Quer uma sugestão à indignação? Quer ver o outro lado da moeda da economia da região -- um outro lado que não seja o lado surrado das grandes montadoras, dos sindicalistas, dessas coisas que diariamente encontramos em noticiários geralmente viciados? Pois então assistam a mais nova edição do programa Diálogo Aberto, que apresento na emissora de televisão do Diário do Grande ABC na Internet. Fausto Cestari e Emanuel Teixeira, pequenos industriais de Santo André, dirigentes do Ciesp e líderes, entre outros, do movimento que levou 300 representantes do empresariado às ruas de Santo André ainda outro dia, abastecem a curiosidade de quem tem paixão pela região.
Os dois empresários cobram atuação mais responsável do Clube dos Prefeitos, como denomino o Consórcio Intermunicipal de Prefeitos. Será que vão sensibilizar essa turma de folgados?
Quando digo que os prefeitos da região formam uma turma de folgados, quero dizer mais ou menos o seguinte: eles detestam colocar a mão na massa quando se trata de aproximarem-se dos representantes empresariais, exceto para buscar um certo verniz de atualização ideológica. Preferem, portanto, delegar a terceiros, geralmente secretários de desenvolvimento econômico sem recursos e sem grandes ideias factíveis, a tarefa de provar que há preocupação com o setor produtivo.
Silêncio dos acomodados
Os dois representantes dos 300 manifestantes que saíram às ruas em Santo André contaram ao Diálogo Aberto que encontram dificuldades para viabilizar agenda de resultados com os chefes de Executivos. E como os chefes de Executivos têm a guarida da Imprensa regional quando o assunto é economia -- se não de forma deliberada pelo menos pela omissão -- a resposta que Fausto Cestari e Emanuel Teixeira, entre outros, estão encontrando é um silêncio aterrador.
Mais que isso: Fausto Cestari, que também atua como vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), declarou durante o Diálogo Aberto que prefeitos chegam a afirmar que não existe crise econômica na região. Pode? Possivelmente eles podem. Quando a alienação ao conjunto da sociedade é o contraponto aos olhos postos na política pela política, tudo pode acontecer.
Sem juízo de valor sobre o apresentador do Diálogo Aberto – eu mesmo em carne e osso, além de certa irreverência indispensável como metodologia de trabalho – o que registramos durante uma hora de entrevista é um apanhado espetacular sobre a economia da região. Principalmente porque desmistifica a ideia dos ultrapassados de que os empresários industriais são um bando de sanguessugas. Quem conhece o histórico de obituários e de evasões do setor industrial da região há de reconhecer que, mais e mais, está praticamente impossível empreender. Quem não conhece o histórico deveria se atualizar para não falar bobagem.
Garrafa de inconformismo
Não estou aqui como aborrecente tardio para contar o desfecho do filme que alguém disse estar disposto a assistir. Ou seja: não vou relatar detalhes do Diálogo Aberto, porque não o fiz em edições anteriores. Estou apenas e simplesmente tentando provocar o potencial de audiência não em proveito próprio, porque sou apenas figurante do programa. Protagonistas são os personagens da vida econômica e social da região que têm garrafa cheia para vender. Garrafa cheia de inconformismo.
Somos um bicho de sete cabeças que age como cobra cega. Fausto Cestari e Emanuel Teixeira colocam o dedo em muitas de nossas feridas. Quando o Clube dos Prefeitos vai reagir? Será que nem como instinto de sobrevivência os sete prefeitos farão um movimento coletivo para dialogar com representantes da sociedade produtiva?
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)