A produção de riqueza na Província do Grande ABC, medida pelo Valor Adicionado, espécie de PIB (Produto Interno Bruto) sem impostos, ficou praticamente congelada desde o lançamento do Plano Real, que completou 20 anos em 2014. Entretanto, os quatro anos do primeiro mandato de Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014, se notabilizaram por ser piores que os oito anos de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002. Entre os dois governos, salvou-se em números Lula da Silva, com crescimento avantajado, principalmente porque anabolizado por recursos gerados pela comercialização de commodities. Mas a farra de gastos de Lula da Silva atingiu Dilma Rousseff em cheio. Os preços internacionais de matérias-primas, principalmente agrícolas, sofreram forte retração e a presidente eleita em 2010 demorou demais para perceber que o caixa federal estava estourando. Deu no que deu, ou no que está dando: o País em crise politica, econômica e social.
Este é mais um levantamento inédito desta revista digital. O trabalho integra o corolário de iniciativas desta publicação que tem a gênese de LivreMercardo, dirigida por este jornalista durante duas décadas e que, entre os focos editoriais que a transformaram na melhor revista regional do País, está a medição da temperatura da economia da região, sempre em contraponto com outras áreas principalmente do Estado de São Paulo.
Abaixo dos concorrentes
Nos quatro anos de Dilma Rousseff a Província do Grande ABC perdeu 2,80% de Valor Adicionado em média ao ano. Um resultado negativamente superior ao registrado durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso, quando se perdeu em média por ano 2,2%. Com Lula da Silva e a febre consumista, combinada com novas camadas de desindustrialização de um País que perdeu a corrida pela competitividade internacional, houve crescimento anual de 6,59% na Província. Nada mais que um anabolizante de efeito precário.
Quando se traça linha do tempo entre a base de janeiro de 1995 e dezembro de 2014 à mensuração do Valor Adicionado da região, o resultado é discretíssimo: houve crescimento de 15,21% -- desprezível média anual de 0, 76%. Muito menos que, no mesmo período, registraram as três principais sedes de metrópoles do Interior do Estado: Campinas avançou 72,37%, o que significa 3,62% ao ano (nove vezes mais que a Província); São José dos Campos cresceu 60,87%, o que resulta em 3,04% ao ano (7,5 vezes mais que a região); e Sorocaba, que cresceu 178,63%, ou 11,19% ao ano (9,3 vezes mais que a região).
O alongamento da crise produtiva na Província do Grande ABC, interrompida durante o governo Lula da Silva, não está vinculado a eventual desarranjo na Região Metropolitana de São Paulo. Uma prova disso é que Guarulhos, também colada à Capital, avançou em 20 anos nada menos que 70,29% em Valor Adicionado, o que significa média de crescimento anual de 3,5% -- (quase oito vezes mais que a região).
Com FHC, menos 2,22% ao ano
Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência do Brasil em janeiro de 1995 o Valor Adicionado da Província do Grande ABC registrava, no fechamento da temporada anterior, R$ 16,032 bilhões. Quando FHC deixou a presidência, em dezembro de 2002, o Valor Adicionado contabilizava R$ 26,441 bilhões.
A atualização do Valor Adicionado da base de comparação, em dezembro de 1994, alça aqueles valores monetários a R$ 32,173 bilhões pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), utilizado pelo governo federal como indexador do PIB. Fazendo-se as contas, a perda entre um ponto e outro da pesquisa alcançou 17,81%, ou 2,22% ao ano. Se a atualização monetária levar em conta a variação inflacionária pelo IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado), da Fundação Getúlio Vargas, o estrago é bem maior. Ao longo dos tempos adotamos o IGPM, mas decidimos mudar para o medidor do PIB.
Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência da República em janeiro de 1995 já a bordo do Plano Real, o qual comandou como Ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, no ano anterior. O Brasil passou por série de sacolejadas por causa de mudanças culturais ditadas pela estabilização econômica.
