Depois da saída de Lula da Silva com a febre consumista a qualquer custo, a capital econômica da Província do Grande ABC sofre mais duramente as dores de um País
Esta é a primeira de uma nova série de matérias que estou preparando para renovar o guarda-roupa de complicações econômicas da região. Um guarda-roupa senão de farrapos, porque a região não se empobreceu inexoravelmente, mas de peças usadas à exaustão e, por isso mesmo, fora de moda. Fora da moda da modernidade produtiva.
Uma Mauá de recuo
Para que mantivesse no ano passado o nível de produção de riqueza do último dos oito anos do presidente Lula da Silva, São Bernardo teria de ter somado em 2014 o total de R$ 39,107 bilhões de valor adicionado. O montante está corrigido pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) adotado também na definição do PIB. Os originais R$ 30,593 bilhões registrados em 2010 com Lula da Silva viraram R$ 39,107 bilhões quando atualizados pela inflação. Mas São Bernardo alcançou em dezembro do ano passado somente R$ 31,555 bilhões, com Dilma Rousseff de presidente. Uma diferença ponta a ponta de R$ 7,551 bilhões.
O tamanho da encrenca representada pela diferença entre o que Lula da Silva deixou como herança e o que Dilma Rousseff registrou no quarto ano do primeiro mandato equivale -- levando-se em conta sempre a comparação ponta a ponta -- praticamente tudo o que Mauá registrou de geração de riqueza no ano passado, R$7,934 bilhões. Ou seja: entre um ponto e outro na comparação desses dados oficiais divulgados em forma bruta pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, São Bernardo perdeu uma Mauá de transformação industrial.
Como a situação de São Bernardo não é exceção à regra na Província do Grande ABC, o recado que deve ser dado mais uma vez às lideranças políticas e econômicas não pode ser minimizado em termos de impacto: já passou da hora de se mexerem para valer. Os anos dourados, embora viciados, de Lula da Silva, não resgataram estruturalmente a força industrial da Província do Grande ABC. Pior que isso: ante a avalanche de competidores no setor automotivo, a tendência é de declínio contínuo dos indicadores de produção de riqueza.
Lula da Silva foi apenas um intervalo movido pelo Viagra consumista que elegeu a indústria automotiva como um dos principais polos de ascensão social provisória. Com Dilma Rousseff caímos na real depois de uma etapa de esticamento forçado dos mecanismos de consumo. O acerto de contas desta temporada dá a dimensão dos exageros do passado. Quem imaginar que os dados desta temporada de carne de pescoço serão semelhantes aos do ano passado provavelmente não sabe distinguir ressaca de enfermidade.
Cruzamento inquietante
Quando se cruzam os dados do valor adicionado com a produção automotiva brasileira, a situação de São Bernardo e também da Província do Grande ABC parece ainda mais devastadora. Seria coerente imaginar que a quebra de quase 20% da geração de riqueza de São Bernardo entre 2010 e 2014 seguisse o ritmo do movimento das pedras do setor automotivo, mas não foi isso o que ocorreu. A queda da capital econômica da região é maior. Em 2010, o setor automotivo produziu 3,381 milhões de veículos. Nessa contabilidade entram veículos de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões.
Já em
Traduzindo a equação: o setor industrial da região, que pesa prevalecentemente na geração de riqueza em forma de valor adicionado, sofre de contínuo enfraquecimento. Estamos perdendo mais e mais capacidade de competir com outras geografias nacionais. Reunimos uma conjugação de inconformidades que, no passado de pouca atenção à produtividade, eram desprezadas por especialistas
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?