É só esperar alguns dias para a confirmação implacável do agravamento de um novo enredo da economia da Província do Grande ABC. Quando o Ministério do Trabalho e Emprego anunciar os números de demissões no País em agosto, vai se acentuar um desastre regional: vamos somar mais e mais baixas nos setores de comércio e serviços nos últimos 12 meses.
Essas nova realidade dinamita sequência de duas décadas de um até certo ponto consolador descasamento: a perda de emprego industrial não se refletia nos dois setores -- que formam o terciário -- porque havia migração da mão de obra àquelas atividades. Era uma Província que amenizava mergulhos industriais com o salto triplo de empreendimentos comerciais e de serviços, demandantes de mão de obra.
Agora, entretanto, como a crise econômica da Província é sistêmica, contaminadora, e já não existe mais a banda larga ou mesmo estreita de fôlego de áreas complementares, como serviços e comércio, a realidade econômica tornou-se muito mais crítica.
Os anos da presidente Dilma Rousseff não têm sido saudáveis para a economia da Província do Grande ABC, como mostramos em várias matérias e seguiremos a mostrar nos próximos tempos. A perda média anual da região no primeiro mandato da petista no quesito Valor Adicionado, que significa produção de riqueza, superou a média anual dos terríveis oito anos de Fernando Henrique Cardoso. Com FHC a região perdeu 2,22% de Valor Adicionado por ano, entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002. Com Dilma Rousseff a perda média é de 2,68%. É claro que o prejuízo sobraria aos pequenos empresários e também aos trabalhadores. A diferença é que durante boa parte dos anos Fernando Henrique Cardoso a Província reunia fôlego para sustentar a migração de empregados aos setores de comércio e serviços. Agora está praticamente tudo tomado. Não existe folga no mercado de trabalho. Muito pelo contrário.
Situação mais grave
A perda líquida de empregos do terciário nos últimos 12 meses é característica pronunciadamente da Província do Grande ABC. Outros territórios brasileiros que sofrem com a baixa industrial também acusam as estocadas, mas na região a situação é mais grave.
Perderam-se 6.939 postos de trabalho com carteira assinada entre agosto do ano passado e julho deste ano na Província. Nada menos que 40% dos 17.160 empregos industriais que desapareceram no mesmo período. Na cidade de São Paulo, menos vulnerável ao setor industrial porque tem 12% dos trabalhadores do setor em relação ao conjunto de empregados, contra 32% da região, registrou-se saldo de 7.707 postos de trabalho no mesmo período. E o Brasil, igualmente menos dependente do setor industrial, contabilizou nos últimos 12 meses saldo de 48.120 trabalhadores do terciário.
Não pode ser minimizada a possibilidade de a Província registrar novos golpes não só na divulgação do Ministério do Trabalho e Emprego neste final de mês como também nos próximos meses -- mesmo com a sazonalidade das festas de fim de ano.
A situação econômica da região é uma lástima. O peso do setor industrial é decisivo ao equilíbrio econômico. Sofremos de Doença Holandesa do setor automotivo e de enfermidades colaterais. Nas áreas química, petroquímica, têxtil, construção civil, alimentos, comemos o pão que o diabo amassou quando se analisa o conjunto da obra e também quando se observam essas atividades individualmente.
Fluxo importante
A interpretação de que empregos do terciário compensariam largamente as desgraças do emprego industrial com carteira assinada se tornou completamente equivocada. Mas agora tudo é mais inquietante. Atividades de serviços e do comércio não agregam valores monetários e ganhos sociais como o setor industrial, mas a explosão de pequenos e médios negócios com consequente absorção de trabalhadores egressos da indústria ou que ingressaram no mercado de trabalho pela primeira vez amenizou desajustes sociais que poderiam agravar ainda mais a desaceleração da mobilidade social na região. Mobilidade social é uma das especialidades da consultoria IPC Marketing. Por isso, ficar sem o fluxo de ascensão do emprego no terciário é uma catástrofe.
A proporção de empregos industriais ante as demais ocupações na Província do Grande ABC (além de comércio e serviços, também construção civil, administração pública, principalmente) se reduziu drasticamente desde 1994, quando do lançamento do Plano Real. Naquela temporada, a região contava com 276.650 carteiras assinadas no setor industrial, ante 514.551 do total, com prevalecimento de comércio e serviços. Ou seja: 53,7% dos empregos relacionam-se à indústria de transformação.
Já em julho deste ano, sempre segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a Província contava com 230.062 empregos industriais contra 712.258 do total. A participação do emprego industrial caiu para 32%. Uma diferença de 21 pontos percentuais, ou de 40%. Durante esse período, ou durante quase todo esse período a Província do Grande ABC vivenciou forte depressão do emprego industrial, no governo de Fernando Henrique Cardoso, parcialmente recuperada com Lula da Silva e o consumismo automotivo. Na sequência, a região foi atropelada pelo desastre do governo de Dilma Rousseff. Entretanto, no emprego de comércio e serviços, a região seguia a desfilar vitalidade numérica. A festa acabou.
Acabou a ilusão
O encaixe de emprego industrial em baixa e emprego do terciário também em baixa é péssima notícia para a Província do Grande ABC porque revela nova tendência, mesmo que transitória. Até o final do ano passado ainda se respirava a ilusão de que a economia da região não se mostra tão grave nas duas últimas décadas -- mesmo com o intervalo de gastança lulista -- porque havia o contraponto do emprego do terciário em elevação permanente.
Os triunfalistas mal se deram conta de que a fase compensatória, mesmo com perdas de salário e renda, foi provisória, nos primeiros anos de demissões agudas de trabalhadores industriais durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Em seguida veio uma longa fase de anabolizante. Afinal, a economia não crescia o suficiente para atender à demanda de novos negócios que se multiplicaram na região. Resultado: a Província passou a viver situação semelhante a de capitais do Norte e Nordeste do País, com elevada taxa de empreendedores de sobrevivência.
Em dezembro do ano passado a Província sofreu duro impacto de queda do emprego industrial com carteira assinada: foram 14.647 demissões durante a temporada. Entretanto, os setores de comércio e serviços amenizaram o peso estatístico para quem coloca todas as atividades no mesmo saco interpretativo: foram criados 5.385 empregos com carteira assinada no terciário. Já este 2015 não existe dúvida sobre o que se espera quando fecharem as contas em dezembro próximo: pela primeira vez pós-Plano Real, a Província vai registrar déficit na geração de emprego de comércio e serviços quando forem considerados os 12 meses de uma mesma temporada do calendário gregoriano. Quem não tiver lenço de reserva deve fazer encomenda para não ficar na mão.
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