A perda acumulada do Valor Adicionado na região foi resultado direto do esquartejamento industrial que atingiu principalmente pequenas empresas de autopeças -- sobretudo por causa do câmbio valorizado e da política de proteção das montadoras, que desprezou a cadeia produtiva do setor em favor de autopeças internacionais.
No ano imediatamente anterior à posse de FHC o Brasil produziu 1.380 milhão de veículos de passeios, comerciais leves, ônibus e caminhões. Quando deixou a presidência, oito anos depois, registrou-se produção de 1.633 veículos. Uma diferença de 24,29%. O setor automotivo é o coração do dinamismo econômico da Província do Grande ABC. O crescimento médio de 3,03% ao ano da industrialização automotiva durante o governo FHC seria risível ao final dos oito anos do governo Lula da Silva, que incentivou o consumo de bens e serviços.
Com Lula, mais 3,93% ao ano
Com Lula da Silva o Valor Adicionado da Província do Grande ABC cresceu 6,59% em média ao ano. Os R$ 26,441 bilhões nominais deixados por Fernando Henrique Cardoso ao final de 2002 viraram com Lula da Silva R$ 60.4602 bilhões, em valores corrigidos, em dezembro de 2010. Uma variação de 52,72% no período, sempre considerando a atualização dos respectivos valores pelo IPCA. Daí, o resultado de crescimento anual médio de 3,93%.
A indústria automotiva registrou em 2010, último ano do governo Lula da Silva, 3,406 milhões de veículos produzidos. Uma variação de 108,48% em relação à base deixada por Fernando Henrique Cardoso. Ou seja: no último ano do governo Lula da Silva o Brasil entregou o dobro de veículos do último ano de Fernando Henrique Cardoso.
É claro que a Província do Grande ABC surfou nessa onda, apesar de ter perdido posição relativa no bolo nacional. Traduzindo: embora a indústria automotiva tenha dobrado de tamanho entre as duas pontas do período governado por Lula da Silva, a região que forjou o presidente da República não marchou na mesma velocidade. Houve ganhos absolutos, de maior produção de unidades, mas a queda na participação nacional se avolumou. Faltam dados oficiais sobre a incidência de produção de veículos na região em relação ao País como um todo.
Dados anunciados extraoficialmente pelo Clube das Montadoras (Anfavea) teriam registrado 16% de produção nacional das montadoras locais no ano passado. A participação relativa chegou a mais de 80% nos anos 1970 e baixou seguidamente ao longo dos tempos.
Com Dilma, menos 2,80% ao ano
Os números sobre os quatro anos de Dilma Rousseff são perturbadores e serão ainda mais catastróficos quando forem contabilizados os dados deste ano, com desabamento da indústria automotiva. Nos quatro anos do primeiro mandato Dilma Rousseff acumulou 11,20 % de queda do Valor Adicionado, sempre comparando os dados do primeiro aos do último ano do período. A perda resulta de enfraquecimento médio anual de 2,80%, superando, portanto, os 2,22% de Fernando Henrique Cardoso.
O Valor Adicionado deixado por Lula da Silva em 2010 registrou R$ 64,6 bilhões que, quando corrigidos pelo IPCA do período de quatro anos do mandato de Dilma Rousseff, chegam a R$ 82,581 bilhões. A diferença de 11,20 % para baixo é que o Valor Adicionado de 2014, que está na conta da presidente da República, não passa de 73.379 bilhões. A indústria automotiva registrou queda de 7,2% durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff: foram 3,406 milhões de veículos produzidos em 2010 e 3,146 milhões no ano passado.
A produção deste ano agravará ainda mais o déficit quando comparado à herança consumista de Lula da Silva. Mais que isso: há enorme possibilidade de que o primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff zere o medíocre crescimento do Valor Adicionado registrado entre 1994 e 2014. O crescimento médio anual inferior a 1% possivelmente será dissolvido. A Província do Grande ABC está em nova fase de apuros. Entre outras consequências da queda do Valor Adicionado, é compulsório o rebaixamento de repasses de alíquotas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) pelo governo do Estado. O Valor Adicionado tem peso de 76% na distribuição de recursos aos municípios.
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