Imprensa

Contexto ABC

DANIEL LIMA - 22/09/2015

Diário ensandecido
ameaça meus textos*
 DANIEL LIMA – 12/04/2015
 
O Diário do Grande ABC está procurando me sabotar. Bendita sabotagem. Não é que o jornal mais importante da região resolveu atacar para valer nos últimos dias questões simbólicas de novos tempos editoriais? Pensem bem: o que vou fazer se este Diário engrenar uma sequência interminável de reportagens que surpreendam os leitores num primeiro estágio e depois se consolide mais e mais como parceiro indissociável das demandas sociais?
 
O chega prá-la na Pirelli agora com vestimentas e alma chinesas não é pouca coisa para um jornal regional que, como todo jornal regional de verdade, não pode abdicar da autorização explícita da sociedade para atuar incisivamente em sua defesa. E fixar os olhos no futuro da Pirelli deve ser exercício permanente. A extensão a outras empresas também. Não podemos deixar escapar entre os dedos da indiferença companhias tão importantes ao equilíbrio social e econômico da região.
 
Uma pena que à investida editorial deste Diário não tenha havido a correspondente mobilização de supostos forças representativas da sociedade local. A administração municipal fez uma reunião quase secreta com executivos da Pirelli logo após o jornal estampar em manchetíssima que havia algo a ser esclarecido.
 
Soube-se superficialmente dos planos da multinacional sob nova direção. Nada que tranquilize ou que desafie a valer quem quer continuar a ver Santo André como endereço da companhia. O sindicato de trabalhadores está numa luta particular para salvar empregos por conta da crise econômica. Os trabalhadores não foram comunicados sobre as pretensões dos chineses. E as supostas lideranças de entidades de classe ficaram na moita. Eles não sabem o que fazem porque fazem muito pouco. Gostam mesmo é de promover festas.
 
Foco permanente
 
A Pirelli certamente seguirá como foco do jornal. E lamentavelmente não está nos radares das demais mídias da região. Até parece que os jornais impressos e digitais locais se ofenderam com a iniciativa deste Diário e congelaram um assunto que é candente. Aliás, em matéria de distanciamento editorial, a repercussão da agressão do jogador Michael ao fotógrafo Claudinei Plaza, deste Diário, seguiu o mesmo féretro de omissão no caso Pirelli.
 
Juro que pretendia inaugurar esta coluna no Diário com algumas cacetadas no próprio Diário, mas o que posso fazer se a Redação desandou a oferecer um cardápio de primeira linha aos leitores? O compromisso do jornal com a regionalidade, minha eterna saga, pareceu explicitamente sabotador.
 
A situação dos precatórios municipais foi outro assunto explorado. E os caças suecos, então, cuja compra está sendo questionada pelo Ministério Público Federal? A regionalização do temário, porque o prefeito Luiz Marinho está comprometido até o pescoço para o bem e para o mal com a aquisição das 36 unidades do Gripen, é providencial. E deverá ter desdobramentos. Mais uma novela da qual os leitores tanto gostam. Preferencialmente se o final for republicano.
 
Falta uma rua
 
O prefeito de Diadema, Lauro Michels, também entrou no foco maravilhosamente enlouquecido do Diário nesta semana. Onde já se viu alguém, que ainda recentemente apregoou que iria moralizar o mercado imobiliário da cidade, metido numa baita omissão sobre a contrapartida de uma construtora responsável pela construção de 1,6 mil unidades habitacionais numa área nobre? Simplesmente se esqueceram de construir uma rua no meio do empreendimento.
 
Tomara que essa seja a primeira de muitas denúncias sobre mercadores imobiliários, esse mundo à parte de responsabilidade social na região, tomado por arruaceiros legislativos.
 
Como este Diário esteve incansável nos últimos dias, quase me esqueço da manchetíssima que deu conta dos custos do escândalo nas prometidas obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) do governo federal. Escancararam-se as cifras e as obras atingidas pela corrupção. Cronogramas estão inexoravelmente defasados. Promessas podem virar lorotas.
 
Duas manchetíssimas
 
A ordem cronológica dessas notícias não importa porque estou zonzo com a multiplicação de reportagens. Já nem sei exatamente se a página inteira que desnuda parte do escândalo da Cidade Pirelli, que está longe de ser completamente esclarecido, foi publicada antes, depois ou mesmo no dia da reportagem sobre o PAC.
 
Pensando bem, ajeitando aqui e ali meus arquivos, eis que descubro que as duas reportagens foram publicadas na mesma edição. Vejam só: o Diário do Grande ABC que num passado ainda recente mal transmitia a ideia de que contava com uma manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) resolveu esnobar e publica duas potenciais manchetíssimas numa mesma edição. Para tanto, a escolha de Sofia favoreceu as obras prometidas do PAC.
 
Vou parar por aqui nesta estreia domingueira porque o espaço se foi e não escondo minha bendita contrariedade ao ver o Diário recheadíssimos de questões substantivas. Tenho a impressão que os acomodados institucionais já começaram a se mexer. Acho até que podem pedir um tempo para repensar o quanto são inúteis numa provável nova quadra de transformações regionais a bordo das páginas deste Diário. Assim o seja. Perder a argumentação de crítico mordaz é meu maior sonho. Talvez vire novelista e lide com ficção de fato, não mais com frustrações de demandas cansadas de guerra.


 


Voo panorâmico revela
eletricidade da Redação*
 DANIEL LIMA – 19/04/2015
 
Não preciso frequentar a Redação deste Diário para sentir eletricidade no ar, assim como um médico razoavelmente competente sabe que diante de si está um paciente com problemas sérios e um engenheiro qualificado que bate os olhos numa construção e percebe que há encrenca pela frente. A cada nova edição do jornal o que se observa é um rito operacional que não deixa dúvidas: disputa-se um lugar principalmente na corrida de espermatozoides pela manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) para contemplar a sociedade com informações relevantes. Por essas e outras deixo de lado o voo rasante de perscrutar inconformidades editoriais. O voo panorâmico indica novos caminhos a desbravar.
 
O leitor do Diário do Grande ABC que ainda não percebeu mudanças possivelmente está no piloto automático típico de quem esquece o filho no banco de trás do veículo. Graças ao empenho dos jornalistas comandados por Sérgio Vieira este Diário parece estar decididíssimo a assumir de vez a agenda regional metamorfoseada por terceiros ao longo dos tempos.
 
Nova configuração
 
É certo que este jornal dá mostras de que vai atuar incisivamente para mudar a configuração institucional da região, tornando-a moderna, dinâmica, crítica e oxigenadora. Tenho esse olhar de positivismo porque não sou bobo nem burro. Sei até onde é possível distinguir uma publicação que dorme em berço esplêndido de pautas insossas de uma publicação disposta a enfrentar sanguessugas disfarçadas de feras. Este Diário começou a invadir a grande área dessa segunda alternativa.
 
Que o diga o megaempresário Milton Bigucci, presidente do que chamo de Clube dos Especuladores Imobiliários. Desde quinta-feira este Diário coloca o dedo na ferida de uma roubalheira chamada Marco Zero, empreendimento construído num terreno arrematado com todos os requintes de malandragem impermeável a investigações. A traquinagem atinge também a Administração Luiz Marinho, que, sem se dar ao trabalho de analisar o edital de licitação do terreno, ou o fez e desconsiderou o indescartável, conferiu legitimidade a uma operação delituosa.
 
Pegar pelo pescoço de uma irregularidade crassa um mandachuva de trajetória nebulosa tem significado muito especial. A iniciativa deste jornal sugere que não haverá contemplação a quem trafegar pelo acostamento da responsabilidade social. O histórico ditatorial de mais de duas décadas na presidência de uma entidade tão importante como nociva à sociedade só foi construído porque Milton Bigucci conta com apoios estranhos e, sobretudo, com a omissão, quando não com o desencanto, de gente eticamente graduada do mercado imobiliário.
 
Fios sistêmicos
 
As manchetíssimas que este Diário levou aos leitores desde sábado passado são uma sequência de fios só aparentemente desconectados de uma central de controle. Quem prestar atenção à sinergia conceitual, sobretudo no tom crítico, elucidativo, exploratório, terá finalmente alcançado o pressuposto do título deste artigo.
 
O Diário do Grande ABC está alçando voos panorâmicos que dispensam intolerância a detalhes. O que quero dizer com isso é que, ao analisar o Diário do Grande ABC desde que fui convidado de forma oficial, fiz um trato temporário comigo mesmo: vou esquecer detalhes da roda, do friso, do retrovisor, do para-brisa para me concentrar no potencial de superação dos obstáculos maiores que sempre se apresentaram ao jornal.
 
Ou seja: o Diário do Grande ABC tem dado mostras nos últimos tempos de que está disposto a fazer strip-tease editorial sem falsos pudores inclusive com seu próprio desempenho de liderança regional. O simbolismo da semana anterior ao investir contra a insensibilidade da Pirelli e agora num empresário que tem muito a explicar não pode ser observado como ação circunstancial e passageira.
 
Pecadilhos perdoáveis
 
Há outros indicadores temáticos, também expostos no noticiário do jornal, que abastecem o esboço de um novo padrão de relacionamento com agentes públicos e privados da região; um relacionamento de cobrança consistente que, sem dúvida, desaguará em campos férteis de transformações que tardam, mas não podem faltar.
 
Até mesmo dois pecadilhos de manchetíssimas destes últimos dias devem ser relevados. A cobertura da edição de segunda-feira sobre as manifestações contra o governo federal na região foi exceção entre os veículos locais, mas poderia ter sido mais completa. Estou a indagar sobre as razões que levaram cinco mil pessoas às ruas de Santo André e apenas um punhado de gatos pingados em São Bernardo e São Caetano. Por que tamanha diferença se somos praticamente uniformes, aliás, como todo o Brasil, na avaliação da gestão Dilma Rousseff?
 
A outra pisada na bola que não macula a nova realidade do jornal foi enfiar o ministro da saúde Arthur Chioro e a presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, no balaio de gatos da extensão da Operação Lava Jato. A regionalização do assunto tem por base a passagem de ambos os executivos públicos pela região, mas a forçada de barra ficou caracterizada no caso de Miriam Belchior, que só recentemente assumiu a Caixa, período não investigado. Chioro, ao que consta, chegou com o barco da corrupção já fazendo água.


 


Diário cristaliza linha
editorial mais incisiva*
 DANIEL LIMA – 26/04/2015
 
O Diário do Grande ABC não pode abrir mão de conectar os leitores com o mundo real desses mais de 800 quilômetros quadrados de território. É o está fazendo nas últimas semanas de forma mais enfática. Algumas cidadelas parecem à beira de um ataque de nervos. Outras provavelmente vão sentir o peso de uma linha editorial mais incisiva. Os acomodados devem estar muito preocupados. Esta Província ainda tem muito a ser remexida, mas já é um bom começo.
 
Já imaginaram os leitores como estão a conversar os mercadores imobiliários que, justamente por serem mercadores imobiliários, colocam a responsabilidade social no quarto de despejo de relacionamento com a sociedade? Sim, depois da saraivada de matérias reveladoras sobre as estripulias do magnata do setor, o empresário Milton Bigucci, presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários, o que replicantes estão a projetar?
 
A massa de empresários do setor que levam a sério a atividade deve estar agradecida. O Diário colocou o dedo numa ferida de safadeza disfarçada de competitividade, caso do leilão fraudulento no qual Milton Bigucci e parceiros proporcionaram exibição digna de telenovela mexicana, facilmente desmascarada.
 
Quem acha – e sempre aparece alguém que vê seletividade na abordagem envolvendo aquele empresário – que o uso e a ocupação do solo na região serão tema ocasional na nova postura editorial do Diário deveria ouvir o diretor de Redação Sérgio Vieira. Há engatilhadas outras operações que desmontarão redutos que se sentiam intocáveis. Aliás, a atuação da Tecnisa, que se esqueceu de construir uma rua num megacondomínio em Diadema, abriu a temporada de caça às irregularidades.
 
Drible no feriado
 
A semana de análise deste jornalista que vai de sexta a sexta-feira foi prejudicada pelo feriado prolongado. A maioria dos jornais impressos sofre com a perda de densidade informativa. Pelotões de profissionais entram em regime de descanso em forma de rodízio. Mas nem esse intervalo reduziu a intensidade deste Diário no processo de aproximação com os leitores.
 
Tanto que produziu na edição de quinta-feira, 22 de abril, quase que na ressaca do feriadão, uma matéria inédita sobre cursos que os trabalhadores em regime de lay-off são obrigados a frequentar para que recebam regularmente seus vencimentos. Lay-off é suspensão temporária do contrato de trabalho que garante os salários pagos pelas empresas contratantes e pelo FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador). A Mercedes-Benz demitiu durante a semana 500 dos 715 profissionais afastados desde meados do ano passado. O Ministério do Trabalho e Emprego só garante o pagamento de parte dos salários durante cinco meses.
 
Este Diário foi a campo para ouvir trabalhadores. Descobriu que há muitas falhas no processo. Os cursos são redundantes, quando não inúteis. Se for mais a fundo o jornal vai revelar uma farsa em larga escala, de gente que finge que estuda e de empresas que fingem que estão preocupadas com aprendizado útil fora da linha de montagem.
 
Cadê o sindicato?
 
Também foi surpreendente a constatação de que nos casos específicos da Mercedes-Benz e da General Motors, que recorreram à medida, o sindicato não participa da escolha do aprendizado. Tudo ficaria a cargo das próprias montadoras. É muito pouco provável que se consolide experiência exitosa de cursos profissionais quando não há estudos que identifiquem vácuos de mão de obra na região. 


O que se pergunta é até que ponto o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já se preocupou com alguma iniciativa que recicle para valer esses profissionais? Compartilhar responsabilidades é o se espera dos sindicalistas. Vou mais longe: pelo volume de trabalhadores afastados do dia a dia das fábricas, as unidades do Senai na região, que já cumprem atividades regulares com público convencional, não comportam demanda adicional. Como estariam se virando?
 
