Economia

E os prefeitos,
o que vão fazer?

DANIEL LIMA - 05/02/1998

O artigo de Cláudio Rubens Pereira, membro do Conselho Consultivo de LivreMercado, publicado na edição de dezembro último e que pode ser traduzido como alerta à possibilidade de o Rodoanel prejudicar a economia do Grande ABC, não encontrou eco junto a nenhum dos sete prefeitos locais. Apesar de terem recebido correspondência protocolada com solicitação de comentário sobre o assunto, os prefeitos do Grande ABC e respectivas assessorias preferiram inexplicável silêncio. Engenheiro e diretor do Departamento de Desenvolvimento Econômico de Santo André, além de presidente da Anapemei (Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas Industriais), Cláudio Rubens apresentou inédito arrazoado sobre o Rodoanel.


 


Como se os problemas apontados por Cláudio Rubens não acrescentassem mais complicações ao já complicado Grande ABC, os prefeitos da região optaram pela posição mais cômoda de descartar pelo menos temporariamente análise mais detalhada sobre as sequelas econômicas denunciadas. O engenheiro afirmou no artigo que a opção das obras iniciais do Rodoanel pelo Trecho Oeste, embora acertada sob vários aspectos, prejudicará o Grande ABC, que não dispõe de meios eficientes para fazer fluir o tráfego -- principalmente o pesado -- até atingir as rodovias, a não ser através de ruas e avenidas já fortemente sobrecarregadas. O Trecho Sul liga Perus à Rodovia Régis Bittencourt (BR-116 para o Sul), com 32 quilômetros, e terá outros cinco acessos: Rodovia dos Bandeirantes, Anhanguera, Castelo Branco e Raposo Tavares, além da avenida dos Autonomistas, em Osasco.


 


Para Cláudio Rubens, não se justifica que os Trechos Sul e Leste do Rodoanel, nos quais se inserem os interesses diretos do Grande ABC, recebam ou entreguem tráfego apenas pelas rodovias Imigrantes e Anchieta e pela avenida Humberto de Campos. Ressalta que, no caso da Humberto de Campos, o tráfego pesado passaria a ser direcionado para uma estrutura viária urbana inadequada ao volume de demanda que deverá ocorrer.


 


Denuncia o consultor que, se construído como foi apresentado, devido as distâncias a percorrer, o Rodoanel poderá limitar o estímulo ao tráfego pesado e mesmo de veículos leves com origem-destino na Grande São Paulo. "A condição de aliviar o trânsito do miolo do anel estava garantida na filosofia original do projeto, que estimulava a instalação de geradores de cargas em eixos paralelos ou nas proximidades" -- disse.


 


Cláudio Rubens afirma também que o Rodoanel será limitador do desenvolvimento sócio-econômico de alguns Municípios do Grande ABC, como elemento de forte influência das relações internas, porque gerará dificuldades de acesso futuro. Os pólos de geração de empregos -- indústria e comércio principalmente -- iriam preferir se instalar em municípios que passem a oferecer maiores facilidades de transporte e também de acesso a clientes, fornecedores e consumidores.


 


Por fim, escreveu o consultor que alguns trechos do Rodoanel terão cinco faixas de tráfego, enquanto outros terão apenas duas, o que sugeriria estrangulamento do fluxo e prejuízos para os Municípios envolvidos. "Estará o Grande ABC na classe dos municípios que receberão apenas duas faixas de rolamento?"-- indagou Cláudio Rubens.


 


Começo definido


 


As obras do Rodoanel estão oficialmente anunciadas para começar em maio. Com cerca de 160 quilômetros divididos em quatro trechos, a via expressa circular cortará 19 Municípios da Grande São Paulo e interligará as 10 principais rodovias que chegam à Capital. A largada será dada pelo Trecho Oeste, com 31,6 quilômetros e custo de R$ 730 milhões, pagos pelos governos federal, estadual e municipal e também pela livre-iniciativa. O orçamento para o conjunto de obras do Rodoanel atinge R$ 2,8 bilhões, sem contar gastos com desapropriações.


 


A promessa do governo estadual é de concluir a interligação em cinco anos, mas ainda não há traçado definitivo para os trechos Sul, Leste e Norte, dois dos quais onde se incluem o Grande ABC e as preocupações de Cláudio Rubens. Tudo depende do Rima (Relatório de Impacto Ambiental), que será contratado ainda este ano. A obra que começa em maio conseguiu aprovação do Consema (Conselho Estadual de Meio Ambiente), órgão expedidor do Rima. 


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