Não perca seu tempo em busca de respostas porque também não perderei pelo simples fato de que não há resposta alguma confiável em qualquer das associações comerciais e industriais da região. O que existe são chutes estatísticos para dourar a pílula. No Município do Rio de Janeiro, segundo pesquisa do Centro de Estudos do Clube de Diretores Lojistas, só nos primeiros seis meses deste ano foram fechados 1.280 estabelecimentos. O Rio de Janeiro tem organização que cuida do assunto. Nós temos muitos assuntos e nenhuma organização que os gerencie estrategicamente. Vivemos em meio a uma escuridão informativo-estatística de lascar.
Na região, em recente matéria do jornal Repórter Diário, os entrevistados venderam ilusões. Chegaram à desfaçatez de anunciarem acréscimo de lojistas. Esta Província não toma jeito mesmo: há replicantes de grosserias informativas espalhados por todos os cantos. Pior que isso: não existe nenhuma instituição para botar esses vendedores de ilusão para correr. O quarto de solteiro de estudos regionais assemelha-se a repúblicas de mulheres da vida difícil.
O que esperar, por exemplo, de uma Santo André que já teve assessor de prefeito que anunciou aos quatro ventos que o PIB do Município em 2011 chegaria a crescimento real de 17%? Todo o mundo publicou a estupidez com a maior naturalidade. Como se todos os leitores fossem imbecis juramentados.
Contrastes explicáveis
Cruzar informações sobre o setor de comércio do Rio de Janeiro e da Província do Grande ABC causa desconforto. Há disparidades que não se encaixam no jogo de recessão da economia nacional manifestada em várias formas, inclusive na insistência com que os indicadores do comércio varejista patinam em dificuldades.
O jornal O Globo publicou em julho último que no primeiro semestre foram fechados 1.280 estabelecimentos comerciais, identificando todas as áreas do Município e quantificando os estragos por macrobairros. As explicações para o desastre vão desde o aumento do preço dos aluguéis à queda das vendas em consequência da baixa das atividades econômicas, com inflação alta e desemprego.
Na região, a última notícia sobre o assunto foi publicada em 29 de maio no Repórter Diário. Uma reportagem sob o título “Comércio de rua tem impulso” me deixou intrigado. Há informações de que a Associação Comercial e Industrial de Santo André (Acisa) registrou aumento de 9% no número de estabelecimentos de rua nesta temporada. São Bernardo teve mais movimento, com avanço de 15%, de acordo com a Associação Comercial e Industrial (Acisbec). Conhecendo como conheço as entidades de classe da região não tenho dúvida: não existe sustentabilidade de estudos que deem retaguarda àqueles dados.
Nordestinização regional
Nos anos 1990, quando o facão comeu solto nas indústrias da região, com mais de 80 mil empregos com carteira assinada eliminados durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, aquilo que chamei de nordestinização de empreendedores se tornou lugar comum. Nordestinização é um neologismo para explicar a proliferação de novos negócios, principalmente nos bairros de periferia e sobretudo na área comercial. As capitais do Norte e Nordeste são extravagantes em pequenos negócios de sobrevivência. A Província virou algo semelhante nos anos 1990. Trabalhadores industriais viraram empreendedores por necessidade. Não havia a menor possibilidade de retomarem empregos no setor. A desindustrialização vivia seu momento mais crucial, com fechamento de empresas e corte gigantesco de pessoal.
Agora, nestes anos 2000 e, principalmente, nesta pós-euforia da gastança petista a partir do segundo mandato de Lula da Silva, o que temos são desempregados industriais orgânicos, sem espaço saudável nas áreas de comércio e serviços, já excessivamente ocupadas. Por isso, os solavancos que prometem durar muito tempo vão elevar a temperatura de desesperança social. Mais negócios numa região depauperada ao longo dos anos significam menos receita líquida aos competidores. Vira carnificina comercial.
Passeio desagradável
Estabelecimentos estão sendo e continuarão a ser fechados. Quem tiver o cuidado de fazer rápido passeio por qualquer um dos municípios da região vai constatar que pelo menos três catástrofes se cruzam nas ondas tsunâmicas: imóveis residenciais usados em excesso para vender ou alugar, imóveis comerciais usados em excesso para vender e alugar e imóveis comerciais e residenciais novos em excesso para vender e alugar.
Por isso, os dados anunciados pelo Repórter Diário, após ouvir representantes das associações comerciais de Santo André e de São Bernardo, são dados furados. Nos primeiros oito meses deste ano foram cortados 2.771 trabalhadores do setor comercial na região, de um total de 146.223. A variação negativa de 1,89% é fichinha perto dos 4,10% também negativos no estoque de empregos de todas as atividades econômicas, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. A tendência é de que mais gente vai conhecer o olho da rua.
Não há perspectiva de melhora na economia regional. Antes que a região melhore é indispensável que o Brasil melhore. Todos devem saber que, por força da indústria automotiva em franca decomposição produtiva, carregamos o peso de que a retomada do desenvolvimento será mais tardia e mais lenta, porque mais grave.
Retrospecto do vazio
Jamais na história das entidades de classe dos comerciantes da região houve sequer esboço de estudos que colocassem macronúmeros e também micronúmeros nos devidos lugares investigativos. Pouco se sabe sobre o que se passa nestas alturas do campeonato -- além do desânimo generalizado e das placas denunciadoras de que estamos indo para o brejo.
Jamais houve alguém capaz de reunir todos os presidentes das entidades e estimulá-los a um acordo regional que encaminhasse a produção de informações balizadoras dos processos de avanços e recuos do setor na região. Um casamento que chamaria de microrregionalidade, ou seja, dispensavam-se as diferenças de estilo e de visão sobre o setor de comércio na região e focalizavam-se determinados pontos para extrair o máximo de respostas.
Nossa regionalidade na área comercial é tão frágil, até porque praticamente não existe, que mesmo a obviedade de uma iniciativa tão simples e benéfica ganha conotação extraordinária. Quem paga a conta são, entre outros, os empreendedores já estabelecidos e também os candidatos a empreendedor que, muitas vezes, decidem a própria sorte nos negócios sem ter rascunho da ideia do que os aguardam lá adiante, na esquina do choque de realidade sonegada por conta do amadorismo generalizado.
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