Mesmo com buracos informativos a matéria do Diário do Grande ABC é oportuna. Nenhum dos grandes veículos diários impressos do País se preocupou com uma pauta que comporta novas incursões. Há um cheiro de desperdício a contaminar as relações entre Estado, Capital e Trabalho.
 
Ovo da serpente
 
Embora dê prioridade ao voo panorâmico do Diário, ou seja, a questões que já demarcam a alavancagem de interlocução mais assertiva com a sociedade, questões pontuais com viés de complicações estruturantes não podem ser minimizadas. A greve na Mercedes-Benz após a demissão de 500 trabalhadores não é um acontecimento qualquer. Trata-se da expressão mais explícita do ovo da serpente da baixa competitividade da indústria regional, sobretudo do setor automotivo, em um mundo em que as cadeias de produção ditam o futuro das localidades.
 
Havia muito tempo a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC fora informada sobre o excesso de dois mil trabalhadores naquela montadora de ônibus e caminhões. Mesmo quando a maré era favorável ao setor, a multinacional de capital alemão anunciava necessidade de ajustes de pessoal e produção. A falta de transparência do sindicalismo regional, que prefere o jogo de cena da vitimização, utilizando-se de discurso demagógico, sugere que a vilania solitária é da companhia empregadora. Essa história precisa ser mais bem contada.


 


Uma quinta marcha
desafiadora ao Diário*
 DANIEL LIMA – 03/05/2015
 
Na semana que sempre termina às sextas-feiras por causa do compromisso de entrega desta coluna, o Diário do Grande ABC surpreendeu quem ainda duvida do engate de uma quinta marcha em direção a reformas conceituais no jornalismo impresso da região. Foi uma semana de distribuição de bons produtos editoriais. Principalmente porque passou pela prova de fogo de que está exorcizando o triunfalismo a que se entregou durante muito tempo quando, se não escondeu, ao menos minimizou em vários períodos a gravidade econômica e social da região.
 
Provavelmente a mais emblemática das manchetíssimas (manchete das manchetes de primeira página) deste Diário na semana tenha sido a abordagem da edição de quarta-feira. “Economia das sete cidades encolhe pelo 4º ano seguido” resume bem a nova etapa deste Diário. O recado parece ser o seguinte: se duvidam que tudo mudou é melhor que se preparem, porque tudo mudou mesmo. “Mudamos para mudar” seria um bom slogan de uma campanha publicitária. Jornalismo impresso normalmente só muda o modelo gráfico, mantendo a mesmice da estrutura editorial.
 
Acena este Diário com a certeza de que virou pó o velho conto do vigário que algumas forças de pressão lhe impingiram. Essa historinha idiota de que um veículo de comunicação regional precisa esquecer os dramas do cotidiano e encontrar mesmo que forçadamente no paiol de subjetividades uma agulha de positividade para alimentar a esperança dos leitores já não cola mais. A contra-argumentação de que é preciso que os leitores conheçam o tamanho da encrenca em que vivem é a ordem instaurada pela publicação num primeira estágio de grandes transformações sociais.
 
PIB cadente antecipado
 
A manchetíssima sobre a projeção do PIB de 2014, cujos números só serão revelados pelo IBGE no final do ano que vem, num trabalho de fôlego do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, resume o tom com que este Diário passou ao dialogar com os leitores. Não se trata de uma exceção de bondade pensadamente voltada a enganar o público. É uma toada consistente sobre a qual os leitores devem estar atentos. O jornal bonzinho que os improdutivos incentivavam está virando um jornal incisivo.
 
Que o diga a Administração de Carlos Grana, em Santo André. A manchetíssima da edição de quarta-feira (“Secretário faz festa no 2º andar de hospital; no térreo, população sofre”) é uma combinação de oportunidade e competência. A reportagem de Vanessa de Oliveira teve o tamanho e a objetividade ideais. Mostrou a indiferença de servidores públicos e convidados. Contra esse batom na cueca não há argumento.
 
Aos poucos este Diário também abre espaços a matérias mais reflexivas ao introduzir um modelo de abordagem que os leitores mais exigentes cobram. Por mais que este veículo impresso regional diário não sofra a concorrência frenética de outras plataformas de informações locais, o tratamento editorial não deve se fixar exclusivamente no factual. Contextualizar a notícia no devido espaço é uma forma de agregar valor ao produto.
 
Vera Cruz valorizada
 
Caso do texto complementar de Evaldo Novelini sobre os dias de glórias e de escuridão da companhia Cinematográfica Vera Cruz. Um texto de encaixe perfeito à matéria assinada por Miriam Gimenez que deu conta do cancelamento da assinatura do contrato de concessão do espaço para uma empresa paulistana. Ainda falta explicar o que se passou nos bastidores. Quando do outro lado a informação depende da gestão de Luiz Marinho, tudo é sempre mais complicado, mas também desafiador. De qualquer maneira, se houve frustração com a notícia, os leitores deste Diário tiveram a oportunidade de consumir reportagem muito bem elaborada. Um toque de classe no geralmente fastfoodiano dia a dia dos impressos.
 
A manchetíssima de terça-feira (“Crise faz Caixa reduzir para 50% teto de financiamento imobiliário”) mostrou que um assunto aparentemente sem conotação de regionalidade, mantra da publicação, cai muito bem no espaço nobre. Ou seja: determinadas temáticas de cunho nacional devem mesmo, na concorrência pelo espaço de manchetíssima regional, ganhar um lugar no pódio. E olhem que a disputa pela manchetíssima daquela terça-feira era forte, porque o Diário publicou em primeira mão os novos dados sobre o índice de potencial de consumo da região no mapa nacional. Mantivemos o quinto lugar, mas seguimos perdendo fatia num bolo no qual já fomos terceiros colocados com certa folga.
 
Maurício contraditório
 
Parafraseando Roberto Carlos, foram tantas as emoções provocadas além das manchetíssimas do Diário que o espaço é curtíssimo ao reconhecimento público que a Redação como um todo e o diretor de Redação, Sérgio Vieira, em particular, merecem. A entrevista com o ex-prefeito Maurício Soares, sempre contraditório, e os dias seguintes de repercussão de suas declarações, dão mostras de que o Diário está procurando cercar a boiada da simplificação da pauta, muitas vezes responsável pela morte prematura de novas informações.
 
A matéria sobre o que estaria por baixo dos panos do Água Santa, time vencedor de Diadema que no ano que vem vai enfrentar os grandes da Capital na Série A do Campeonato Paulista, expôs sutilmente uma coragem que nenhuma outra publicação exercitou até agora. Mais que as declarações do principal entrevistado, as entrelinhas das respostas parecem ter esclarecido os laços econômicos que envolvem um time tão competente.


 


Trimanchetíssima salva
semana de solavancos*
 DANIEL LIMA – 10/05/2015
 
A trimanchetíssima da edição de sexta-feira salvou uma semana (que começa na sexta-feira e termina na sexta-feira seguinte) de oscilações editoriais deste Diário. É natural que haja solavancos mesmo com uma equipe motivada. Jornalismo é atividade que exaure o emocional e o psíquico. Principalmente num jornal regional tradicionalmente sob pressão de forças estranhas à Redação. Ao incorporar a pior captação da caderneta de poupança desde 1995, o recuo da produção de veículos ao índice de 2007 e o maior saldo de desemprego desde 2011, a manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) virou trimanchetíssima. O neologismo do neologismo resume um golpe certeiro e deve ter atingido em cheio o apetite dos leitores.
 
Nada melhor para atenuar mais uma vez uma abordagem imprecisa sobre o custo das apólices de seguros de veículos na região, temática levada à manchetíssima de domingo passado sob o título “Seguradoras ignoraram queda de roubos e furtos de veículos no Grande ABC e preço dispara”. É a segunda vez nos últimos tempos que este Diário insiste em tentar provar que somos discriminados pelas companhias de seguros. E pela segunda vez falhou nessa importante empreitada. A reportagem não atinge o que deveria ser um foco inquestionável: desde que há mais de 10 anos os índices de furtos e roubos de veículos desabaram no Estado de São Paulo, inclusive na região, qual é a correlação com a efetiva redução de preços das apólices? Este Diário insiste no que os economistas mais esnobes chamam de curtoprazismo, que pode ser traduzido como oscilações sazonais.
 
Verdades convexas
 
Há duas verdades convexas que deveriam direcionar abordagem ampla sobre o custo adicional automotivo de viver nesta região. Primeiro, pagamos mais caro que a quase totalidade das regiões do Estado. Segundo: temos de efetivamente pagar porque lideramos as estatísticas de registros. Até que ponto pagamos a mais do que deveríamos, estabelecendo comparativos geográficos sintonizados com a cronologia do rebaixamento de registros? Essa é a resposta que o jornal está devendo. E a resposta, a bem da verdade, é complexa. Ao tomar o atalho do facilitarismo da informação, o jornal derrapa.
 
Máfia do Semasa
 
Também deixou a desejar a cobertura deste Diário aos novos desdobramentos da Máfia do Semasa. A conclusão do inquérito do Ministério Público é uma ofensa à lógica da literatura policial, contra a qual o jornal não moveu uma palha de interpretação, sujeitando-se a repassar declarações do promotor criminal Roberto Wider Filho. A denúncia de que apenas o então prefeito Aidan Ravin e seu entorno político-administrativo participaram das malandragens é demais para quem sabe que mercadores imobiliários deitaram e rolaram e que, somente por isso, aceitaram pagar propinas que o MP chamou de achaque.
 
A certeza de que o processo de consolidação da linha editorial deste Diário possibilitará que casos como esses fujam de formato exclusivamente declaratório, entregando-se a rapadura da avaliação aos próprios protagonistas, ainda se dará no médio prazo. Quem acha que jornalismo é ferramenta para lustrar o ego dos declarantes está redondamente enganado. O caso da Máfia do Semasa virou espécie de anticlímax nas páginas do jornal, contrariando a ênfase que marcou a cobertura ao longo do tempo.
 
Marinho empacado
 
A Administração Luiz Marinho recheadíssima de tropeços virou manchetíssima na edição de segunda-feira com o título “Governo Dilma culpa Marinho por atraso no piscinão do Paço”. Ainda falta muito a escrever sobre o distanciamento entre cronograma oficial e efetivação de obras. Principalmente sobre as estripulias da OAS, uma das empreiteiras engolfadas pelo Petrolão, dona da conta de grande parte das propostas de obras de Luiz Marinho.
 
O antagonismo entre petistas, explícito na manchetíssima, não deixa dúvidas de que não é somente a presidente Dilma Rousseff que anda a catar cavaco na tentativa de reequilibrar-se como mandatária do País. Marinho também está perdido em meio ao fogaréu dos rescaldos da roubalheira na Petrobras. Quem viu malícia na foto da página interna, com Dilma e Marinho coladíssimos um ao outro, precisa parar de pensar bobagens. Mas que eles estavam grudadíssimos com ares de sensualidade, não há dúvidas. Uma bela sacada da fotógrafa Marina Brandão.
 
Índice a ser questionado
 
A matéria que abriu a página 10 de Economia na edição de quinta-feira (“Preços de imóveis perdem da inflação”), fia-se mais uma vez nos dados do índice Fipe-Zap, desenvolvido pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômica. Este Diário segue a manada nacional de não antepor ressalvas às estatísticas que envolvem algumas cidades da região no mapa nacional da pesquisa. Esse incensado indicador carrega forte conotação de marketing de sustentação. Os valores referenciais são de imóveis anunciados na Internet, sempre acima da realidade. Além disso, há fragilidades informativas ditadas pelo lobby do setor, que tem o Secovi como mestre-sala em São Paulo e o Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC como porta-bandeira.


 


Acisa é emblemática da
nova fase deste Diário*
 DANIEL LIMA – 17/05/2015
 
A Carta do Grande ABC da primeira página da edição de segunda-feira, quando completou 57 anos de circulação, é um compromisso inédito deste Diário com seus leitores. Mesmo os leitores mais assíduos e antigos talvez não tenham notado a diferença entre o que está posto e o que já foi posto. Jamais na história desta publicação houve um movimento coordenado entre redação e direção para acabar com a farra dos improdutivos que infestam este território.


Essa é a grande diferença de tudo o que se fez antes, porque antes o Diário acreditava piamente nas individualidades e nas instituições da região, enquanto agora, até prova em contrário, desconfia de todos. É melhor assim, porque dessa semeadura o tempo dará frutos muito mais saudáveis.
 
A semana deste colunista abelhudo que sempre começa numa sexta-feira e termina na sexta-feira seguinte vai ficar prejudicada em análises porque a prioridade é a Carta do Grande ABC. Quem duvidava daqueles termos redigidos pelo secretário de Redação Sérgio Vieira teve a oportunidade de constatar na quarta-feira, ou seja, dois dias depois, que uma das fortalezas intocáveis nas páginas do jornal virou manchetissimazinha (segunda manchete mais importante depois da manchetíssima, a manchete das manchetes) numa reportagem crítica sobre uma realidade que vem do passado: as associações comerciais da região, lideradas politicamente pela Acisa (de Santo André) são extremamente omissas, quando não abusivas, na indolência com que tratam comerciantes e prestadores de serviços, entregues às baratas do descaso.
 
Peça publicitária
 
Quisesse este Diário propagar aos quatro cantos que os tempos são outros e que não está para brincadeira quando se trata de representar a sociedade regional, uma peça publicitária poderia ser fartamente disseminada. Os termos seriam mais ou menos os seguintes: “Que a Acisa, nossa velha companheira, nos desculpe, mas agora o Grande ABC está em primeiro lugar”. Ou seja: caiu uma das cidadelas mais emblemáticas de compadrios que este Diário cultivou no passado remoto e que, por razões que um dia poderão ser reveladas, esticou a vida inútil até outro dia.
 
A Acisa é mesmo um esqueleto institucional a ser exibido em praça pública como reduto de burocratismo e politização partidária acima dos interesses da comunidade. A entidade resume o perfil da maioria das organizações congêneres espalhadas por este País, vocacionadas a manter contatos de primeiro grau com autoridades públicas benemerentes com o dinheiro dos outros. Acabou nocauteada na imunidade que parecia eterna.
 
