A primeira década do século XXI é a temporada para bons negócios no setor petroquímico. Para o Grande ABC pode representar virada no perfil econômico, com a consolidação de complexo produtivo que começa no setor de refino de petróleo, passa pela petroquímica e se espalha pela indústria de transformação do setor plástico. A região tem dois exemplos expressivos do ciclo virtuoso que se inicia no Pólo Petroquímico de Capuava com possibilidade de reflexo promissor em toda cadeia produtiva. De um lado, a Polietilenos União investe US$ 140 milhões para triplicar a produção de resinas termoplásticas. De outro, a Polibrasil planeja injetar US$ 70 milhões para fazer a unidade local saltar de 300 mil para 450 mil toneladas anuais até 2007.
A planta de quatro mil metros quadrados da Polietilenos na divisa de Santo André com Mauá produz 120 mil toneladas anuais de resinas como PEBD (polietileno de baixa densidade), matéria-prima para filmes e embalagens, e EVA (polímero de acetato de vinila), empregado na produção de calçados. A aposta da empresa é produzir outras 200 mil toneladas de resinas diferenciadas a partir de 2007. A nova planta vai fabricar PEAD (polietileno de alta densidade) e PEBDL (polietileno de baixa densidade linear), matérias-primas para filmes e pequenas, médias e grandes embalagens plásticas. Terá 1,5 mil metros quadrados, quase três vezes menos do que a atual. A tecnologia da nova unidade será da Chevron Phillips Chemical Company LP, uma das maiores empresas de equipamentos do setor petroquímico do mundo.
O mercado está em crescimento. Houve aumento na demanda que, se não for correspondido com elevação da produção, inevitavelmente vai implicar em importação de plástico" -- afirma o diretor comercial da Polietilenos, Domingos Jafelice. Desde os anos 70, quando o Brasil começou a produzir polietileno, para cada ponto de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), a demanda por resinas aumenta 2,2. O Pólo Petroquímico se consolidou tendo a PQU (Petroquímica União) como vetor de desenvolvimento. Estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) indica que se a economia brasileira mantiver taxas de crescimento entre 3% e 3,5%, o parque petroquímico terá de dobrar até 2012, com investimentos de cerca de US$ 8 bilhões.
Crescimento de dois dígitos
O mercado do polipropileno cresce em média 10% ao ano. No ano passado, foram cerca de 11%. "É um plástico que tem novos produtos para atender novas aplicações. Nosso investimento também segue essa tendência" -- garante o gerente regional da Polibrasil, Antonio Fernando Pinto Coelho. A Polibrasil registrou aumento de 20% no volume comercializado em novos mercados no ano passado. O grupo também expande a unidade em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Registrou em 2004 lucro líquido de R$ 142 milhões, desempenho 126% superior ao do período anterior. Em 2004, a companhia comercializou 450 mil toneladas no mercado interno e 95 mil toneladas no Exterior. Antonio Fernando Pinto Coelho avalia que o crescimento nas vendas do grupo apresenta evolução semelhante dentro e fora do País.
O consumo de plásticos em geral cresce em todo o planeta. O uso de resina plástica no Brasil em 2004 foi de 23 quilos por habitante. A média era de 8,8 quilos 15 anos atrás. Argentina, Chile e México já estão na faixa de 30 a 40 quilos per capita. Estados Unidos, Europa e Japão ficam entre 60 e 80 quilos por habitante. "Há muito espaço para crescer. Se a renda melhorar, haverá consumo maior de plástico" -- prevê o diretor comercial da Polietilenos, Domingos Jafelice.
Substituto de materiais
O plástico substitui cada vez mais outros materiais, seja na indústria de embalagens como na de eletroeletrônica, automotiva, aviação, produtos domésticos e construção civil, principalmente na área de saneamento. "O exemplo mais evidente é a substituição de embalagens de vidro pelas de PET" -- lembra o executivo Jafelice.
Mesmo ao triplicar a produção com a nova planta, a Polietilenos vai ampliar de 100 para apenas 140 o quadro de funcionários. "A indústria petroquímica é mais intensiva em capital do que em mão-de-obra" -- afirma o diretor comercial da Polietilenos União. No entanto, os investimentos da empresa servirão de base para crescimento potencial do setor plástico situado além da cadeia produtiva. "Enquanto na Polietilenos se encontram engenheiros, cientistas e Ph.D.s (Philosophiae Doctor, especialistas com doutorado), na indústria de transformação a mão-de-obra é intensiva e oferece trabalho para toda a pirâmide social" -- explica Domingos Jafelice.
