Imprensa

Acisa é emblemática da
nova fase deste Diário*

DANIEL LIMA - 17/05/2015

A Carta do Grande ABC da primeira página da edição de segunda-feira, quando completou 57 anos de circulação, é um compromisso inédito deste Diário com seus leitores. Mesmo os leitores mais assíduos e antigos talvez não tenham notado a diferença entre o que está posto e o que já foi posto. Jamais na história desta publicação houve um movimento coordenado entre redação e direção para acabar com a farra dos improdutivos que infestam este território.


Essa é a grande diferença de tudo o que se fez antes, porque antes o Diário acreditava piamente nas individualidades e nas instituições da região, enquanto agora, até prova em contrário, desconfia de todos. É melhor assim, porque dessa semeadura o tempo dará frutos muito mais saudáveis.
 
A semana deste colunista abelhudo que sempre começa numa sexta-feira e termina na sexta-feira seguinte vai ficar prejudicada em análises porque a prioridade é a Carta do Grande ABC. Quem duvidava daqueles termos redigidos pelo secretário de Redação Sérgio Vieira teve a oportunidade de constatar na quarta-feira, ou seja, dois dias depois, que uma das fortalezas intocáveis nas páginas do jornal virou manchetissimazinha (segunda manchete mais importante depois da manchetíssima, a manchete das manchetes) numa reportagem crítica sobre uma realidade que vem do passado: as associações comerciais da região, lideradas politicamente pela Acisa (de Santo André) são extremamente omissas, quando não abusivas, na indolência com que tratam comerciantes e prestadores de serviços, entregues às baratas do descaso.
 
Peça publicitária
 
Quisesse este Diário propagar aos quatro cantos que os tempos são outros e que não está para brincadeira quando se trata de representar a sociedade regional, uma peça publicitária poderia ser fartamente disseminada. Os termos seriam mais ou menos os seguintes: “Que a Acisa, nossa velha companheira, nos desculpe, mas agora o Grande ABC está em primeiro lugar”. Ou seja: caiu uma das cidadelas mais emblemáticas de compadrios que este Diário cultivou no passado remoto e que, por razões que um dia poderão ser reveladas, esticou a vida inútil até outro dia.
 
A Acisa é mesmo um esqueleto institucional a ser exibido em praça pública como reduto de burocratismo e politização partidária acima dos interesses da comunidade. A entidade resume o perfil da maioria das organizações congêneres espalhadas por este País, vocacionadas a manter contatos de primeiro grau com autoridades públicas benemerentes com o dinheiro dos outros. Acabou nocauteada na imunidade que parecia eterna.
 
Há outras instituições fora do prumo e do rumo na região que igualmente deverão ter alicerces de inutilidades abalados pela nova linha editorial deste Diário. O empresário Ronan Maria Pinto entrará para a história do jornalismo regional deste País, uma história feita sobretudo de tutela dos mandachuvas e mandachuvinhas sobre a linha editorial das publicações, se seguir a incentivar os ditames prescritos na Carta do Grande ABC.
 
Processo demorado
 
É claro que esse será um processo longo, demorado e sujeito a contra-ataques, quanto não a recuos estratégicos que garantirão mais intensidade na recarga. Não se dinamita uma estrutura corroída num estalar de dedos. Haverá reações dos incomodados. A própria comunidade vai demorar a pegar no tranco. A via de mão dupla é o segredo do sucesso, ou seja, o jornal não alcançará objetivos de dedetização institucional da região se não contar com o suporte e a colaboração dos leitores.
 
As ratazanas que subtraem o futuro de uma geração que emerge numa região sistemicamente em crise vão espernear, mas precisam ser expulsas do paraíso de comodismo em que se meteram desde sempre.
 
Portanto, sugeriria aos leitores mais atentos que recuem alguns dias no tempo e guardem com zelo a primeira página da última segunda-feira. Da mesma forma devem agir os jornalistas deste Diário. Aquele texto é um compromisso com o futuro do qual ninguém deverá abrir mão.
 
Sem esconde-esconde
 
Este Diário, graças ao desprendimento do diretor de redação Sérgio Vieira, deu uma prova incontestável de que não está para brincadeiras e muito menos para preparar um jogo de esconde-esconde da verdade sob o manto de linhas impressas apenas para inglês ver.
 
Ao adicionar entre os 10 temas paradigmáticos da publicação o quesito “desindustrialização”, ao qual incorporou mea-culpa pelo passado reticente, errático e enrolador de acreditar em forças estúpidas que negavam insistentemente a queda do setor industrial do Grande ABC, aquele jornalista imantou um vínculo incondicional com os leitores. Ele quis dizer o seguinte: não vamos tolerar embromações; queremos contribuições para mudar este território.
 
Que as demais mídias da região sigam o exemplo deste Diário e deixem, em larga parte, de atuar como correia de transmissão de interesses muito bem orquestrados pelos poderosos de plantão, aos quais devem estar atentas porque o outro lado do balcão de interesses da comunidade em geral é ocupado por gente em constante pós-graduação para sequestrar a pauta nossa de cada dia. 
 
*Matéria originalmente publicada no Diário do Grande ABC


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