Há outras instituições fora do prumo e do rumo na região que igualmente deverão ter alicerces de inutilidades abalados pela nova linha editorial deste Diário. O empresário Ronan Maria Pinto entrará para a história do jornalismo regional deste País, uma história feita sobretudo de tutela dos mandachuvas e mandachuvinhas sobre a linha editorial das publicações, se seguir a incentivar os ditames prescritos na Carta do Grande ABC.
 
Processo demorado
 
É claro que esse será um processo longo, demorado e sujeito a contra-ataques, quanto não a recuos estratégicos que garantirão mais intensidade na recarga. Não se dinamita uma estrutura corroída num estalar de dedos. Haverá reações dos incomodados. A própria comunidade vai demorar a pegar no tranco. A via de mão dupla é o segredo do sucesso, ou seja, o jornal não alcançará objetivos de dedetização institucional da região se não contar com o suporte e a colaboração dos leitores.
 
As ratazanas que subtraem o futuro de uma geração que emerge numa região sistemicamente em crise vão espernear, mas precisam ser expulsas do paraíso de comodismo em que se meteram desde sempre.
 
Portanto, sugeriria aos leitores mais atentos que recuem alguns dias no tempo e guardem com zelo a primeira página da última segunda-feira. Da mesma forma devem agir os jornalistas deste Diário. Aquele texto é um compromisso com o futuro do qual ninguém deverá abrir mão.
 
Sem esconde-esconde
 
Este Diário, graças ao desprendimento do diretor de redação Sérgio Vieira, deu uma prova incontestável de que não está para brincadeiras e muito menos para preparar um jogo de esconde-esconde da verdade sob o manto de linhas impressas apenas para inglês ver.
 
Ao adicionar entre os 10 temas paradigmáticos da publicação o quesito “desindustrialização”, ao qual incorporou mea-culpa pelo passado reticente, errático e enrolador de acreditar em forças estúpidas que negavam insistentemente a queda do setor industrial do Grande ABC, aquele jornalista imantou um vínculo incondicional com os leitores. Ele quis dizer o seguinte: não vamos tolerar embromações; queremos contribuições para mudar este território.
 
Que as demais mídias da região sigam o exemplo deste Diário e deixem, em larga parte, de atuar como correia de transmissão de interesses muito bem orquestrados pelos poderosos de plantão, aos quais devem estar atentas porque o outro lado do balcão de interesses da comunidade em geral é ocupado por gente em constante pós-graduação para sequestrar a pauta nossa de cada dia.


 


E a ficha de novos
tempos vai caindo*
 DANIEL LIMA – 24/05/2015
 
Devagar, devagar, vai caindo a ficha de novos tempos editoriais, muito mais incisivos, muito mais contundentes. As placas tectônicas de gente acomodada começam a tremer. Dirigentes de associações comerciais e ouvidorias sentiram-se pressionados pelas matérias desta semana que terminou. Os primeiros porque foram colocados a nu na inoperância organizacional. Os segundos porque não passam de cartas marcadas do Poder Público.
 
Tomara que esses alvos já atingidos e tantos outros na alça de mira de um jornalismo comprometido com a região não comecem a ver fantasmas de defenestramento generalizado. Nada disso. Houve apenas uma mudança no centro de gravidade da linha editorial. O que este Diário transmitiu claramente com a Carta do Grande ABC de 11 de maio é que não está satisfeito. Tanto que se penitencia em relação à desindustrialização mal avaliada desde o século passado. Se este jornal pega no próprio pé, o que dirá então de terceiros que jamais se aproximaram da institucionalidade alcançada pela publicação?
 
Por mais que um ou outro queira fazer crer, numa jogada manjada que pretende levar este Diário ao acostamento do compromisso com os leitores, não parece que faltará tolerância à equipe de redação no tratamento às inúmeras situações que sacrificam a sociedade. Nesse caso, tolerância tem o sentido de que o jornal não será implacável a ponto de destruir instituições. Vai oferecer tempo e mobilização para se reinventarem. Só não se pode confundir tolerância com inoperância.
 
O próprio jornal, aliás, reconhece que precisa de um freio de arrumação para colocar em ordem a casa de um foco editorial que vá além da noticia, invadindo a área da interpretação e do questionamento mais aprofundado. Uma mão lavará a outra, desde que as mãos dos agentes públicos, privados e sociais não se pretendam maliciosas demais.
 
Mais que eventos
 
A reação de algumas lideranças das associações comerciais só não foi patética porque não se esperava algo diferente do que a tentativa de justificar o injustificável. Já passou da hora dessas instituições saírem do casulo de um corporativismo pífio e de um distanciamento autofágico das questões mais efervescentes da economia regional. Neste ponto o Diário não preencheu integralmente minha expectativa de corneteiro disfarçado de ombudsman improvisado. Faço reparo à abordagem principal da publicação envolvendo aquelas entidades, sobre a ausência de um calendário extenso e denso de promoções em favor do comércio de ruas em datas significativas. Está certo que o assunto é importante, mas apenas aborda um fragmento do que se exige de empreendedorismo de instituições que dizem representar empreendedores.
 
O que o comércio da região está a necessitar das associações que supostamente o representam é de um plano estratégico tanto quanto está a faltar ao setor de transformação industrial. Ações coletivas e regionais de entidades municipais são uma saída perfeita para quem sabe que é bobagem debater a possibilidade de condensar todas as associações comerciais numa só organização. Uma pauta em comum de assuntos regionais com implicação municipalista é sopa no mel para unir as entidades mesmo admitindo as idiossincrasias que alimentam separatismo.
 
Espera-se que após os frágeis  esperneios públicos e também envergonhadas manifestações intramuros, os dirigentes das associações comerciais parem de assumir ares de vítimas de uma publicação que lhes deu muita moleza e comecem a traçar um projeto de reestruturação. Os agentes econômicos de pequeno porte, a maioria órfã de retaguarda de marketing, estão à espera.
 
Ouvidorias de conveniência
 
Já quanto às ouvidorias mantidas por prefeituras da região para passar a ideia de que os gestores públicos são democráticos, a reportagem deste Diário foi providencial, embora pudesse ser mais detalhista. Providencial porque nunca antes na história da mídia regional uma publicação foi tão oportuna no desmascaramento desse apêndice político-partidário nos organogramas das prefeituras.


Menos detalhista do que o desejado porque está na cara que alguns números repassados por ouvidores sobre o grau de eficiência no encadeamento de soluções junto ao Executivo foram chutados.
 
Número de atendimentos é uma coisa, atendimento das demandas no sentido operacional da expressão é outra. Os ouvidores agiram como maquiadores. É muito pouco provável que este Diário descubra a fraude. As ouvidorias são pouco transparentes. O jornal poderia ter incorporado à reportagem a desconfiança de que as informações não correspondem à realidade.
 
Vou mais adiante: fossem as ouvidorias para valer, estariam disponíveis aos interessados todas as reclamações dos contribuintes que se manifestaram no organismo, bem como espaços respectivos que dariam conta da cronologia dos resultados. Afirmar simplesmente que toda a demanda foi atendida é brincar com a confiança alheia. Fossem os Legislativos menos condescendentes com os Executivos, uma faxina completa seria solicitada para eliminar os gargalos informativos. Quem tem coragem de questionar os prefeitos que adotaram ouvidorias apenas como marketing político?
 
Deixamos mais uma vez de lado aspectos microeditoriais da semana deste Diário. Sinal de que mais que dedetizar as poltronas, a situação recomenda que se analise criteriosamente o plano de voo.


 


Fontes diversas exigem
cuidados redobrados*
 DANIEL LIMA – 31/05/2015
 
Há uma distância quilométrica entre triunfalismo e alarmismo, mas esses extremos podem se tocar. Este jornal parece estar completamente recuperado do período em que acreditava que o olhar cor de rosa era a solução de todos os problemas. O realismo tomou conta das páginas, mas ainda há escorregões que bandearam para o lado oposto, de sensacionalismo. Nada proposital, evidentemente. Apenas uma questão de encaixe da entonação editorial. Um corredor acostumado a maratonas precisa de período de adaptação para percursos mais curtos e intensos. A recíproca é verdadeira. Este Diário se equilibra em meio às dificuldades de seguir novo plano de voo. Seria ótimo se outras instituições da região tivessem o mesmo espírito crítico. Sim, instituições, porque esse quase sessentão jornal é mais que um conjunto de páginas impressas diariamente. É um poder social do qual muitos não se dão conta e outros pensam que se dão conta.
 
A semana de análise das edições deste jornal, que começa sempre aos sábados (nunca às sextas, como já escrevi aqui) e termina na sexta-feira seguinte é prova provada de que os ajustes editoriais varejistas vão exigir atenção total. Já os acertos editoriais atacadistas, de perseguição permanente aos preceitos impressos em 11 de maio último, seguem em evolução.
 
Números a esclarecer
 
O varejismo ao qual me refiro e que simboliza tantas outras operações está caracterizado na manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) da edição de segunda-feira, 25 de maio. “Grande ABC registra perda de 33% das indústrias em apenas três anos” foi uma forçada de barra e tanto do jornal. A única possibilidade de não ter sido uma apelação para justificar um dos 10 quesitos pétreos da publicação (“desindustrialização”) depende do próprio jornal. Sem que se mostrem fontes e dados minuciosos sobre aquilo que seria uma hecatombe no setor industrial da região, o mais avassalador em território nacional, colocarei aquela manchetíssima entre os tropeços que poderiam ser evitados.
 
A fonte deste Diário é o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), sem maiores informações sobre o rombo anunciado. Na mesma matéria há versão vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego que anula os dados do Ciesp. Com isso, os leitores mais atentos ficaram entre atônitos e indefesos. Atônitos porque em sã consciência não dá para acreditar em perda tão volumosa. Indefesos porque o próprio jornal lavou as mãos no aprofundamento das informações colidentes. Às vezes o jornal parece ter medo de botar o dedo nas feridas e acredita demais nas declarações de terceiros.
 
Com o instinto perdigueiro de sempre, fui à luta para obter mais informações sobre a manchetíssima deste jornal, mas não encontrei absolutamente nada. Isso quer dizer que é preciso voltar ao assunto e esclarecer. Se a manchetíssima foi um furo nágua, que o jornal assuma a responsabilidade pelo erro ou cobre publicamente da fonte de informação. Se existe base estatística, que se revelem todos os pontos. Até prova em contrário, é praticamente impossível que a região tenha sofrido tamanho baque em unidades industriais em tão pouco tempo. E também em uma década. Afinal, o setor industrial é menos suscetível a oscilações numéricas tão pronunciadas. 
 
Desempregos conflitivos
 
Se a perda industrial sugere um chute no vazio, este Diário também pareceu querer endoidar os leitores com outras duas manchetíssimas. Na edição de sábado, 23 de maio, o título “ABC perde 3.833 postos de trabalho em um mês” acabou confrontada com o título da quinta-feira seguinte: “A cada dia, 767 perdem o emprego no Grande ABC”. Rigorosamente, as informações estão corretas. São fontes diferentes que as alimentaram, a primeira do Ministério do Trabalho e a segunda do Dieese, braço de estudos de sindicalistas.
 
Como as duas instituições se utilizam de metodologias diferentes – a primeira leva em conta apenas os trabalhadores com carteira assinada e a segunda coloca todo mundo no mesmo saco, formais e informais, entre outras variáveis – cabe ao jornal a escolha de Sofia. A preferência deveria recair sobre os dados do Caged, do Ministério do Trabalho, muito mais confiáveis e que retratam com mais segurança o andar da carruagem do mercado de trabalho. São raríssimos os jornais que dão destaque de primeira página e menos ainda de manchetíssima aos dados do Dieese.
 
Reforço econômico
 
Outros pontos poderiam ser destacados entre os assuntos mais candentes deste Diário, mas o espaço já se esvai. Estruturalmente, a publicação tem melhorado com algumas abordagens que fogem do fast-food diário, casos de reportagem sobre o acervo material dos teatros da região e, este mais antigo, uma tomografia providencial e histórica dos bairros da região.
 
Em termos atacadistas, ou seja, de desbravamento permanente do campo conceitual traçado, a força-tarefa na cobertura da presença do governador do Estado, Geraldo Alckmin, ao sétimo andar da publicação, dá a medida da importância dos temas abordados. Algo assemelhado poderia se reproduzir na cobertura econômica da região nestes tempos de montadoras em múltiplas formas de paralisia e autopeças em frangalhos. A Editoria de Economia deveria ser reforçada com o deslocamento de profissionais de outras áreas. A situação está pretíssima. Economia regional é prato de primeira necessidade dos leitores.


 


Uma sociedade que
precisa se organizar* 
 DANIEL LIMA – 07/06/2015
 
Este Diário não tem obrigação solitária de organizar uma sociedade desorganizada, mas pode ajudar solidariamente uma sociedade desorganizada a se organizar. O que parece óbvio deveria virar mantra. Há gente que imagina que este jornal é o salvador da pátria regional empobrecida e apodrecida ao longo de décadas. Parafraseando o filme “Crimes ocultos” que acabei de assistir, uma parcela substancial das chamadas lideranças locais pregou o tempo todo que não havia desindustrialização no paraíso da industrialização. Deu no que deu.
 
A manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) da edição de terça-feira deste Diário sobre a debandada do que restou da unidade da Basf em São Bernardo é mais uma prova provada de que o tempo de enrolação e de mentirinhas para dourar a pílula regional já passou. Esconder a realidade típica de paraísos autoritários se comprovou doloroso mecanismo de sujeição aos aproveitadores de plantão. Só por isso – e a Basf é exemplo emblemático da linha editorial mais incisiva deste jornal – já valeria a pena acreditar na publicação como ferramenta contributiva à maratonista empreitada de reduzir os estragos acumulados.


Dúvida cruel 
 
Toda vez que me dedico a escrever os 5,3 mil caracteres desta coluna mergulho num dilema do qual só emerjo quando passo a dedilhar cada palavra. A dúvida é se faço o voo rasante de analisar principalmente as manchetíssimas da semana ou se me meto em voo panorâmico sobre os preceitos impressos na primeira página da edição de 11 de maio. Entre uma saída e outro acabo, muitas vezes, optando pelas duas, porque há conversão crítica.
 