Na Polibrasil, a situação é semelhante. Mesmo ampliando em 50% a capacidade produtiva, a fábrica de Mauá não vai elevar significativamente o quadro de 116 trabalhadores. "Na verdade estamos fazendo um DBN (sigla em inglês para desgargalamento da produção). Mas haverá crescimento de mão-de-obra direta no atendimento logístico, que crescerá na proporção do aumento da produção.
A expansão das duas líderes do mercado petroquímico deve trazer consequências positivas para a economia da região. Para Domingos Jafelice, diretor da Polietilenos, há vantagens estratégicas para a ampliação do número de indústrias de transformação do setor plástico no Grande ABC. "A proximidade com a Grande São Paulo, maior mercado consumidor do País e com o Porto de Santos pesa nas análises. A mão-de-obra da região também é pródiga. É só trabalhar um pouco a parte tributária" -- sugere o executivo da Polietilenos União.
Multiplicando negócios
A base inicial para a multiplicação de negócios e oportunidades tanto no setor petroquímico como no do plástico foi criada em janeiro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou contrato de ampliação do fornecimento de gás para a PQU, que irá investir US$ 160 milhões. A produção de eteno, matéria-prima para a fabricação de resinas plásticas, deverá saltar de 500 mil para 700 mil toneladas anuais. Para abastecer a PQU, contribuirão com gás a Recap (Refinaria de Capuava) e a Revap (Refinaria do Vale do Paraíba).
Se a demanda crescer cada vez mais e a matéria-prima ficar mais disponível, a bola automaticamente passará para o empresariado. "Para produzir em 2008 o empresário tem de decidir até o final deste ano. Significa que terá de comprar área, legalizá-la, conseguir autorização ambiental, obter financiamento, negociar prazo de entrega de máquinas, que às vezes é de um ano. A região toda está se movimentando nesse sentido. Há um efeito acumulativo virtuoso. Uma indústria chama a outra em vários segmentos" -- entende o diretor da Polietilenos Domingos Jafelice. A Polietilenos registrou faturamento bruto de R$ 480 milhões no ano passado. O Grupo Unipar, controlador da empresa, teve lucro de R$ 280 milhões no mesmo período.
A aposta no crescimento da demanda tem no Grupo Unipar um dos maiores exemplos. O conglomerado investiu US$ 480 milhões entre 2000 e 2004, principalmente na construção da Riopol (Rio Polímetros), com capacidade de 540 mil toneladas de polietilenos. no Rio de Janeiro ou no Grande ABC o grupo acredita na proximidade da fonte de matérias-primas e do mercado. O fornecimento de gás natural vem da Bacia de Campos e da Bolívia, mas também conta com a perspectiva de produção a médio prazo na Bacia de Santos.
Cadeia produtiva
Na Polibrasil, a ampliação ocorre após firmar acordo com a Petrobras para receber 1,2 milhão de metros cúbicos por dia de gás de refinaria. "Um terço de nossos insumos vem da PQU (Petroquímica União) e dois terços da Recap. Tivemos que fazer investimentos diretos na Petrobras para fracionar o propeno do propano e a estatal ressarcirá em produtos à Polibrasil" -- conta Antonio Fernando Pinto Coelho. Tanto ele como Jafelice, da Polietilenos, acreditam que os investimentos vão trazer consequências para a cadeia produtiva do plástico. "Outras empresas também anunciaram ampliações. Todo mundo acredita que o mercado vai crescer" -- afirma o diretor comercial da Polietilenos. É o caso da Solvay, em Santo André, e da Braskem, que prepara ampliação da planta no pólo de Camaçari, na Bahia. O ciclo de expansão segue até 2007 com a construção de nova plantas de polipropileno da Petrobras e outra, da M&G, de Pernambuco, que planeja edificar a maior fábrica de PET do mundo, com capacidade de 450 mil toneladas anuais.
O ciclo virtuoso que se inicia tem por trás também os aumentos sucessivos dos preços de resinas, pressionados pela turbulência no petróleo, com o barril na casa de US$ 50.
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