Este é o primeiro capítulo (mais explicativo que técnico-editorial) de uma série de análises sobre a economia de São Bernardo, cujos resultados reverberam intensamente em vetores sociais e também se espraiam ao conjunto dos municípios da Província do Grande ABC. Inspirei-me na baboseira instrumentalizada por sindicalistas que, interesseiros ao longo do tempo, propagam agora supostos efeitos miraculosos do PPE (Programa de Proteção ao Emprego) como suprassumo de sustentabilidade da economia da região. Para variar, a esqualidez crítica do jornalismo regional em todas as plataformas tecnológicas, inclusive as convencionais, abre espaços a conjecturas descoladas da realidade.
Vou deixar claro nesta série que não sei até que ponto vai se estender -- não faltarão dados a fomentar as observações -- que o modelo econômico de São Bernardo, dependente de sindicalismo forte e partidarizado a reboque do crescimento do Partido dos Trabalhadores -- agora em estado de convulsão ética, moral e programática -- já se exauriu há muito tempo. Paliativos como o PPE apenas mascaram os resultados históricos preocupantes.
Espero que essa nova fornada de análises (tantas outras estão caracterizadas pela insistência no tempo, embora não tenham numeração como esta) provoque algum tipo de reação na sociedade, principalmente a partir de um olhar menos condescendente dos veículos de informação da região – absolutamente todos, todos e todos – que não detectam um tiquinho sequer das consequências desastrosas do ambiente econômico-político-sindical em São Bernardo. Se os passivos são maiores em São Bernardo, os estilhaços atingem aos demais municípios.
Enganação coletiva
Nada me irrita mais que o aplauso editorial fácil com que a mídia regional, e também nacional, incensa com reportagens relatoriais, um sindicalismo que não evoluiu no tempo e que, por isso mesmo, se mantém aferrado a dogmas, clichês, fanfarronices e tudo o mais. Tudo isso se traduz em mesmice irritante a cada temporada. É um me-engana-que-eu-gosto sem fim.
Convém lembrar, entretanto, porque sempre há maledicentes e desinformados, que esta série de análises sobre a economia da Capital da Província do Grande ABC não é um libelo contra dirigentes sindicais de trabalhadores. Entretanto, por conta da conjunção política, econômica e sindical, não há como descartar a influência avantajada desses setores da sociedade no desastre configurado. Não restará pedra sobre pedra, também, quando fizer um inventário dos demais agentes econômicos, da classe política, da sociedade em geral. Ninguém está a salvo dessa derrocada mais que previsível, porque dimensionada lá atrás.
São Bernardo é um retrato mais duro e mais ácido da economia da região. Justamente porque conta com interferência direta dos sindicatos de trabalhadores, notadamente do setor metalúrgico. Mas os demais municípios não estão a salvo de comprovações técnicas de que seguem no vácuo destrutivo de São Bernardo. Só mesmo municipalistas estúpidos diriam que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa; ou seja, que cada Município tem sua realidade que, por sua vez, não tem nada a ver com a realidade do vizinho, ou dos vizinhos.
Desastre consumado
A série de análises pretende chamar a atenção para um desastre anunciado que se agrava a cada ano. Não há forças de sensatez e independência crítica para acabar com a farra de quem não tem compromisso com o futuro. Joga-se um jogo sórdido de procrastinação de planos e medidas que alinhem esta Província aos endereços mais competitivos do País. Consideramos que somos o modelo mais bem acabado de produtividade – eis uma palavra praticamente enxotada do debate econômico regional. Isso mesmo: produtividade é palavrão que jamais deve ser pronunciado em qualquer debate econômico-sindical, porque faz mal a saúde do corporativismo mais atrasado do País no setor de transformação industrial.
Provavelmente o prefeito Luiz Marinho vai se anunciar perseguido porque ele sabe que uma parcela considerável da situação em que vive São Bernardo se deve diretamente às ineficiências do modelo sindical que ajudou a consolidar e também do modelo de gestão pública do qual é elemento fortemente influente.
Ex-menino de ouro do então pretendente ao cargo de presidente da República, Lula da Silva, Luiz Marinho tem o tamanho de um caminhão de frustração como liderança projetada com capacidade resolutiva. Como está sempre à procura de um bode expiatório ideológico para safar-se dos problemas não só de São Bernardo, mas também da gestão petista federal, Luiz Marinho cairá do cavalo da previsibilidade nesta série de matérias. A abordagem vai se estruturar em estudos e em dados inquestionáveis. Nada de subjetividades. Nada pior, portanto, a um prefeito que ainda não se desfez das vestes culturais de sindicalista, ou seja, de alguém que só enxerga o mundo sob a ótica do corporativismo trabalhista que, por sua vez, é escravo de um centro-esquerdismo fora de moda no mundo moderno.
Século de perdas
O mais grave na trajetória de decadência de São Bernardo é que nem mesmo durante os 12 anos de domínio federal de Lula da Silva, filho trabalhista e político da terra, houve convergência de interesses regionais, além do politiquismo aplicado à exaustão, para o redirecionamento factível, viável, não ufanístico, da economia regional.
Chegamos ao ponto, vejam só, de os indicadores econômicos apontarem que os quatro anos do primeiro mandato de Dilma Rousseff foram mais sofríveis que a média dos oito anos de Fernando Henrique Cardoso. No intervalo, Lula da Silva e a demagogia de uma política de proteção social e de consumismo desenfreado, só douraram a pílula.
As novas temporadas serão dolorosas para a região. Quando Dilma Rousseff completar o segundo mandato – se completar – os números gerais dos 16 anos de governos petistas em Brasília poderão superar a catástrofe deixada por Fernando Henrique Cardoso. Ou seja: quem imaginou que o pior dos mundos teria se encerrado em 2002, no último ano do segundo mandato do tucano, desprezou o poder dilacerador do petismo misturado com cutismo. São Bernardo, acreditem, é um caso praticamente perdido de desenvolvimento econômico convergente com os novos tempos de qualidade de vida. O mais dramático é que os demais municípios da região, à sombra da Capital Econômica, não resistirão também. Aliás, como não têm resistido.
Como nos anos 1990 e nos anos 2000, faço a seguinte pergunta às demais mídias da região: quando vão acordar para entender que a subjugação às fontes de financiamento de seus negócios tem tudo a ver com o desastre econômico anunciado, reprisado, enfatizado e repetido, cuja origem simbólica e material está centrada em São Bernardo?
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