Este jornal não pode abrir mão jamais do alinhamento estratégico dos 10 pontos cardeais listados recentemente. Deve tratá-los com o fervor dos crentes. Refluir significaria enorme risco. As demandas cada vez mais dispersas da sociedade consumidora de informação são inquietantes porque podem sequestrar o rumo traçado. As redes sociais e suas diversas plataformas tecnológicas não devem ser sacralizadas como fonte de inspiração e de execução jornalísticas, embora devam, também, estar longe de descarte. São produtos que se oferecem na vitrine de uma agenda complexa. Decodificá-los é uma arte respaldada pelo conhecimento e pela sensibilidade sociais.
 
Agenda transversal
 
Esta nova fase deste jornal precisa ser enfaticamente doutrinada a sustentar aqueles 10 pontos transversais. Ignorar o entrecruzamento de uma agenda que se transformará em notícia no dia seguinte seria estupidez. Essa visão múltipla foi bem concatenada em manchetíssima desta semana, na abordagem dos estragos no Rio Tamanduateí a partir dos 500 metros pós-nascente em Mauá. Cheguei a esboçar reação mental de desaprovação à escolha daquela manchetíssima, por preferir em princípio a queda do volume de empréstimos do BNDES aos empresários da região, mas logo me penitenciei. O Editorial que justificou a escolha foi perfeito.
 
No geral, a série de manchetíssimas entre a edição de sábado da semana passada e sexta-feira da última semana foi de bom nível, embora não repetisse a densidade informativa das semanas anteriores. Neste período de análise, vejo este jornal em evolução, mas ainda longe do que a região precisa, embora nem sempre mereça porque é provincial e descuidada com as lambanças dos mandachuvas e mandachuvinhas.
 
Vetores cruciais
 
Há dois vetores essenciais à vitalidade e à vitaliciedade desta publicação, aos quais chamo a atenção da redação: primeiro, monitoramento sistemático dos quesitos que configuraram a Carta do Grande ABC e, segundo, com a mesma importância, a anexação de valor agregado e de contextualização às matérias de maior peso editorial.
 
Este Diário ainda segue escravo de conceito de pé manco: a regionalidade descolada do restante do Estado de São Paulo e do País, principalmente. Não se publicam matérias sobre criminalidade em baixa ou em alta sazonal, sobre o mercado de trabalho, sobre especulação imobiliária, sobre investimentos do BNDES e tantas outras temáticas isolando a região de outros territórios. E isso tem sido regra que as raras exceções confirmam.
 
Além disso, este jornal precisa começar a imprimir textos menos declaratórios e mais comprometidos com as mudanças preconizadas na Carta do Grande ABC. Dois exemplos desse buraco negro envolvem o mercado imobiliário: a inacreditável conclusão do Ministério Público de que o escândalo do Semasa não contou com roubalheira de empresas do setor; e o engavetamento das irregularidades do empreendimento Marco Zero, da MBigucci, segue no Legislativo de São Bernardo, sob o controle e a cumplicidade do prefeito Luiz Marinho.


Também nessa área, um novo escândalo no mínimo em termos éticos ganhou a forma de Cepacs, mecanismo pelo qual o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, vai proporcionar a farra do boi de empreiteiros urbanos ao longo do corredor destinado ao monotrilho, indevidamente anunciado como metrô.
 
O encaixe editorial deste jornal como elemento catalizador da responsabilidade que lhe cabe para ajudar a sociedade desorganizada a se juntar e a sair da moita é uma longa travessia com avanços e recuos.


 


Um teste pedagógico
sobre rumos do Diário*
 DANIEL LIMA – 14/06/2015
 
Vou fazer o que chamaria de teste pedagógico com os leitores deste Diário sobre este Diário e para que este Diário seja entendido externamente e também nos interiores de sua Redação. Considerando-se que a “Carta do Grande ABC”, publicada na primeira página deste jornal em 11 de maio, explicita agora como cláusulas pétreas 10 pontos essenciais à regionalidade do Grande ABC, qual dessas manchetíssimas (manchete das manchetes de primeira página) está fora do esquadro nas últimas sete edições às quais me dediquei a analisar, já que minha semana sempre começa aos sábados e termina na sexta-feira seguinte?
 
a) Escândalos derrubam Cleuza Repulho
b) Arrecadação com multas de trânsito cresce 43% no ABC
c) Justiça manda São Bernardo limitar cargos comissionados
d) Produção de veículos no País registra pior maio da década
e) Empresários do ABC dizem que pacote de Dilma não alivia crise
f) Inflação vai a 8,47% e tem o maior índice desde 2003
g) Empresas de Bigucci entram na dívida ativa de Sto. André por dever impostos
 
Reproduzidas as manchetíssimas em ordem cronológica, concedo pelo menos dois minutos de reflexão aos leitores que pretenderem entender a razão da pergunta central deste texto, que repito: qual das manchetíssimas está fora do lugar, considerando-se a regionalidade do Grande ABC?
 
Uma escolha sem grilo
 
Trata-se de escolha sem maiores grilos para quem leu todas essas edições do Diário do Grande ABC. Não vou me estender nem farei deste desafio algo hitchockiano: a manchetíssima sobre a inflação não condiz com o que se entende por regionalidade. Não que o temário deixe de ser importante. Tanto que poderia ser resolvido com uma boa chamada de primeira página, claro. Mas manchetíssima é outra coisa. Manchetíssima é não entregar o ouro para o bandido, não jogar no campo adversário, não se meter em encrenca.
 
O que quero dizer com esses clichês-síntese é que este Diário será provavelmente imbatível em qualquer campo como mandante se souber jogar o jogo da regionalidade, mas vai se dar mal jogando em campo adversário.
 
Vai se dar bem em casa porque tem certo controle territorial dos personagens e dos figurantes que emolduram a sociologia local. Sempre haverá alguém na Redação que contribuirá para enriquecer uma matéria de cunho regional. Jogar com o apoio da torcida e conhecendo bem o gramado é outra coisa.
 
Quando saímos de nosso quadrado, e inflação não é nossa especialidade, porque foge do nosso foco cotidiano e, mais que isso, está sob a guarda pretoriana da mídia nacional, a tendência é sofrermos derrota. Sofrer derrota significa que, por mais que caprichemos na cobertura, teremos espaços editoriais e limites de recursos profissionais a nos atrapalhar.
 
Não podemos perder vantagem competitiva ante mídias concorrenciais. Temos de cuidar bem de nossa geografia. Este Diário viveu durante toda a sua existência um drama gataborralheiresco de querer abraçar o mundo local, regional, nacional e internacional. Pura bobagem. Não há espaço físico e disponibilidade de recursos profissionais suficientes à empreitada. Nunca houve, aliás. O que existiu foi teimosia.
 
Tecnologia encurralada
 
Se em outros tempos a tecnologia de comunicações não era tão disseminada e por isso mesmo a concorrência por informações fora deste nosso espaço territorial não provocava buracos exacerbados, desde que a Internet apareceu tudo mudou para valer. Os leitores do Diário, em larga maioria, quando querem saber de determinados assuntos nacionais e internacionais, têm dezenas de alternativas a lhes contemplar no dia anterior, inclusive o Diário em versão digital. Publicar na versão impressa parte desse material com destaque tão acentuado é desprezar a matéria-prima interna.
 
E olhem que na edição de quinta-feira em que meteu a inflação como manchetíssima este Diário contava com duas matérias muito mais relevantes aos leitores que vivem a região. A primeira sobre o afastamento de vigilantes de quase duas dezenas de escolas municipais de São Bernardo. A retirada de segurança por si só já seria uma barbeiragem, mas quando se acrescenta que os estudantes de escolas de periferias atingidas pela violência sofrem muito mais, o desastre se torna maior. Dados complementares como índices de criminalidade de São Bernardo e a redução pífia de custos em contraposição, por exemplo, aos gastos nababescos com servidores comissionados que o próprio jornal publicou numa das edições anteriores, dariam contornos mais graves à estupidez da Administração Luiz Marinho.
 
Secoli volta à origem
 
Havia outra opção na mesma edição, também mal explorada na reportagem preparada aparentemente a toque de caixa. Trata-se da volta do prefeiturável Tarcísio Secoli à Secretaria de Governo, após atuar na Secretaria de Obras. O texto deixou um buraco: mais importante que o substituto de Tarcísio Secoli na Secretaria de Obras é a reconfiguração política-estratégica por trás da volta do ex-sindicalista à secretaria na qual atuou nos primeiros anos da gestão Marinho. O mote da mudança e que poderia justificar folgadamente a condição de manchetíssima daquela quinta-feira é que Tarcísio Secoli só mudou de lugar, voltando às origens, porque acabou a farra do boi eleitoral de dinheiro abundante em obras, que a crise econômica federal abortou. Desta forma, é melhor fazer amarração política sem fronteiras do que se desgastar com a escassez de dinheiro.


 


Se apertar para valer
eles confessam tudo*
 DANIEL LIMA – 21/06/2015
 
O prefeito Saulo Benevides, de Ribeirão Pires, deu a senha com a qual este Diário deveria abrir todas as portas em direção à redenção editorial. Basta apertar os agentes com atuação pública que eles confessam. Tradução: na medida em que este jornal não der moleza aos protagonistas do jogo político, econômico e social da região, como não o fez durante a semana de cobrança de projetos para adequação das prefeituras ao Plano Nacional de Educação, provavelmente mais eles vão se embananar. Quem está na chuva da notoriedade tem de aguentar o repuxo de cobranças. A maioria não suporta e abre o bico. Como o prefeito Saulo Benevides, que clonou o Plano Nacional de Educação do governo federal sem ter o cuidado de adaptar à realidade local os extravagantes números federais.
 
A manchetíssima de sexta-feira salvou a semana de análises deste quase ombudsman, porque mais que ombudsman. O título “Ribeirão Pires plagia plano nacional de Educação e faz projeto esdrúxulo” sintetiza a derrapada de um administrador público que correu para dar conta de recado de legalidade alertado por este Diário. Foi uma sequência de matérias que causou alvoroço nos paços municipais. Do alvoroço ao tropeço foi questão de tempo.
 
Pauta desaquecida
 
Essa sistemática atenção a questões que dizem respeito ao futuro da região -- e também tudo que se referir ao presente -- deveria ser cláusula pétrea da publicação. Recentemente e a bem da verdade outros temas foram bem explorados, como o caso da possibilidade de retirada da Pirelli de Santo André, mas em larga escala há esquecimento. Ou seja: a pauta efervescente esfria por conta do vácuo de desdobramentos implícitos ou porque se abrandou demais a cobertura nos dias posteriores.
 
Vários exemplos poderiam ser pinçados nos últimos tempos. O desfecho do pretendido requerimento do vereador Julinho Fuzari sobre a roubalheira da quadrilha que fraudou o Edital de Licitação no arremate de uma área onde a MBigucci constrói o empreendimento Marco Zero virou pó nos escaninhos do Legislativo de São Bernardo. Mesmo o escândalo do Semasa deveria ter tratamento editorial mais vigoroso. Crimes imobiliários com apenas um lado do balcão de propina não passam pelo teste de bom senso.
 
Muitas outras manchetíssimas inspiram abordagens complementares, mas este Diário parece sofrer de Alzheimer editorial. Por isso quando patetice como a do prefeito de Ribeirão Pires emerge como resultado de pressão da publicação, fortalece-se o ideário de cão de guarda do jornalismo.
 
Riqueza desprezada
 
Além de Alzheimer editorial, este Diário também alimenta idiossincrasias ao desprezar a própria riqueza de uma agenda mais que escancarada à disposição da reportagem: o setor automotivo e o mercado imobiliário são frondosíssimas ramificações de uma crise nacional nas duas atividades, mas que nestas bandas ganha conotações ainda mais graves.
 
Principalmente o mundo automotivo, de montadoras e autopeças, está tendo cobertura acanhadíssima deste jornal. Algumas edições à altura da situação confirmam esta sentença. Estamos perdendo um jogo em nossa própria casa, o que é inadmissível para o jornalismo regional. O noticiário é reticente, pouco profundo e entregue às fontes de informações. O sindicalismo segue, senão incensado, ao menos protegidíssimo. A produção, a produtividade, o emprego, o quadro nacional, as repercussões internas em outras atividades, tudo isso e muito mais não existem na agenda da editoria de economia com a intensidade que a marca do jornal exige.
 
Imóveis em crise
 
O mercado imobiliário também recomenda mais atenção. Não só para seguir dando configurações de espertezas às artimanhas de empresários que protelam indefinidamente o pagamento de impostos como também para acompanhar o mergulho da demanda com consequentes estragos econômicos. Pelo menos o jornal deixou de cair no conto de malvadezas do Clube dos Especuladores Imobiliários, dirigido por Milton Bigucci, que trata os leitores em geral e os potenciais compradores de imóveis com a mesma seriedade com que Tiririca é relacionado entre os 10 parlamentares intelectualmente mais preparados do Congresso Nacional.


Aliás, a cobertura econômica como um todo está muito aquém da importância da atividade, principalmente quando os anseios dos leitores aparecem no horizonte de audiência. A manchetíssima da fuga da Balas Juquinha do território de Santo André foi tão providencial quanto pouco consistente. Perdeu-se uma oportunidade de ouro para mostrar e provar com dados estatísticos que aquele desfecho não é obra do acaso.
 
A semana que passou também fortaleceu desconfiança de que reuniões que decidem posições de destaque na primeira página podem ser um curso de boas maneiras mas também de resultados inadequados. Há potenciais manchetíssimas que se perdem na edição porque ainda prevalecem olhares menos profundos sobre as opções disponíveis. Na edição de quinta-feira, quando este jornal levou à manchetíssima o gatinho indefeso da redução da maioridade penal, aprovada apenas numa comissão do parlamento, havia pelo menos três tigres regionais em potencial para disputar aquele espaço gráfico nobre. Bastaria optar por um e dar tratamento de força-tarefa, encorpando o conteúdo.


