Imprensa

Não entrego o corpo, a alma e a
consciência por uma nova obra

DANIEL LIMA - 01/10/2015

Anunciei em agosto de 2013 e ratifiquei em abril do ano passado que comemoraria 50 anos de jornalismo com o lançamento de meu quinto livro, provisoriamente batizado de “50 Tons de Inconformismo”. Pois devo anunciar ao distinto público que, por absoluta falta de dinheiro, não poderei cumprir a promessa. Falta de dinheiro mesmo. Mas isso não significa que esteja a fazer convocatória a doadores a uma nova obra que reproduziria a Província do Grande ABC. Não fui e não vou correr atrás de patrocinadores. Houvesse nesta região uma instituição que cuidasse da memória para valer, sem injunções políticas, partidárias e econômicas, “50 Tons de Inconformismo” estaria programado e pronto para ser lançado neste primeiro de outubro.


 


Fiquei em dúvida se daria esse tipo de explicação aos leitores, mas a transparência assim o exige. Não posso ter duas palavras, duas imagens, uma para consumo público e outra para o interesse privado. Não tenho vocação dos malandros juramentos que atropelam a ética e a moralidade com barbeiragens institucionais e corporativas e ainda vão à Justiça para punir quem os critica porque supostamente sofreram danos em sua privacidade. Agentes de interesse público só querem benefícios midiáticos, mesmo quando cometem as maiores barbaridades.  


 


Mas, voltando ao quinto livro (os anteriores são Complexo de Gata Borralheira, Meias Verdades, Na Cova dos Leões e República Republiqueta) não vou negar que ficará uma ponta de decepção por não poder cumprir o prometido -- mas o que posso fazer se estamos numa Província?


 


Insumos se multiplicam


 


Diria sem esnobismo que tenho insumos para botar no prelo pelo menos cinco novos livros de 250 páginas cada um sobre a regionalidade da Província do Grande ABC em várias modalidades. Só de material que escrevi e editei nesta revista digital desde janeiro de 2009, quando a revista LivreMercado deixou de ter minha assinatura, só nesse período contabilizo quase quatro mil artigos. Dez por cento desse total caberiam em novas edições como coletâneas.


 


Duvido que apareça alma benemerente, sem anteparo que conflite com o conjunto dos textos selecionados para integrar o novo livro, e se disponha a financiar a obra. Não existe alma regionalista tão desapegada assim. Meu sonho sonhado era ter milhares de exemplares espalhados por escolas da região, porque nossa juventude está descolada de pressupostos de paixão pela terra em que nasceu ou cresceu.


 


Quando lancei Complexo de Gata Borralheira, em 2002, vivi grandes momentos de alegria, peregrinando por escolas. Sem contar que profissionais do ramo adaptaram o texto para um espetáculo no Teatro Municipal de Santo André na data em que Celso Daniel, recém-assassinado, completaria aniversário. Tanto aquela obra quanto as demais foram patrocinadas por empresas e instituições com as quais jamais mantive contatos. Foram agentes publicitários da revista LivreMercado que o fizeram. Não sou publicitário entre outras razões porque vender é uma arte e escrever com liberdade é o outro lado da moeda.


 


Quem sou eu para acreditar que o sonho se realizaria se nem as Madres Terezas receberam a atenção imaginada. Madres Terezas foram dezenas, quase uma centena, de mulheres que tirei do anonimato e as incorporei no seio dos formadores de opinião e dos tomadores de decisões na região durante a primeira década deste século. Não fosse o amigo Antônio José Monte, da Coop, as instituições que elas lideravam não teriam obtido nenhum tipo de investimento, principalmente em infraestrutura.


 


Alternativa digital


 


O que quero dizer com isso é que não tenho o direito de lastimar a ausência de uma alma boa ou de uma institucionalidade regional  para a produção e a distribuição de produtos editoriais que sirvam ao conjunto da sociedade como ferramenta de consulta e análise. Quem se diverte com isso são os bandidos da praça. Elas querem que querem ver a realidade subjugada, quando não atirada ao lixo.


 


Para a pouca sorte deles (não utilizo o verbete correspondente à falta de sorte porque destila maus fluídos) a Internet é a alternativa disponível para disseminar tudo o que penso. É claro que não tem a mesma riqueza cultural de livro impresso, pelo menos entre os leitores menos jovens, mas sempre é uma escapatória às tentativas de bloqueio da liberdade de expressão. Bloquear o direito sagrado da liberdade de expressão não é uma iniciativa que se configura tão somente com manipulações descaradas dos textos em artimanhas de subjetividades nos tribunais. Com maior frequência se dá diariamente com imposições econômicas, das quais poucos veículos de comunicação estão à salvo.


 


Não acredito que produzirei algum novo texto explicativo sobre “50 Tons de Inconformismo” que ofereça alguma novidade aos leitores. Já dei essa batalha por perdida. Mas que valeu a pena sonhar com uma quinta obra impressa, valeu. É melhor sonhar com algo que conta com valor intrínseco evidente do que festejar como se festeja por aí obras que não passam de bobagens ditadas pela vaidade de quem não é do ramo.


 


Tivesse me metido seara alheia em busca de patrocinadores, tenham certeza os leitores de que não faltaria dinheiro à empreitada. Como, entretanto, jamais invadi a área de especialistas em publicidade, os quais, aliás, no passado, garantiram a publicação daquelas quatro obras, prefiro mesmo tirar o time do campo impresso. "50 Tons de Inconformismo" era um título provisório com possibilidade de ganhar titularidade. Tudo, entretanto, sem entregar o corpo, a alma e a vergonha.


 


Para completar, diria que se o livro prometido fosse editado, teria produzido um texto que estou a dever aos leitores. Um texto mais denso sobre o que chamaria de paroxismo das redes sociais  -- ao mesmo tempo em que aproximam, distanciam os interlocutores das questões regionais. Abaixo, reproduzo um artigo em que abordei superficialmente o tema.


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