Estou com o prefeito petista Fernando Haddad e não abro: o trânsito em São Paulo precisa mesmo de restrições de velocidade em pontos cruciais como nas Marginais do Tietê e do Pinheiros. Entretanto, é preciso também que a comunicação com a sociedade não seja uma bagunça a ponto de possibilitar intervenção demagógica e marqueteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) da Capital.
O jornal Estadão de hoje dá show de competência que sistematicamente falta à mídia regional quando se trata de avançar no noticiário sobre mobilidade urbana. Sob o título “CET diz que lentidão cai 6% com 50km/h em São Paulo; especialistas culpam crise”, a reportagem não deixa margem a dúvidas. Ouve especialistas, usuários, dirigentes públicos e tudo o mais.
A vitalidade do texto exclui a informação do terreno político-partidário, espaço ideológico que jornais de centro-direita e de centro-esquerda frequentam em detrimento da credibilidade.
Reproduzo vários trechos da matéria do Estadão para que os leitores tenham a compreensão dos fatos:
Dois meses após a mudança nos limites de velocidade nas Marginais (...) dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostram queda de 36% nos acidentes com vítimas – mortas e feridas – nas duas vias expressas. Houve redução nos índices de congestionamento tanto nas Marginais (8%) quanto na cidade como um todo (6%). Especialistas alertam, porém, que a redução pode estar ligada à crise econômica. Segundo eles, com o desaquecimento da economia, parte da frota deixou de circular nas ruas da cidade. Já a gestão Fernando Haddad (PT) atribui os dados à política de redução dos limites de velocidade, para o padrão de 50km/h, adotado há oito semanas. (...) Como esses corredores respondem por cerca de um terço dos congestionamentos da Capital, os reflexos foram sentidos no restante da cidade, segundo a Prefeitura. (...) Já para o gerente de infraestrutura Sandro Aparecido, de 42, a redução melhorou “bastante” o tráfego das Marginais e diminuiu os acidentes. “Passei a ficar, por dia, meia hora a menos parado no trânsito”. (...) Técnicos ouvidos pelo Estado ainda fazem ressalvas à relação direta entre a política da gestão Haddad e os números observados pela CET. “Sem dados sobre o volume do tráfego, a quantidade de carros percorrendo as vias, não é possível concluir que a redução das velocidades seja o único fator para se chegar nesse resultado”, explica o professor de engenharia de trânsito Creso de Franco Peixoto, da Fundação Educacional Inaciana (FEI). “Do ano passado para cá, entramos em um período de resfriamento da atividade econômica, o que resulta em menos viagens e, como consequência, volume menor de veículos”, afirma.
Experiência frustrante
Na Província do Grande ABC a experiência mais badalada de mobilidade urbana foi anunciada pelo prefeito Carlos Grana a reboque da ação bem articulada de Fernando Haddad, na Capital. O então secretário da pasta responsável pela atividade, Paulinho Serra, deixou o cargo recentemente sem prestar contas daquele experimento. E os jornais, impressos e digitais, fingiram-se de mortos: nem se deram ao trabalho de escrutinarem os resultados.
Sei, como usuário de veículo que passa com certa frequência por várias das rotas definidas como faixas de ônibus geradas por Paulinho Serra, que a iniciativa não se efetivou para valer. Primeiro, porque Santo André não comporta nada que lembre corredores e as faixas de ônibus da Capital. Segundo, porque não havia quadros de fiscalização. Fez-se, portanto, muita fumaça com resultados indigentes.
Desde os tempos do prefeito Celso Daniel defendo a adoção de medidas drásticas no trânsito de Santo André. Cheguei a editar uma Reportagem de Capa na revista LivreMercado (veja link) sobre o assunto, enquanto as demais mídias preferiram jogar pesado e desclassificar aquela iniciativa petista. “Indústria da multa” virou mote para pressionar Celso Daniel a recuar, juntamente com o então secretário da pasta, Klinger Souza. Tudo muito bem concatenado para esticar indefinidamente um estado de criminalidade sobre rodas que colocava em risco milhares de motoristas.
Medidas providenciais
Quem tiver a curiosidade de ir ao passado e recolher as estatísticas sobre o número de mortos no trânsito de Santo André antes das medidas corajosamente aplicadas pela equipe de Celso Daniel, e quem comparar aqueles números com o que temos nestes tempos (sem esquecer-se de confrontar as respectivas frotas circulantes), ficará chocado com as transformações. O trânsito da região é muito mais civilizado porque os motoristas sabem que pagarão caro se tentarem transformar ruas e avenidas em pistas de corrida.
Não escrevi sobre as medidas civilizatórias sobre acidentes de trânsito em São Paulo quando anunciadas pelo prefeito Fernando Haddad porque a preferência de meus artigos concentra-se na Província do Grande ABC. Entretanto, sabia que mais dia menos dia teria de recorrer aos resultados que acabariam por ser anunciados.
Se é verdade – e uma verdade de grande influência no resultado apresentado – que há redução forte no que chamaria de volumetria de veículos nas Marginais do Tietê e do Pinheiros, além de outros pontos igualmente alvos da política de mobilidade urbana do prefeito paulistano, o que mais importa mesmo em qualquer circunstâncias é que menos gente sofrerá as consequências de, principalmente, bandidos ao volante.
Se até mesmo houver deseconomia de escala, ou seja, perda de velocidade média, já terá valido a pena se vidas forem salvas em qualquer proporção quando confrontadas com o passado de liberdade para ultrapassar os limites do bom senso ao volante.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)