 


Faltou manchetíssima
do desabafo de Lula*
 DANIEL LIMA – 28/06/2015
 
Este Diário engatou uma semana de manchetíssimas bem encaixadas, sempre considerando o decálogo de regionalidade publicado em 11 de maio. Não fosse a ausência do desabafo do ex-presidente Lula da Silva sobre o esclerosamento do PT no topo de todas as manchetes de primeira página, a semana que começou no sábado e terminou na última sexta-feira teria recuperado os descaminhos da anterior.


Lula fora da manchetíssima, portanto, foi um erro grave. Como também ficou fora da primeira página, o erro se tornou gravíssimo.


Poderia ter estado em chamada conjunta com as novas bobagens do prefeito Luiz Marinho que, naquela edição, voltou a atacar este jornal. Portanto, a melhor resposta à epilepsia vernacular de Marinho foi dada por Lula da Silva, seu dileto primeiro amigo. Já imaginaram Marinho e Lula, numa montagem gráfica, olhando um para a cara do outro, o primeiro dizendo que este jornal é uma porcaria, como disso, e o segundo afirmando que o PT virou o fio?
 
Costumo dizer que as manchetíssimas são o resumo do jornal como um todo. Seja qual for o jornal. Este Diário vive nova fase, de rompimento com forças que o sequestram ao longo dos anos, quando a riqueza regional com a comissão de frente da industrialização poderia ter fomentado acúmulo de conquistas editoriais pétreas.


Essa turma de malfeitores é formada por pessoas e entidades que não estão à altura das demandas econômicas e sociais. Essas mesmas pessoas e essas mesmas instituições, com os mesmos nomes ou com antecessores do mesmo quilate, são em larga margem individualistas, quando não grupais, voltadas a interesses próprios. E a sociedade como um todo que se lixe.
 
Vespeiros e muito mais
 
Ao começar a mexer no vespeiro do mercado imobiliário, ao cutucar as associações comerciais, ao apontar as fissuras do setor industrial, reconhecendo a desindustrialização, ao pegar no pé dos prefeitos entre outros motivos porque não dão à Educação o devido cuidado, ao fazer tudo isso mesmo que de forma ainda reticente, este Diário sinaliza que contribuirá para novo perfil de representatividade social.


Aliás, é justamente por estar atento e mesmo monitorar essa nova postura, inclusive com o apontamento de determinadas direções, que este profissional entende que não é ombudsman, mas muito mais que ombudsman desta publicação. Seria ombudsman se atuasse com estrutura física e de recursos humanos, além de olhar de ombudsman, sobretudo no relacionamento com os leitores. Minha posição é diversa. Fico como sentinela prontíssima para intervir. Contribuo a pedido deste próprio jornal com a ocupação de espaço conceitual na sociedade, apertando-a no sentido de que saia do marasmo sistêmico.
 
Fragmentação atrapalha
 
É natural que este Diário não pode frustrar expectativas. Terá de passar por cima de muitas dificuldades sobrepostas desde muito tempo. Principalmente de limitações do quadro de Redação. Fosse o Grande ABC megacidade, não região, deformação patrocinada pelos emancipacionistas do século passado, haveria menos complicações à prospecção de informações.
 
Imaginem os leitores como dá trabalho atuar em sete municípios conurbados, mas com a realidade de bicho de sete cabeças? Pautas de caráter regional, mais elucidativas em vários pontos, são muitas vezes desconsideradas em favor de abordagens municipalistas. A linha de produção diária assim determina o encontro com os limites de horários pré-estabelecidos.
 
Vou dar um exemplo pedagógico: na sexta-feira última a manchetíssima versou sobre novos investimentos de Mauá em Segurança Pública, com a instalação de mais câmeras em áreas estratégicas. Em nome de uma regionalidade explicativa sobre o tamanho da encrenca da criminalidade o ideal seria que a reportagem recolhesse informações das demais cidades, inclusive em termos comparativos, e que incluísse dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado sobre práticas criminais. Aí estaria encaminhada matéria de maior peso. Fosse o Grande ABC apenas uma cidade, com apenas um secretário para cada área específica, como, por exemplo, é São Paulo, a cobertura seria menos trabalhosa.
 
Falta força-tarefa
 
Embora tenha de levar a territorialidade dividida e multifacetada da região em conta, a observância do produto que recebo todos os dias em meu domicílio não pode prescindir do olhar de assinante, de leitor, porque é esse olhar com que todos igualmente contemplados todas as manhãs medem a qualidade do jornal. Provavelmente com menos conhecimento técnico, mas com abundância de sensibilidade.
 
Justificando a restrição ao esquecimento das históricas declarações de Lula da Silva na primeira página, sobretudo como manchetíssima, tudo seria resolvido com pequena força-tarefa. O que fariam profissionais para transformar em regionalidade as informações que os jornais deram em destaque? Simplesmente adaptar o conteúdo, agregando fatos históricos sobre o surgimento do PT na região, embora seus líderes de então tenham preferido um colégio da Capital como local de batismo.
 
Gostemos ou não – e isso fica a critério de cada um – Lula da Silva e seus seguidores, inclusive os sindicalistas da CUT (Central Única dos Trabalhadores) que partidarizaram o movimento que deveria estar limitado à esfera econômica, são frutos da região. Somos, portanto, a manjedoura desses irmãos siameses.


 


Desmanche de cidadania
arrefece força do jornal*
 DANIEL LIMA – 05/07/2015
 
Demorou um bocado para este Diário chegar a números consolidados sobre roubos e furtos de veículos de modo a justificar a luta pelo rebaixamento do preço de apólices de seguros na região. Uma das manchetíssimas (manchete das manchetes de primeira página) desta semana abordou o primeiro ano de execução da Lei do Desmanche. E os dados estão lá, clarificados. Já temos histórico de 12 meses de viés de queda de registros criminais na modalidade. Está na hora, portanto, de as companhias de seguro reprogramarem custos, reduzindo-os sem pestanejar. Entretanto, nada até agora foi anunciado. E não o será se a cidadania regional seguir adiante nessa pasmaceira geral.
 
Faço a seguinte pergunta: cadê as OABs, as associações comerciais, os Ciesps, o Clube dos Prefeitos, as entidades diversas que não se mobilizam para dar continuidade à empreitada deste jornal? Querem a resposta? A inapetência é coletiva, a vagabundagem de interesses corporativos e pessoais é generalizada.
 
Está certo que pouco fizemos ao longo dos tempos para merecer alguma coisa que resvale no conceito de cidadania. Não me venham com a história da Carochinha de que o movimento sindical foi um divisor de águas na região. Embora importante, Lula da Silva e seus aliados que compõem a dinastia sindical sempre pensaram e agiram para favorecerem-se mutuamente. Sociedade organizada uma ova. Sempre tivemos grupos organizados em torno de vantagens comparativas.
 
Latifundiários urbanos
 
Quando a Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) desfraldou a bandeira de revolta no primeiro mandato de Celso Daniel, começo dos anos 1990, ao condenar o aumento de valores do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) não havia aderência ao conjunto da sociedade. Prevaleciam espetadas individuais e grupais de latifundiários urbanos ressentidos porque teriam de pagar quirelas a mais pelas terras especulativas. Tanto que muitos deles, acredite quem quiser, não pagam IPTU desde então. Estão sempre à espera de anistias em várias modalidades, na forma de Refis.
 
Vamos esperar o quê desta Província? O caso do excesso de custos de seguros de veículos é um bom teste para ver se somos capazes de sair da pasmaceira coletiva. Duvido que, por mais que este jornal e outros tantos batam nessa tecla de insatisfação, exista quem decida reagir. As unidades da Ordem dos Advogados do Brasil na região bem que poderiam lançar-se a essa luta. Teriam tudo para se mostrarem presentes no seio da sociedade. Mesmo que apenas para minimizar a covardia organizada de fugir de agendas mais belicosas, as quais, invariavelmente poderiam provocar choques indesejáveis, sobretudo com os mandachuvas da politica, aos quais seus dirigentes estão inabalavelmente atrelados.
 
Mesma manchetíssima
 
A manchetíssima sobre o primeiro aniversário da Lei do Desmanche e a mensagem embutida na questão, voltada à exorbitância dos custos com seguros de veículos, compensaram fartamente alguns deslizes deste Diário durante a semana. O maior desses casos foi a manchetíssima de domingo passado sobre a pretendida nova ocupação econômica das áreas ociosas da Avenida dos Estados. Uma manchetíssima repetida, porque foi publicada quase que um ano antes, com a mesma tipologia informativa, embora com outro porta-voz da Administração Grana.
 
Sei que a quase totalidade dos leitores não se lembra da manchetíssima do ano passado para desaprovar a manchetíssima deste ano, mas não custa à Redação um cuidado maior com a memória de questões regionais tão importantes. A esperteza de Carlos Grana ao mais uma vez prometer mudanças na Avenida dos Estados é antiga artimanha de gestores públicos em geral que, como os jornalistas, buscam posição de destaque nas manchetes de primeira página dos jornais.
 
O pior daquela manchetíssima do Diário do Grande ABC é que se perdeu ótima oportunidade de repetir a manchetíssima publicada no ano passado, mas com outro direcionamento. Era sopa no mel uma abordagem que mostrasse que, após um ano, a secretária de Desenvolvimento Econômico Oswana Fameli reproduzia praticamente tudo o foi dito em julho de 2014 pelo então secretário de Gabinete, Thiago Nogueira, sobre a disposição de mudança da lei de uso e ocupação do solo.
 
Interpretação ocasional
 
A reportagem sobre a nota 9,25 atribuída pelo prefeito Luiz Marinho à demitida secretária de Educação Cleuza Repulho, concorrente ao prêmio de servidora pública mais enrolada com o Ministério Público, alcançou grau de interpretação que falta à maioria das matérias não só deste jornal, mas da maioria dos jornais diários impressos do País. A ideia de neutralidade que se disseminou na mídia impressa é uma aberração que leva à preguiça informativa e afasta o leitorado em busca de algo que transcenda o puramente factual. Não à toa o que mais se lê hoje em dia são colunas de opinião.
 
Pretendia dedicar esta coluna hoje a um breve tratado sobre gestão espacial de jornais impressos. Iria discorrer sobre a importância de ter na ponta do lápis a centrimetragem disponível à ocupação redacional em cada edição e uma engenharia que contemplasse combinação de qualidade e oportunidade dos textos. Fica para outra ocasião. O assunto foi atropelado pelo desmanche da cidadania que jamais tivemos, mas não era tão escrachadamente sofrível como nestes tempos.


 


Melhor manchetíssima
não foi manchetíssima*
 DANIEL LIMA – 12/07/2015
 
Na semana que passou a melhor manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) deste Diário não foi uma manchetíssima. Calma leitores que não há nada de errado no enunciado. A melhor manchetíssima foi uma fotografia gigante publicada na primeira página colhendo um aposentado de Santo André que teve sua cadelinha Cindy encontrada e devolvida. O flagrante assinado por Celso Luiz foi pungente -- mas muito mais que isso. Talvez este jornal devesse adotar o Projeto Cindy como tradução da Carta do Grande ABC publicada na primeira página de 11 de maio último, quando completou 57 anos de circulação.
 
Muito além da emoção que perpassou aquela foto com uma legenda explicativa especial, o reencontro de Cindy com seu dono de 82 anos condensa a regionalidade que deve pautar esta publicação. Enquanto houver um leitor a ultrapassar os limites convencionais de consumidor de informação, transformando-se em agente de solidariedade, este jornal não poderá perder o foco de que seu principal limite, sempre conectado ao mundo, são os 840 quilômetros quadrados que envolvem os sete municípios.
 
Multiplicidade de agentes
 
Como os leitores deste jornal não são apenas solidários, mas também consumidores, torcedores, motoristas, frentistas, dentistas, empresários, engenheiros e sindicalistas, entre tantos de uma lista sem fim, imaginem o tamanho da responsabilidade em cada centímetro quadrado de texto que ganha a forma da publicação?
 
A mistura de satisfação de ver um produto reconhecido em situações só aparentemente prosaicas, como a da cachorra que retornou a seu dono graças a uma leitora da publicação, e o peso implícito da relação com os destinatários do produto a cada manhã que se descortina, forma o escopo de uma atividade profissional que não pode tergiversar, sob pena de cristalizar frustrações. Ao juntar leitores que jamais se viram mas que tiveram Cindy como elo, este Diário comprovou-se elemento institucional nem sempre reconhecido.
 
Proximidade aguça sentidos
 
Fazer jornalismo regional impresso ou digital possibilita estabelecer baita diferença em relação aos veículos de maior porte e de abrangência nacional, como Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo. O que pareceria descartável àquelas publicações, sem o mesmo grau de adensamento e foco de leitores, tornou-se decisão editorial sábia.


Aquela cachorrinha mostrou que a turma da Redação que decide o que fazer com a massa de reportagens de cada dia não perdeu o faro para distinguir quem vai ganhar a corrida de espermatozoides de manchetes, manchetinhas, manchetonas e manchetíssimas de primeira página.
 
Linha Maginot automotiva
 
Mas este Diário precisa cuidar mais de um flanco ao qual já me referi e que se tem convertido em algo como uma Linha Maginot, por onde perde senão a guerra -- porque a guerra pela informação regional o jornal não haverá de perder jamais -- mas uma batalha importantíssima: a crise na indústria automotiva elimina milhares de empregos e milhões em consumos, mas ainda não obteve do comando da redação reconhecimento semelhante ao da cachorrinha que subverteu o conceito de manchetíssima.
 
Este Diário está perdendo por placar largo, na média de produção e de abordagens, a cobertura da crise automotiva para as maiores publicações do País, especialmente para o jornal Valor Econômico. Ou seja: está atrás num jogo decisivo no próprio campo.
 
O que pergunto é simples e direto: se uma cachorrinha tão simpática comove a sociedade, porque não faltaram leitores a apontar aquela foto com encantamento, o que dizer de milhares de trabalhadores que viraram estatística porque, além de patetices de ordem federal, o sindicalismo cutista dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema está muito aquém do compromisso que jamais teve com a sociedade em geral?
 
