Mesmo sem o trecho sul do Rodoanel, São Bernardo atrai quantidade expressiva de centros de distribuição. Pelo menos três CDs se instalaram na cidade há pouco tempo: o da rede de materiais para construção Center Castilho, em setembro de 2004, o da Casas Bahia, em abril deste ano, e o da Leroy Merlin, igualmente especializada em materiais para construção e acabamento, em junho último. Além destes, a rede supermercadista Sonda projeta instalar mais um empreendimento do gênero no Município.
Isso significa que São Bernardo é o supra-sumo da eficiência logística e que, portanto, prescinde do trecho sul do Rodoanel? Nada disso. Basta lembrar que há exatos dois anos a Volkswagen transferiu integralmente para Vinhedo o centro nacional de distribuição de peças voltado para a rede de concessionárias. A operação que fatura R$ 700 milhões anuais bateu asas para o Interior paulista como muitas fábricas de autopeças acossadas pela globalização.
O paradoxo entre a São Bernardo que atrai CDs do Center Castilho, da Leroy Merlin e da Casas Bahia e a São Bernardo que afugenta o Volkswagen Parts & Acessories Center transmite lição importante: a cidade cortada pelas vias Anchieta e Imigrantes desponta como boa localização quando o principal destino dos produtos envolve o conjunto formado pela Baixada Santista e Grande São Paulo, incluindo a reluzente Capital. Mas a vantagem competitiva cai por terra quando o raio de fornecimento é mais abrangente e reserva participação especial ao Interior e outros Estados.
Travessia complicada
Como motoristas e empresas especializadas em transporte estão cansadas de saber, atravessar São Paulo para atingir as rodovias Anhanguera e Bandeirantes é um contra-senso sob a ótica da economia e da qualidade de vida. Por isso, o trecho sul do Rodoanel é peça fundamental para que a cidade se transforme em obra completa do ponto de vista logístico.
A aglomeração urbana em torno da Capital representa o filé mignon para gigantes de materiais para construção sedentos por densidade populacional. Por isso, o Center Castilho criou CD no Bairro Ferrazópolis, em área de 27 mil metros quadrados que já acolheu fábrica de motores e depósito da Brastemp, e a concorrente Leroy Merlin aportou em terreno de 90 mil metros quadrados. “A maior parte das 11 lojas está na Zona Sul de São Paulo. Além disso, a partir daqui é fácil fazer entregas no litoral” — explica Avelino Stahl, diretor do CD da Center Castilho.
A Casas Bahia pensou de forma análoga ao desembolsar R$ 44 milhões para construir CD em terreno de 216 mil metros quadrados. A área acolheu a Volks Caminhões e, mais recentemente, serviu de palco para a mobilização de sem-teto que culminou com o assassinato de um repórter-fotográfico. O galpão de 96,8 mil metros quadrados no quilômetro 23 da Via Anchieta proporciona redução de 80% no custo de entregas na área de influência formada por Grande ABC, Baixada Santista e Zona Leste de São Paulo. Para atender o Interior paulista e outros pontos mais distantes, entretanto, a Casas Bahia continua se valendo do CD de Jundiaí.
Rastros da desindustrialização
Em mais um sinal de que a distribuição pede passagem no rastro da desindustrialização, o CD projetado pelo Sonda também será erguido em área que já acolheu manufatura da Volkswagen. A rede supermercadista deve transformar o antigo prédio da Ala 21 em centro de processamento e embalagem de carnes e hortifrutigranjeiros para 11 unidades instaladas na Capital e uma
Se São Bernardo não é nenhuma Brastemp do ponto de vista logístico, ao contrário do sugerido pela atração de Leroy Merlin, Center Castilho e Casas Bahia, além do Sonda, o mesmo deve ser afirmado em relação ao potencial dos centros de distribuição para a economia da região. Os empreendimentos são bem-vindos na medida em que proporcionam reocupação de áreas ociosas ou degradadas, mas é recomendável ir devagar com o andor da comemoração porque os frutos socieconômicos não se comparam aos da indústria. Centros de distribuição acolhem milhões de produtos e vivem agitados pelo movimento de empilhadeiras e caminhões, mas agregam pouco valor e oferecem salários muito mais baixos que os do chão de fábrica metalmecânico. Se São Bernardo e o Grande ABC resolverem encarar para valer o desafio de recuperar pelo menos em parte o brilho econômico do passado, terão necessariamente de criar condições para adensar a manufatura, sem deslumbramento com a aterrissagem de entrepostos comerciais.
É por isso que LivreMercado alçou à reportagem de capa o inédito e audacioso plano de recuperação da cadeia automotiva regional anunciado por William Dib em agosto do ano passado. É bem verdade que, depois de atuar para que a Ford decidisse investir na produção de um novo automóvel compacto na fábrica do bairro Taboão a partir de 2008, mais especificamente ao promover readequação de valores de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e aproximar montadora e governo do Estado, o prefeito de São Bernardo e presidente do Consórcio Intermunicipal desacelerou o ritmo. Mas ele sabe que a única maneira de atrair autopeças e linhas de montagem que bateram em retirada é atuar em variáveis como custo da mão-de-obra, oferta de áreas industriais a custos competitivos e desgargalamento logístico com o trecho sul do Rodoanel. Esses foram os principais tópicos abordados no fórum sobre revitalização do Grande ABC automotivo em fevereiro último.
Autopeças fugidias
A multinacional francesa Valeo é exemplo emblemático de que a região responsável por 19% da produção nacional de automóveis e comerciais leves em 2005 está muito aquém do que poderia em matéria de adensamento de autopeças. A Valeo desativou fábrica de sistemas de segurança em Diadema em março último. Desativou e centralizou em nova planta, em Guarulhos, a produção então dividida entre as unidades de Diadema e do bairro paulistano da Cantareira. Em compensação, a companhia mantém
A conexão direta com o Porto de Santos é outro pilar de sustentação do centro de distribuição da Valeo
Ao se mudar de Diadema para Guarulhos, a Valeo ingressou no grupo das gigantes internacionais de autopeças que têm várias fábricas espalhadas pelo País, mas nenhuma na região que responde por um em cada cinco veículos brasileiros. Produtos da marca como embreagens, radiadores e limpadores de pára-brisas são produzidos em Campinas, Itatiba e São Paulo, além de Guarulhos. Caso semelhante é o da norte-americana Delphi, que tem sede administrativa
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