Imprensa

Dinheiro da corrupção pode ajudar
a salvar futuro de jornais impressos

DANIEL LIMA - 24/08/2015

Já imaginaram jornais impressos premiados, e bem premiados, por denunciarem corrupção em organismos públicos? Se não imaginaram, eu imaginei. Tanto imaginei que vou reproduzir na edição de amanhã, terça-feira, Entrevista Especial à Revista República, com circulação na região. República é uma publicação bem acabada, com bons textos e vários profissionais de comunicação que reforçariam veículos mais tradicionais e fortes.


 


A entrevista que concedi há perto de 40 dias e que agora ganhou as ruas com uma chamada de capa daquela publicação surpreendeu a mim mesmo: formulei uma proposta de financiamento de jornais que jamais passara pela minha cabeça.


 


Mas quem disse que tudo não passa de acidente quando o cérebro nos acorda com uma grande ideia? Somos resultado de nossas leituras, de nossas observações, de nossos desafios. Se pensamos bobagens, colhemos bobagens. Se pensamos soluções, colhemos encaminhamentos às soluções.


 


Viabilidade fiscal


 


Não vou entrar em detalhes sobre a proposta que formulei e que precisa de aperfeiçoamentos principalmente jurídicos. Acho que a viabilidade fiscal da premiação com base numa ofensiva jornalística contra os corruptos que infestam o País pode ser aplicada em nível municipal, estadual e federal. Portanto, contemplaria a Província do Grande ABC, espaço reservadíssimo a safadezas. O que chamo de “reportagem premiada” é algo semelhante, apenas como ilustração da proposta, à delação premiada. Seremos nós, jornalistas, e os veículos de comunicação, beneficiados não com a redução de penas, porque não cometemos crime algum, mas com a destinação de parte dos recursos recuperados pelo Estado em suas três esferas.


 


Dinheiro recuperado é dinheiro que estava jogado às traças, é dinheiro que não se inclui nas restrições da Lei de Responsabilidade Fiscal. Dinheiro recuperado é dinheiro roubado numa infinidade de intervenções de gente espertíssima.


 


Lá fora, no Primeiro Mundo, há fundações privadas que estão a socorrer e a potencializar veículos de comunicação que vivem situação dramática. O dinheiro tem como origem doadores eméritos. Gente sem proselitismos como falsos benemerentes endinheirados que falam em nome de criancinhas abandonadas, de criancinhas órfãs, de idosos, de deficientes físicos, dessas coisas todas. Quando digo doadores eméritos, portanto, não estou me referindo a marginais que se fazem de filantropos para enganar o distinto público.


 


Filantropia e pilantropia


 


Como temos quase ninguém com espírito de solidariedade à importância social do jornalismo independente no País, deixei de lado qualquer iniciativa de esperar por pilantropos e fui direto ao objetivo explicitamente determinado: juntar a fome da queda brutal de receitas dos veículos impressos -- cada vez mais sob o domínio de entornos de bandidos que pretendem impedir a revelação dos podres que carregam -- com a fome de comer de contribuir com as finanças públicas, de municípios, Estados e União. Todos vítimas de servidores públicos, comissionados e o gigantesco exército de empresários inescrupulosos que se refestelam com mútua proximidade delituosa, típica de sexo consensual, não de estrupo.


 


O jornalismo premiado, portanto, mataria três coelhos com apenas uma cajadada: o coelho de fortalecer o caixa das empresas de comunicação, o coelho de desbaratar quadrilhas organizadas nas instâncias públicas e o coelho de elevar as receitas tributárias dos entes federativos saqueados por esquemas que vão muito além do que se encontrou na Petrobras.


 


Então, ficamos assim: esperem até amanhã pela transposição da entrevista que a Revista República fez com este jornalista. Ou, se estiverem com pressa, dirijam-se aos pontos comerciais mais disputados da região porque, certamente, um exemplar estará à espera. Se não gostarem da entrevista, tenham certeza de que aprovarão grande parte das demais páginas daquela edição. Palavra de quem conhece como fazer revista. Quem diria que o dinheiro da corrupção é o melhor caminho para salvar os jornais impressos e também para combater a fonte dessas receitas.


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