Impactos da crise
 
Quem conhece a economia do Grande ABC sabe que estamos vivendo a pior crise da história. E olhem que já passamos por turbulências terríveis. A crise é a pior da história não propriamente pela extensão temporal e mesmo pelos desajustes na relação entre capital e trabalho. Essa crise não dura ainda tanto como nos anos de chumbo do presidente Fernando Henrique Cardoso, mas os impactos são proporcionalmente muito mais destrutivos. Até parece que São Bernardo, capital econômica regional, não perdeu 23% do PIB Industrial em 2012, último dado disponível pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), quando os estragos foram relativamente bem menores que nos últimos 12 meses, ou mais restritivamente ainda nos últimos seis meses.
 
Este Diário teve a honradez ético-editorial de assumir mea culpa por desprezar continuamente no passado a persistente desindustrialização da região. Por isso não pode esperar tempo algum para ter novo encontro com os fatos atuais. Este jornal precisa se render à realidade da estrondosa brutalidade do desaquecimento econômico que a região vive por conta de uma combinação sinistra de fatores macroeconômicos nacionais somados a fragilidades estritamente locais, provocadas, entre outras razões, pelo mandonismo corporativista de um sindicalismo partidário que ignora tudo que está fora das montadoras e das autopeças.


 


Sobram armadilhas na
trilha do regionalismo*
 DANIEL LIMA – 19/07/2015
 
O potencial de aceleração do projeto de regionalismo editorial deste Diário depende tanto de fatores internos (da corporação em si) como de fatores externos (especialmente de lideranças da sociedade). Não dá para acreditar que a maquinaria do provincianismo ceda espaço à regionalidade sem imbricamento entre este veículo e agentes sociais. Por isso, a interdependência não pode ser subestimada. E nesse ponto, uma reengenharia editorial é imprescindível. A reestruturação espacial dos insumos deste jornal emerge, portanto. Clichês que protejam o jornalismo voltado fortemente aos sete municípios de quase três milhões de habitantes precisam ser relativizados, quando não bombardeados.
 
Por exemplo: dizer que o buraco da rua tal é mais importante que um acontecimento fora do território regional não corresponde compulsoriamente às necessidades locais. Ainda nesta semana este Diário deu ênfase semelhante a um buraco de rua e uma nova sessão sobre a reforma política. É claro que há equívoco no tratamento. Reforma política interessa diretamente à regionalidade. Ainda mais agora que pegou fogo no Congresso Nacional, saindo da pasmaceira de muitos anos.
 
Este jornal precisa diagramar a ocupação de espaços de acordo com a Carta do Grande ABC de 11 de maio último, quando listou os 10 pontos cardeais que alimentariam a Redação. A compartimentação convencional precisa ser mais flexível. Há carga excessivamente valorizadora da política regional, proeminentemente varejista, em detrimento da economia e de seu entorno. Dá-se ênfase excessiva a temários miúdos da política regional e subestimam-se transformações no tecido econômico com marcantes implicações sociais.
 
Obstáculos a superar
 
Readequar os espaços conforme a Carta do Grande ABC exige planejamento e monitoramento que levem em conta alguns quesitos centrais. Pesa a qualidade de cada texto produzido, bem como a oportunidade da informação. Sem dizer que a institucionalidade da temática deve ser combinada com a importância histórica do fato. O posicionamento espacial tanto na primeira quanto na página interna também emite sinais de adequação à estratégia traçada. A territorialidade de circulação do produto tem peso relativo também crucial na edição de cada dia.
 
Tudo isso pode parecer abstrato aos leitores. Em resumo, diria que em igualdade de condições matérias regionais que reúnem potencial de disputar espaço de primeira página e também interno terão de submeter-se a critérios de classificação. A melhor maneira de evoluir tendo como base um conceito indiscutível é exigir que cada matéria agendada seja encarada como manchetíssima da edição. Elevar a competitividade interna ao limite máximo é uma maneira de dar sustentação ao processo de amadurecimento do produto.
 
Dificuldade operacional
 
Na semana que passou o que se verificou no conjunto de informações deste Diário, as quais estão sumarizadas na primeira página, foi uma dificuldade impressionante de enquadrar a melhor notícia. Sente-se que se operaram ações a fórceps. As escolhas nem sempre foram as melhores e isso não deve surpreender. Quando se trabalha no limite das forças, os riscos agigantam-se.
 
Um exemplo foi a manchetíssima sobre os 25 anos do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). A humanização da reportagem foi apreciável, mas faltou a dimensão de resultados do período que, no dia seguinte, o Estadão costurou num texto recheado de estatísticas e informações suplementares.
 
Teria sido preferível que a edição deste Diário destacasse em manchetíssima, com um pouco mais de agregado de informações, a retroalimentação de um monstro corporativista chamado Museu do Trabalho e do Trabalhador de São Bernardo, que terá novo aporte financeiro do governo federal. A matéria que ocupou meia página interna poderia ser mais densa, mas mesmo assim reunia mais força de sedução do que o Estatuto da Criança e do Adolescente nos termos em que foi colocado.
 
Forçada de barra
 
Também houve forçada de barra na manchetíssima de domingo passado sobre a redução dos valores de seguros de veículos por conta do rebaixamento dos índices de roubos e furtos. A queda de 1,85% não justificou a relevância da reportagem em primeira página. Até porque, o texto é contraditório ao deixar vazar, na voz de um especialista, que a queda desprezível e não identificada se nominal ou real, porque não há menção à inflação do período analisado, estaria vinculada ao sistema financeiro, não necessariamente à área de Segurança Pública.
 
Ou seja: as companhias de seguro teriam congelado ou mesmo recuado os índices de correção por conta de ganhos financeiros. Talvez tenha havido outro fator mais forte -- caso da recessão econômica que leva empresas de todos os setores a reduzir preços para não afugentarem ainda mais a demanda.
 
Por outro lado, uma reportagem que poderia render manchetíssima se adotado enfoque diferente, refere-se ao consumo de água na região. A quantidade de líquido economizado não foi devidamente valorizada em termos que facilitassem o entendimento das conquistas da política do governo estadual. Os 10,4 bilhões de litros poupados atenderiam a 260 mil pessoas durante um ano, o equivalente às populações de São Caetano e Rio Grande da Serra, segundo este Diário. Esse gancho, guindado à abertura da reportagem ao invés de discreto miolo, possivelmente poderia garantir a manchetíssima. A manchetinha de primeira página e a manchete de alto de página interna foram burocráticas, sem apelo à audiência.


 


Pênaltis desperdiçados
complicam resultados*
 DANIEL LIMA – 26/07/2015
 
Manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) é espécie de penalidade máxima no futebol. Não qualquer penalidade máxima, mas penalidade máxima assinalada pelo árbitro no último minuto de jogo. Gol feito, vitória conquistada, é possível esquecer ou desprezar erros cometidos durante a partida. Gol desperdiçado é tropeço que realça a falta de competência para vencer, mesmo que a equipe tenha feito boa partida.
 
Pois no resumo de penalidades máximas deste Diário durante a semana que começou sábado passado e terminou na sexta-feira seguinte, mais derrotas que triunfos se contabilizaram. Não esperava discorrer sobre aspectos varejistas deste Diário, mas é indispensável assinalar que, por mais que pareçam circunstanciais, as manchetíssimas daqueles sete dias são denúncias de fissuras estruturais. Vamos à cronologia e à breve análise do material.
 
1. Manchetíssima de sábado, 18 de julho: “ABC demite em apenas um mês quase o dobro do primeiro semestre de 2014”. Não havia assunto mais interessante naquela edição, mas as perdas de empregos industriais, atividade que modula a economia regional, poderiam ser mais realçadas. A reportagem de página interna só aborda a queda de emprego industrial no final do texto ao apontar 10,3 mil demissões no período.
 
2. Manchetíssima de domingo, 19 de julho: “Diretor que chamou Lula de Brahma tem contrato com governo Marinho”. Nada que consubstanciasse eventual roubalheira foi revelado. Contava com mais força de topo de primeira página uma matéria de chamada discretíssima: “Pacientes do ABC têm dificuldades em encontrar vagas nas 372 UTIs”. O assunto poderia também ser mais bem explorado na página interna.
 
3. Manchetíssima de segunda-feira, 20 de julho: “Exportações da região caem pela segunda vez seguida no 1º semestre”. A matéria é confusa. O título que teria consonância com os dados deveria ser nestes termos: “Exportações da região caem pelo terceiro ano seguido no 1º semestre”. A chamada de primeira página dá sustentação a esse enunciado.
 
4. Manchetíssima de terça-feira, 21 de julho: “Capacidade de armazenar água em S. Bernardo é duplicada pelo Estado”. Havia alternativas bem melhores. Caso da possibilidade de rodízio de água em Santo André, que este jornal amenizou com a seguinte manchete: “Sabesp propõe diálogo com Grana sobre vazão na cidade”. Enquanto isso, o Estadão, no alto de página interna, explicitava negociações entre a estatal paulista e o Semasa que podem descambar na redução do fluxo de atendimento, em prejuízo da população. O armazenamento em São Bernardo, com o novo investimento do governo do Estado, é um pingo d’água no oceano de preocupações, porque equivale a três piscinas olímpicas. Água por água, a água de Santo André teria mais apelo e impacto. Também era forte candidata à manchetíssima a manchetinha “Com queda na receita, Sto. André vai acionar devedores na Justiça”. A reportagem abriu página interna, embora pudesse ser muito mais densa.
 
5. Manchetíssima de quarta-feira, 22 de julho: “Pirelli demite 121 trabalhadores”. A reportagem falha tremendamente porque não dá a configuração do setor de pneumáticos no País, a qual explica a onda de demissões e de outros recursos de redução de custos do trabalho. No Editorial da mesma edição este Diário vinculou incorretamente as demissões a eventuais negociações que transformaram ou estão prestes a transformar a multinacional italiana em multinacional chinesa.
 
6. Manchetíssima de quinta-feira, 23 de julho: “Eletropaulo corta luz do Paço de Ribeirão por falta de pagamento”. Experimentem os leitores a seguinte manchetíssima: “Prefeitura de Ribeirão Pires corta até papel higiênico e pode ficar sem luz”. Não dá para comparar. E, mais que isso, seguiria rigorosamente o texto de página interna. Um texto burocrático, que fez referência suplementar à emblemática falta de papel higiênico em setores administrativos da Prefeitura. Além de tudo isso, a manchetíssima errou no tempo do verbo ao dar o corte de energia como decidido, algo que só se consumaria no dia seguinte se o a Administração não interviesse e abortasse a operação, como ocorreu.
 
7. Manchetíssima de sexta-feira, 24 de julho: “Obra em S. Bernardo começa só após vencer o prazo de entrega”. Uma matéria confusa que, em última instância, não é novidade no mercado de incompetência de gestores públicos. Muito, mais muito mais importante para ser alçada à manchetíssima, deixando o posto de manchetinha, era a matéria retratada no seguinte título: “Paulinho Serra deixa governo Grana sem dizer se irá disputar Paço de Santo André”. Um título que poderia ser elevado à condição de manchetíssima mas, com enunciado muito mais incisivo. Algo como: “Paulinho Serra abandona PT em crise nacional e acena com candidatura à Prefeitura”. A matéria, que abre a página interna de Política, também se distanciou da expectativa dos leitores. A saída do tucano que virou neopetista constava de todas as mesas de especulações havia mais de 30 dias. Uma reportagem além da demissão, que retratasse a atuação de Paulinho Serra como secretário de Mobilidade Urbana, frequentou apenas a imaginação dos leitores mais críticos e atentos.


 


Quem disse que jornal
perdeu embocadura?*
 DANIEL LIMA – 02/08/2015
 
Quem acredita que jornais impressos estão com munição esgotada nestes tempos de plataformas digitais, especialmente de redes sociais, precisa relativizar epitáfios. Ao debelar incêndio de insensatez dos legisladores de Diadema, que pretendiam autoconcederem 49% de reajuste salarial, este Diário mostrou do que é capaz se não abrir mão de um editorial incisivo, persistente, incômodo e até mesmo novelesco. Contando com o suporte da versão online e tendo o providencial respaldo, no campo de luta em Diadema de forças vivas da comunidade, este Diário ajudou a acabar com a farra de uma maioria encabrestada pelo Executivo e de uma minoria sempre disposta a arrumar brechinha para se locupletar -- como é a tradição dos legislativos desta Pátria.
 
Foi uma combinação perfeita. Deveria servir de referência a novas jornadas dinamitadoras de escândalos. Já imaginaram se houvesse tido em Santo André algo semelhante à reação de Diadema quando o promotor criminal Roberto Wider Filho só encontrou larápios entre servidores públicos no escândalo do Semasa ou se o Legislativo de São Bernardo fosse pressionado por forças vivas da sociedade a exigir o reenquadramento legal do empreendimento Marco Zero, da MBigucci, desavergonhadamente protegido pelo prefeito Luiz Marinho?
 
Complementaridade recíproca
 
Abundam casos que frustraram a expectativa de quem quer ver o Grande ABC tomando rumo semelhante ao da Operação Laja Jato. Mas o que fazer se uma andorinha só não faz verão? Este Diário é tão importante para a comunidade regional que, exatamente por integrar o meio ambiente social e econômico, só alcançará musculatura de mudanças de que precisamos se houver ressonância às inúmeras coberturas que realiza. E a recíproca é verdadeira: na medida em que a sociedade se mobiliza sobre determinadas questões, o engajamento deste jornal deve ser compulsório.
 
Ou seja: jornal impresso respeitado, qualquer que seja, jamais perderá protagonismo social nestes tempos em que, repetimos, a audiência de alternativas tecnológicas digitais parece encaminhar-se à popularização irrefreável. As redes sociais foram peças importantes do dominó de energia cívica que pulverizou os vereadores de Diadema, assim como a mobilização pessoal, nas ruas, de gente inconformada com a sem-vergonhice da proposta aprovada num primeiro movimento. Entretanto, sem a base sólida do jornal impresso, materializado em cada página física, sem isso, possivelmente o desfecho teria sido outro.
 
