna muita coisa qualificada), não vou desfilar sugestões que poderiam ajudar a construir a agenda. Entretanto, como sou metido a besta mesmo, porque poucos pensam a Província com sentido de regionalidade sem idolatria, egocentrismo, partidarismo e ideologia como este jornalista, tomo a liberdade de fazer algumas observações do alto da experiência de dezenas de anos na região.
Sem enrolação
Para que o documento a ser entregue ao Clube dos Prefeitos e à Agência Regional não seja peça onírica a flertar com o improvável, recomendo aos líderes do Reage ABC que tratem os pontos a serem elencados de forma sucinta, sintética, e factível. Nada de firulas, portanto. Quanto maior o nível de probabilidade de sucesso de execução das propostas, menos transparecerá improviso, correria e desespero na formulação da agenda regional.
O mais importante mesmo é definir o que chamaria de critérios cronológicos que permeariam a agenda econômica. Entenda-se por critérios cronológicos distinguir as propostas factíveis nos campos de resoluções imediatas, resoluções de médio prazo e resoluções de longo prazo. Sem respostas para já, aqui e agora, o restante virará pó. E sem o meio termo do amanhã e também do depois do amanhã, se perderá a perspectiva de planejamento indispensável.
Definidos os conceitos de iniciativas que poderão ser alcançadas no curto, no médio e também no longo prazo, o passo seguinte é encaixar as demandas nesses compartimentos.
Ações múltiplas
Mas não só isso: ao contrário do que fizeram crer os líderes do Reage ABC, que praticamente ignoraram o governo do Estado no manifesto mequetrefe entregue ao comando da Agência e do Clube dos Prefeitos, as quatro esferas de governo precisam ser contempladas nas demandas: além de cada uma das prefeituras, do governo do Estado e do governo federal, também o conjunto dos paços municipais da região obrigatoriamente devem constar da fornada de medidas.
Para ser mais didático: as iniciativas que pretendam alcançar sucesso em âmbito municipal devem estar separadas das iniciativas de cunho estadual e também de cunho federal, bem como das propostas de cunho regional. Uma quinta matriz de compartimentação, seguindo o conceito de temporalidades, deveria ser reservada às ações que envolvam todos ou parte dos entes públicos. Há demandas que dependem exclusivamente de cada Município, outras somente do governo do Estado, uma terceira apenas do governo federal e uma quarta de todas ou várias prefeituras da região. Mas também há pautas que entrelaçam interesses e dependências sincronizadas entre duas ou mais instâncias federativas.
Não se pode, em nome da regionalidade implícita do movimento Reage ABC, negar que há questões municipais a serem demandadas e que dependem exclusivamente do prefeito de plantão. Da mesma forma há questões que envolvam mais de um e até mesmo os sete prefeitos da região, os quais deverão recepcionar as propostas. O governo do Estado tem obrigações a cumprir com a região e também, acredito, uma série de proposições municipais e regionais da Província que não podem ser subestimadas. A recíproca é verdadeira em se tratando do governo federal.
Mais colaboradores
Notaram os leitores que sem qualquer espécie de empáfia, porque já não tenho mais idade e saco para tanto, estou dando uma colaboração intelectual que não pode ser menosprezada? Diria mais: como sou um voluntário a serviço da boa causa, não recusaria jamais qualquer medida que tenha como desenlace coletar série de iniciativas. Estou há tanto tempo na região que não posso bancar o hipócrita ao afirmar que há muita gente mais qualificada a prestar colaboração às lideranças. Há sim muita gente qualificada que poderia reforçar a turma que pretende ver esta Província longe das páginas de obituário econômico.
Então ficamos assim: preparem uma planilha com demandas imediatas, de médio prazo e de longe prazo para cada instância de governo – municipal, regional, estadual e federal. Simples, não? Façam bem feitinho, ajam com o máximo de pragmatismo, não vendam ilusões e tudo ficará mais ao gosto do freguês, no caso a população da região que sofre há décadas com a ausência de integração entre os mais diferentes setores econômicos, públicos e sociais.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)