Vivemos tempos de interatividade, de compartilhamento de comunicação, mas a gênese segue a ser o veículo impresso. Os vereadores de Diadema estão encalacrados. Sabem que continuam vigiados e que não darão rasteira regimental para aprovar o descalabro.
 
Água abundante
 
A cobertura do caradurismo dos vereadores de Diadema marcou uma semana de recuperação editorial deste Diário. Suplantou-se largamente o período imediatamente anterior. Outro tema ao qual repórteres e editores não dão folga é a série de iniciativas da Sabesp para reduzir a perda de água na região, seja com investimentos, seja com fiscalização. Foram três matérias durante a semana que passou, com direito a igual número de manchetíssimas, com dimensionamento das conquistas. Possível balanço geral seria publicado para reforçar abordagem sincronizada com a Carta do Grande ABC, publicada em 11 de maio último. A corda no pescoço do abastecimento de água é artigo de primeira necessidade no cotidiano de milhões de habitantes dessa região.
 
Também foi ponto marcante entre as edições da semana deste jornal a cobertura especial da atuação do jornalista Édison Motta, morto precocemente aos 62 anos. Abriram-se páginas em homenagem a um dos profissionais que ajudaram a construir a marca deste jornal, inclusive com a conquista de um Prêmio Esso juntamente com Ademir Médici, colaborador especializado em memória. A valorização de especialistas em várias áreas que contribuíram com a história da região deveria constar dos radares da Redação muito além de homenagem, mas sobretudo como exemplo às novas gerações que se deixam encapsular pelo Complexo de Gata Borralheiro que tanto nos atazana.
 
Universidade relatorial
 
Mas nem tudo foram flores na semana. O texto relatorial de 10 anos de atuação da Universidade Federal do Grande ABC, reportagem que ganhou manchetíssima, distanciou-se do mínimo desejável para avaliar lucros e perdas dessa instituição cuja atuação ainda está aquém da velocidade de estragos na economia regional.
 
É verdade que faltam agentes públicos com isenção ideológica e agentes privados com capacidade intelectual para análise independente, crítica e reformista do desempenho da UFABC. Ainda se observa uma instituição estranha ao ninho regional, embora nos últimos tempos tenha ensaiado participação em organismos locais, casos da Agência de Desenvolvimento Econômico e do Clube dos Prefeitos.
 
Mas é muito pouco, embora não se deva duvidar de que, mesmo sendo pouco, é possível que seja maior que a ação de instâncias envelhecidas dessa geografia. O caso dos vereadores de Diadema, desalojados da convicção de que tudo podiam fazer, ainda é exceção de reação cidadã no Grande ABC. Para se tornar regra, falta muito. Este Diário deu prova de que pode multiplicar iniciativas que convirjam a novas empreitadas.


 


Jornalismo Luluzinho
consagra sindicalismo*
 DANIEL LIMA – 09/08/2015
 
Seria baita estupidez afirmar que o sindicalismo utiliza arsenal de marketing como focinheira nos veículos de comunicação -- jornais impressos como este Diário, por exemplo. Focinheira pressupõe algo perigosamente reativo e este Diário, como todos os demais diários impressos e digitais, está a léguas de distância do sentido rottiwaileriano desejado à atividade. É mais apropriado afirmar que os jornais, inclusive este Diário, são luluzinhos, raça que serve mais como decoração, como enfeite, do que como segurança providencial. O PPE (Programa de Proteção ao Emprego) é a prova viva do estado moribundo do jornalismo sequestrado por declarações que consagram sindicalistas de todos os naipes. Principalmente, no caso do Grande ABC, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, comandado por dinastia afinadíssima que começou com Lula da Silva no final dos anos 1970.
 
Duvido que não tenha saído exclusivamente do forno marquetológico do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a notícia sobre o primeiro acordo na região para a consumação do PPE, que contemplará a autopeças Rassini Automotive, de São Bernardo. A assessoria de imprensa do sindicato deve ter trabalhado um bocado. Praticamente em todas as modalidades de mídia as reportagens seguiram o mesmo padrão informativo. Apenas este jornal tomou cuidado de ouvir outros personagens. E o fez de forma relatorial.
 
Confidencialidade em risco
 
Tão relatorial que desprezou uma senda importantíssima. Trata-se do seguinte: o titular da unidade do Ciesp (Centro das Indústrias de São Paulo) em Santo André, Emanuel Teixeira, deixou nas entrelinhas um recado inquietante que talvez explique a relutância, entre muitas razões, de empresários adotarem o PPE, por mais que a situação econômica seja crítica. O entrevistado disse o seguinte, referindo-se à condicionalidade de as companhias que quiserem fazer a redução de jornada com diminuição de salários terem de provar ao governo que estão em situação financeira difícil: “É colocar o sindicato como gestor desse processo”.
 
Se não disse com todas as letras, Emanuel Teixeira afirmou o suficiente para o seguinte entendimento: os sindicatos que não prestam contas financeiras a ninguém, protegidos por legislação marota, podem deitar e rolar ao mergulharem nas numeralhas das empresas. Ou seja: os sindicalistas passam a contar com todo o inventário econômico e financeiro das companhias para fazerem uso como e quando bem entenderem. Quem quer dividir os segredos de uma empresa com sindicalistas numa operação supostamente benéfica a ambas as partes, mas com potencial de bumerangue na virada de esquina de um futuro qualquer?
 
Ferramental partidário
 
É claro que não foi apenas essa espécie de bomba relógio o aspecto que caracteriza o jornalismo de Luluzinho da mídia em geral no relacionamento com sindicalistas. Não é de hoje que os repórteres são presas fáceis de uma doutrinação muitas vezes equivocada em nome de suposta representação dos trabalhadores. No caso específico do PPE, está mais que na cara que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, de onde partiu a ideia do projeto, quer mesmo é amenizar a crise político-partidária que abala o PT, agremiação à qual está vinculado com a intermediação da CUT (Central Única dos Trabalhadores).


Inspirado em políticas de relações trabalhistas da Alemanha, o PPE é um engodo porque transmite a sensação de que resolverá os problemas do Grande ABC, ou mesmo os amenizará, quando, de fato, vai ser apenas um esparadrapo. Nosso drama é estrutural, de Custo ABC, e tem no sindicalismo com um dos principais vértices às resoluções necessárias. Um sindicalismo que teima em desprezar conceitos de produtividade e que, por isso mesmo, perde o jogo da competição no próprio território nacional.
 
Apenas grão de areia
 
Os 550 trabalhadores da Rassini que vão trabalhar 15% menos e vão perder 7,5% dos vencimentos são um grão de areia (0,22%) ante os mais de 247 mil operários do setor industrial com carteira assinada na região. A projeção do governo federal, de que o Programa de Proteção ao Emprego deverá contemplar até 50 mil trabalhadores, não fica atrás como atomização da medida diante de quase 10 milhões de carteiras assinadas na atividade no País.
 
O que os jornalistas de diários de todos os cantos do Brasil ainda não perceberam – e isso vem desde longe – é que os sindicalistas de setores mais politicamente engajados fazem de cada um deles gato e sapato com uma artilharia pesada de proselitismo econômico-social que não passaria por rigores que contemplem análise crítica independente.
 
Como o peso relativo da atividade industrial sob a influência do conglomerado CUT-PT na região é considerável e, principalmente, como o estado de condicionamento técnico e operacional da massa de indústrias da região está aquém, muito aquém, dos níveis nacionais e internacionais mais resilientes à concorrência, a cobertura sindical deste Diário é de permissividade acachapante. Nenhuma solução dos problemas industriais enraizados na região será alcançada sem o desmonte do conservadorismo sindical que, em suma, age como espantalho a novos investimentos no setor.


 


Desindustrialização
perde para políticos*
 DANIEL LIMA – 16/08/2015
 
Manchetíssima desperdiçada é como o tempo: não se recupera mais. Pois este Diário perdeu grande oportunidade de garantir sequência de matérias sintonizadas com um dos 10 quesitos que constam da Carta do Grande ABC, compromisso público com os leitores explicitado na primeira página de 11 de maio último.  Ao deixar escapulir a manchetíssima mais óbvia da temporada, na última quinta-feira, e, mais que isso, tornar mais importante uma notícia vinculada à possível introdução do Código de Ética no Legislativo de Santo André, este Diário executou o que seria no mundo televisivo um episódio típico do Inacreditável Futebol Clube. Ao perder o gol mais incrivelmente fácil desta temporada, este Diário deu provas de que ainda está distante dos próprios desígnios que se impôs como desafio de iluminar a regionalidade do Grande ABC. 
 
É claro que estou me referindo à manifestação dos 300. Não, não nada a ver com guerreiros gregos que viraram história cinematográfica. Os 300 de Santo André eram empresários, familiares de empresários e também trabalhadores alinhados aos empresários. Eles foram às ruas contra a crise econômica do País e também contra políticas econômicas locais. Eles entregaram uma carta aberta no Clube dos Prefeitos, onde o titular Gabriel Maranhão recebeu os líderes do movimento.
 
Erros não reduzem importância
 
Nenhuma das várias deficiências de organização, nem mesmo alguns dos personagens mais que manjados entre os manifestantes, minimiza a importância daquele evento. Primeiro, porque o grosso era integrado por gente que produz. Segundo, e principalmente, porque se tratou de mobilização inédita na história econômica da região. Somos carne de vaca em mobilizações de trabalhadores, especialidade dos sindicatos que não prestam contas a ninguém e gozam de todo o aparato de infraestrutura e proximidade com suas bases. Os empresários não têm determinação, coragem ou qualquer outro requisito para enfrentar as consequências de ir às ruas.
 
A manchetezinha de primeira página, na parte de baixo da primeira página, incluindo-se fotozinha de parte dos manifestantes com uma faixa de protesto, decididamente, cristalizou o Inacreditável Futebol Clube. Fico me perguntando: por mais que entenda o sofrimento de fechamento diário de uma publicação que tem de se virar nos 30 diante da complexidade de atender igualmente a sete municípios, como encontrar explicações para tamanha pisada no tomate.? Nenhum argumento resiste à lógica acaciana: colocar 300 malucos, no bom sentido do termo, para protestar contra o governo e cobrar ações dos administradores locais, não é nada comum.
 
Sobretudo porque se sabe que empresários, e todos eram empresários de pequenas empresas, têm horror à exposição fora das páginas de colunismo social.  Afinal, muitos são devedores compulsivos de tributos, os quais protelam quando não jogam às traças judiciais para cumprir compromissos mais candentes, como a folha de pagamento dos trabalhadores. É preciso ser imbecil juramentado para acreditar que ser empresário de pequeno porte neste País é algum privilégio.
 
Figurinhas carimbadas influenciaram?
 
A impressão para quem está do lado externo da Redação deste Diário é que ninguém se deu conta da importância da manifestação, mesmo muitas horas depois, quando a versão digital das publicações locais destacavam o evento. Quem sabe uma das explicações seja o que poderia ser chamado de vício de origem, dada a participação de algumas figurinhas carimbadas? Nada que, entretanto, pudesse sequestrar a importância do acontecimento. Ou algo que ocorre pela primeira vez na história dos capitalistas da região, de uma região dominada pelo trabalhismo sindicalista de viés socialista atrasadíssimo, não ganha corpos de vantagem sobre qualquer outro assunto do dia?
 
Aliás, sobre isso, a manifestação dos 300 perdeu a corrida pela manchetíssima para uma jogada política de um vereador de São Bernardo, opositor do prefeito Luiz Marinho, que, ao sensibilizar dois dos aliados do prefeito petista, levou à aprovação uma medida que supostamente ajudaria a construir mais uma torre de complicações ao atual titular do Executivo. Fosse um lance decisivo no jogo administrativo de Luiz Marinho, desses que derrubam secretariado e causam estragos na base aliada, tudo bem para merecer uma manchetinha.  Como tudo não passou, ainda, de peça pouco importante na engrenagem que sustenta o petismo do ex-sindicalista, a manchetíssima foi uma aberração. Um fato literalmente paroquial, de expressão tímida, diante dos 300.
 
Manifesto mal traduzido
 
Perder para o vereador Pery Cartola no Legislativo de São Bernardo e para o requentamento de uma proposta de regulamentação do Código de Ética no Legislativo de Santo André, prova que o manifesto dos 300 foi equivocadamente traduzido na Redação deste Diário. Para complicar ainda mais o jogo, o Código de Ética é conversa para boi dormir porque até os patos que frequentavam o Paço Municipal de Santo André, os patos de verdade, sabem que não será um codigozinho qualquer que doutrinará os legisladores a agir com lisura, entre outros predicados.
 
Por mais que se defenda a possibilidade de que o evento inédito nas ruas de Santo André não passaria de fogo de palha ou algo assemelhado, este Diário teria obrigação de prospectar o valor histórico ou farsesco da mobilização porque, entre outros motivos, o futuro não pertence aos jornalistas. Exceto se Deus constar da lista de repórteres desta publicação.


 


Representante do leitor
mais próximo de insumos*
 DANIEL LIMA – 23/08/2015
 
A partir desta segunda-feira estarei mais próximo dos insumos deste Diário. Uma newsletter vai me levar virtualmente aos responsáveis pela produção desse veículo de comunicação. Desta forma, darei um passo a mais em direção ao conceito de ombudsman que não sou, porque sou mais que ombudsman. Agora, com a newsletter, serei um quase-quase ombudsman. Desde o início de minhas atribuições neste Diário, em maio, imaginava relação mais intestina. Já frequento uma ou outra reunião de pauta. Agora invado, no bom sentido, o território que produz o jornal mais tradicional da região. O que batizei de “ContextoABCCorporativo” vai ser uma via de mão dupla que, entre outras vantagens aos leitores, possibilitará melhor acabamento de análises. Passarei a ter mais referenciais à emissão de juízo de valor das edições. 
 
Empresários encalacrados
 
A melhor manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) da semana que começou sábado e terminou sexta-feira foi registrada na edição de quinta-feira. “Sem propostas contra crise, empresários do ABC cancelam reunião”. Um verdadeiro chute provocativo no nariz empinado das lideranças empresarias que mobilizaram 300 manifestantes uma semana antes nas ruas de Santo André. A reportagem deixou os líderes da iniciativa numa sinuca de bico: ou apresentam na reunião programada para esta segunda-feira no Clube dos Prefeitos e na Agência de Desenvolvimento Regional material substancioso sobre a agenda econômica do Grande ABC ou precisarão recorrer a algum modelo de justificativa que não os desmoralize.
 
Trata-se, agora, de um jogo de gato e rato, de instâncias vinculadas fortemente ao setor público municipal e empreendedores principalmente do setor industrial, mais que atrasados no jogo de pressão para desacelerar o processo de empobrecimento da região. Algo que todos reconhecem nos bastidores, mas negam em público. A tarefa cabe à Imprensa.
 
Escolha equivocada
 
A edição de quarta-feira contava com três opções mais bem apropriadas à manchetíssima, mas a escolha foi uma senhora escorregadela. Preferiu-se o insosso título “Alckmin diz que governo Dilma vive crise ética e apoia atuação do PSDB” a pelo menos três vertentes: a recusa da Mercedes-Benz a participar de uma farsa trabalhista chamada Programa de Proteção ao Emprego; o anúncio de que bancos públicos vão injetar dinheiro subsidiado na cadeia automotiva para tentar levantar vendas que seguem a nocaute; e mais uma denúncia (e são tantas) contra o presidente do Clube dos Construtores Imobiliários, que também chamo de Clube dos Especuladores Imobiliários, Milton Bigucci, colhido em delito repetidamente por adquirentes de imóveis.
 
Qualquer um dos três temários seria muito melhor como manchetíssima do que a mais que conhecida avaliação do governador. A reportagem sobre a MBigucci foi a mais bem encaixada. Só faltou referência ao Ministério Público de Consumidor de São Bernardo que, lá atrás, denunciou o conglomerado de Milton Bigucci como campeão regional de abusos contra a clientela. Um adendo que reforçaria ainda mais o potencial de manchetíssima. “MBigucci desafia MP e segue a cobrar valores indevidos no mercado imobiliário” seria um título satisfatório.
 
Pobre manifestação
 
A manchetíssima praticamente compulsória de segunda-feira, das manifestações contra o governo de Dilma Rousseff, foi atropelada pelo custo da energia elétrica após se encerrar a farra dos subsídios, fartamente conhecida. “Conta de luz sobre 75% no ano” merecia apenas uma manchetezinha de primeira página. A regionalização das manifestações contra Dilma Rousseff e a corrupção na Petrobras que levaram brasileiros da região e de fora da região às ruas seria a tacada perfeita. Sobretudo se texto interpretativo expusesse as razões da baixíssima adesão de uma região cantada equivocadamente em verso e prosa como exemplo de participação política no País.
 
Santo André foi menos decepcionante ao levar manifestantes ao Paço Municipal, mas quem acompanhou de perto sabe que valeram ingredientes locais, de política partidária. Quem procurou nas páginas deste Diário o movimento das pedras da mobilização nos municípios locais deu com os burros nágua. O jornal preferiu priorizar a Capital, no mais puro gataborralheirsmo. 
 
Desafio à continuidade
 
Saindo do terreno do microjornalismo para o de macroplanejamento jornalístico, este Diário precisa estar mais atento ao que chamaria de novelização das coberturas. Um exemplo positivo de que o sequenciamento de matérias atrai consumidores de informação é a da história do morador de rua que, com seus três cães, encontrou a porta da felicidade nas páginas deste jornal. Finalmente ele conseguiu a solidariedade desejada para voltar à terra natal com os animais.
 
Esse caso aflorou a sensibilidade da equipe de jornalistas e reafirmou a importância desta publicação. O que não é pouco. O dia a dia de uma Redação brutaliza os profissionais premidos pelo fechamento editorial. Quanto à importância desse periódico, o sentimento se expressa nas mais diferentes ramificações da sociedade.
 
Da mesma forma que Simão e seus cachorros foram acompanhados com atenção e tensão, os temários que constam da Carta do Grande ABC exigem cuidado permanente.


 


Até que ponto OAB
tem credibilidade?*
 DANIEL LIMA – 30/08/2015
 
Há uma questão em suspense que tem tudo a ver com a Carta do Grande ABC publicada por este Diário na primeira página de 11 de maio com cláusulas pétreas de nova fase editorial. Trata-se do seguinte: por que a denúncia do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, unidade de Santo André, contra a Administração do prefeito Carlos Grana, não ganhou destaque na primeira página, com potencial de manchetíssima (manchete principal) da edição da última sexta-feira? Antes, recomendo que a resposta seja condicionada a duas vertentes.
 
Primeira: se o presidente da OAB-Santo André, Fábio Picarelli, conta com credibilidade, respeito e independência, a denúncia encaminhada ao Ministério Público deveria disputar não só o topo da primeira página como também, na página interna, a reportagem deveria estar acima de todas as demais, não abaixo.
 
Segunda: se o presidente da OAB-Santo André, Fábio Picarelli, não é um dirigente com credibilidade, respeito e independência, a denúncia encaminhada ao MP nem deveria ter sido publicada; ou poderia ser reservado microespaço, de simples registro.
 
Imaginem em Brasília
 
Para que os leitores entendam que não estou a ver fantasmas, faço a seguinte analogia: qual seria o comportamento dos jornalões brasileiros, Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo, se o presidente nacional da OAB anunciasse que recorreu ao MP para denunciar a presidente Dilma Rousseff em caso de corrupção administrativa? É claro que seria um Deus-nos-acuda.
 
É verdade que Dilma Rousseff caminha sobre corda bamba ante o bombástico escândalo da Petrobras, com envolvimento direto de seu partido, o PT, e também de algumas das agremiações da base do governo. No caso do prefeito Carlos Grana, temos situação diversa, mas nem por isso excludente de ação jornalística impositiva no sentido de reafirmar pressupostos da Carta do Grande ABC. Até prova em contrário, tudo que diz respeito à região tem este jornal como protagonista na intermediação de informação aos leitores.
 
Este Diário teria errado ao minimizar a denúncia, reservando apenas uma chamadinha de primeira página e ao enfiar a reportagem lá embaixo em página interna, discretissimamente, ou acertou em cheio porque, no fundo, no fundo, desconfia das intenções do presidente da OAB?
 
Teria Fábio Picarelli -- cuja entidade se omitiu em muitos dos escândalos dos últimos anos em Santo André -- decidido partir para uma disputa abertamente político-partidária ou, arrependido da omissão de vários anos, desfraldou a bandeira da moralidade pública?
 
Seja qual for a situação, houvesse este Diário iniciado com a intensidade desejada uma nova etapa editorial, na qual as fontes de informações não teriam o controle da pauta para se locupletarem, tudo seria diferente. A corrupção sugerida na Administração petista – essa é a lógica da denúncia que pretende atingir diretamente o então secretário de Mobilidade Urbana, Paulinho Serra, renunciante ao cargo para disputar a sucessão de Carlos Grana – é assunto para grande destaque sim. Um destaque que contemplaria para o bem ou para o mal o denunciante e também a compreensão da operação editorial pelos leitores.


Como encaminho esta coluna toda sexta-feira à noite para publicação aos domingos, é possível que tanto no sábado quanto hoje haja desdobramentos do caso. Tomara, mas não é possível reparar a edição de sexta-feira: a manifestação da OAB junto ao Ministério Público é assunto de elevadíssimo interesse público nestes tempos de Petrolão e, mais que isso, de tentativa de a OAB, em várias circunscrições, botar o dedo em feridas que há muito tempo pareciam não existir porque, em larga escala, a instituição optou pela política partidária replicada em Santo André.
 
Reage espera por cobertura
 
Outra questão que este Diário deve resolver é o futuro editorial do Reage ABC, movimento que foi às ruas de Santo André e, depois de colhido de surpresa pela reação do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Regional, reorganiza-se para influenciar o destino da economia local. Por mais que aquela manifestação tenha revelado vícios político-partidários, prevalece a inquietação sobretudo dos pequenos e médios empresários do setor industrial, parte importante de uma economia em frangalhos.
 
Deixar ao sabor dos ventos o acompanhamento da iniciativa enfraquece aqueles agentes econômicos. Este Diário não pode se esquecer de que um dos 10 pontos da Carta do Grande ABC é a chamada desindustrialização. Os manifestantes do Reage ABC, apesar de todos os pecados que cometeram na organização do evento e pós-evento, representam classe duramente impactada pela queda do PIB Industrial da região ao longo dos anos.
 
Para completar, este Diário foi coerente no tratamento à cassação temporária do direito do ex-prefeito José Auricchio concorrer à Prefeitura de São Caetano em 2016. Embora tenha deixado de dar o esperado destaque à decisão do Legislativo na edição de terça-feira, enquanto os demais veículos da região alçaram a informação à manchetíssima, no dia seguinte, revogada pelo Judiciário, a decisão contou com idêntico tratamento editorial. Bem diferente das demais publicações, que esconderam a notícia dos leitores.


 


Economia perde de
goleada da política*
 DANIEL LIMA – 06/09/2015
 
Qualquer semana dessas, se estiver com a macaca, vou aferir o total de caracteres, de palavras, dos textos dedicados à politica partidária e compará-los ao material publicado sobre a economia regional neste Diário. Para dizer a verdade, nem preciso dar a esse trabalho. A diferença é flagrante. Vivemos a maior crise econômica da região em todos os tempos e seguimos, como no passado, cedendo espaços generosos demais ao varejismo político-partidário-eleitoral. Ainda se fossem, em larga parte, sobre gestão pública no sentido nobre do termo, seria possível atenuar o desastre.
 
Os jornais da região se repetem na generosa cobertura de assuntos políticos cuja importância restringe-se a poucos agentes. Dá-se valor demais a uma atividade muito mal vista pelos leitores. Basta recorrer às pesquisas sobre o que os brasileiros menos respeitam: os políticos lideram a tabela de ponta cabeça.
 
No caso do Grande ABC, a submissão do noticiário econômico à espacialidade privilegiada de gente que não sai da zona do agrião da politica pela política é demais. Este Diário dará um salto em direção à sociedade consumidora de informações se decidir equilibrar esse jogo. Menos política, mais administração pública, mais economia regional. Eis uma conjugação perfeita para que a Carta do Grande ABC não patine -- como está a patinar.
 
Estatísticas furadas
 
Também este Diário daria um peteleco nas fontes de informações interesseiras se passasse a questionar determinados indicadores econômicos. O balanço mensal da Fipezap sobre o mercado imobiliário é enrolação sofisticada. E todo mundo cai no conto de dados edulcorados. A realidade das ruas, das construções, é muito mais grave do que quer fazer crer essa instituição das Organizações Globo e mantida no cabresto por grandes construtoras, muitas das quais em decomposição por causa da retranca nas vendas e a aceleração de distratos.
 
A queda média do valor do metro quadrado no Grande ABC – e qualquer corretor de imóveis sabe disso – ultrapassa a 20% nos últimos 12 meses. Pior que isso só a constatação que não há compradores.
 
Consumo desmilinguido
 
Aliás, este Diário sabe muito bem que a maré não está para peixe. Tanto que noticiou na edição de sábado passado que o comércio da região perdeu R$ 618 milhões em vendas neste ano. E vai perder muito mais. Instituições especializadas e sem rabo preso com anunciantes e mandachuvas da mídia projetam números ainda mais tenebrosos. Falta salário, sobra inflação e escasseia crédito. Uma infernalíssima trindade.
 
Por essas e por outras quando este Diário publica como publicou na edição de domingo passado que supermercados planejam expansão na região há algo de estranho no ar. Quem vai pagar a conta desses novos investimentos? É claro que os pequenos comércios. Então, por que os pequenos comércios não foram ouvidos. A reportagem deixa vácuo em cada parágrafo.
 
Milagre em serviços
 
Pior mesmo durante a semana foi digerir a informação do Dieese/Seade sobre o saldo de 30 mil vagas de trabalhadores no setor de serviços da região em julho, em contraste com o quadro metropolitano de perda de 103 mil postos de trabalho. Independentemente da metodologia, o contraste entre um Grande ABC em crise maior que a Grande São Paulo, porque somos dependentes demais do setor automotivo, não poderia deixar de ser questionado.
 
Nenhum jornal fez uma pergunta simples ao emissário de boas notícias da Fundação Seade e do Dieese: afinal, de onde saíram tantas vagas se é generalizada a crise no País? A explicação e a prova de que os números não são surreais mereceriam a manchetíssima da edição, não a veiculação da matéria em estado bruto.
 
Mauá encalacrada
 
Também o crescimento demográfico na região, publicado em reportagem da edição de sábado, 29 de agosto, poderia ser mais explorado. Faltou o que tem faltado à quase totalidade das matérias: contextualização em termos estaduais e nacionais. Não se deu, por exemplo, importância ao fato de Mauá ter explodido com o maior avanço relativo na região ao atingir 24,74% no período de 15 anos completados em 2014. Quase 40% acima da média regional. Por que Mauá cresce tanto e para onde tem se dirigido esse contingente? Rio Grande da Serra cresceu 30,23%, mas o menor Município da região, com 48 mil habitantes, não altera a regra do jogo de forma tão expressiva quanto Mauá.
 
Bandido vira suspeito
 
Para completar, o que chamaria de pré-judicialização de reportagens foi abalroada pela efervescência de fechamento editorial na edição de terça-feira. Na página de Setecidades o que foi chamado de suspeito de assalto e agressão na Avenida Dr. José Fornari virou bandido quando transposto à chamada de primeira página. Quem errou? Quem meteu no noticiário que o eletricista Fernando Nascimento dos Santos, embora tenha agredido e assaltado a assistente social Rosa Maria de Lima Costa, arrancando-a do veículo e atirando-a ao chão, não passava de suspeito. A reportagem não deixa dúvidas sobre o autor do crime. A inexplicável suspeição foi descartada na primeira página.  Há circunstâncias em que o excesso de zelo jurídico vira bomba de contrassenso jornalístico.


*Matérias originalmente publicadas no Diário do Grande ABC


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