O condomínio de micro e pequenas indústrias do setor plástico deve mesmo ser implantado na região do Campo Grande, em Santo André, conforme antecipou LivreMercado em dezembro de 2006. Espaço físico deixou de ser problema. A Atplas (Associação dos Transformadores Plásticos do ABC) acaba de adquirir terreno no Distrito de Paranapiacaba. Agora falta vencer três desafios: financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), chancela da Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental) e atrair mais empresas à proposta.
Na reportagem de dezembro do ano passado, o diretor da pasta de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André, David Gomes de Souza, antecipava que a Prefeitura preparava edital de oferta pública para que o grupo de empresários adquirisse terreno na região do Campo Grande. Tratava-se de plano alternativo em terreno da Prefeitura, uma vez que a área privada pretendida na Avenida dos Estados tornou-se inviável por causa da especulação. O Poder Público ofertou terreno de 840 mil metros quadrados à Atplas por cerca de R$ 1,2 milhão em 12 parcelas mensais. Da associação fazem parte Ecus Injeção, Gabinetes Imigrantes, Fiori Ferragens e Usinagem, Metalúrgica Tinonin, TM Prisma, NM Transportes e ABC Equipamentos Gráficos, todas em atividade na região. O próximo passo é arregimentar mais empresas — preferencialmente do setor plástico. “O ideal é que o condomínio tenha de 20 a 30 empresas” — dimensiona Osvaldo Baradel, coordenador do APL (Arranjo Produtivo Local) do plástico e diretor proprietário da Ecus Injeção.
Metragem intocada
O condomínio deve ser construído em 72 mil metros quadrados. Isso significa que mais de 90% dos 840 mil metros quadrados deve permanecer intocado. A região do Campo Grande é essencialmente de Mata Atlântica, de preservação ambiental. “Utilizaremos energia solar nos escritórios, além de sistema de reuso com captação de água das chuvas” — promete Osvaldo Baradel, num sinal de disposição para ir além da legislação.
A perspectiva de instalação de indústrias em parte da área preservada foi garantida por mudanças no Plano Diretor de Santo André. “Nos adaptamos aos avanços tecnológicos que permitem produzir de maneira limpa, sem impactos ambientais” — considera David Gomes de Souza. Entretanto, como a palavra final caberá à Cetesb, espera-se que a decisão dependa exclusivamente de condições técnicas. “Esperamos que questões político-partidárias não interfiram em ações puramente econômicas” — afirma David Gomes de Souza.
O desafio do financiamento está encaminhado. O projeto do condomínio tramita no BNDES desde fevereiro de 2006, quando uma comitiva da região foi à sede da instituição no Rio de Janeiro. Do grupo fizeram parte Osvaldo Baradel, o consultor Cido Faria, David Gomes de Souza e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Luís Paulo Bresciani. Osvaldo Baradel tem motivos para acreditar na liberação de R$ 35 milhões. “Nosso projeto se adequa perfeitamente a um dos produtos do BNDES, o Proinco (Programa de Investimentos Coletivos). E o BNDES nunca financiou um investimento coletivo tão grande, o que pode transformar a experiência de Santo André em referência nacional” — observa o empresário.
Osvaldo Baradel acredita que não será difícil atrair mais interessados. O custo por metro quadrado é bem inferior ao de regiões centrais atingidas pela especulação imobiliária, e as vantagens do conjunto compensam. “A essência do condomínio industrial é redução de custos e aumento da competitividade pelo compartilhamento de serviços como portaria, segurança, brigada de incêndio, restaurante e transporte” — destaca.
Seminário em vista
A contribuição da Prefeitura para o fortalecimento do segmento plástico não se restringe ao Plano Diretor e à oferta pública do terreno do Campo Grande. O segundo seminário voltado à cadeia de terceira geração, programado para 8 de outubro no Teatro Municipal de Santo André, é prova disso. O público do seminário realizado em setembro de 2006 frustrou as expectativas dos organizadores. “Os transformadores não apareceram porque o evento foi realizado no período da tarde” — reconhece David Gomes de Souza. Por isso, a segunda edição está programada para o período noturno.
Para o dia seguinte está programada a segunda rodada de negócios, em local a ser definido. A primeira rodada foi realizada em novembro do ano passado no Primeiro de Maio Futebol Clube e atraiu representantes de 169 empresas, das quais 80 do Grande ABC. Empresários dispunham de um minuto para apresentar produtos e serviços a cada uma de 13 empresas âncoras, como foram chamadas grandes compradoras potenciais como Nivaldir, Mazzaferro e Plastolândia.
Além de horário mais apropriado, espera-se que o segundo seminário do plástico centralize a temática na prioridade regional: geração de 12,5 mil empregos na esteira da ampliação do Pólo do Grande ABC. Com exceção de Jorge Rosa, gerente de projetos da Petroquímica União e ex-diretor da Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, nenhum outro expositor fez sequer menção ao assunto. Além disso, a distorção tributária que tira a competitividade do pólo paulista também teria passado em branco não fosse Jorge Rosa. Fabricantes paulistas de resinas pagam 18% de ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) enquanto em outros Estados a alíquota não ultrapassa 12%.
Desequilíbrio tributário
O desequilíbrio tributário tem recebido mais atenção dos agentes públicos nos últimos tempos. Em abril, representantes do Grupo de Trabalho Petroquímico da Agência de Desenvolvimento realizaram seminário na Assembléia Legislativa de São Paulo. E, no mês passado, deputados estaduais lançaram a Frente em Defesa do Setor Químico, Petroquímico e Plástico. Vanderlei Siraque, Alex Manente, Donisete Braga, Mário Reali, Orlando Morando e Vanessa Damo integram a ofensiva. O segmento químico/petroquímico responde por 37,6% do ICMS e por 25% dos empregos industriais do Grande ABC. Ou 54,7% da receita de Mauá e 40,6% da de Santo André. A participação da Petroquímica União na produção nacional de eteno, que já foi de 100%, caiu para 15%, embora o Sudeste seja o maior consumidor de derivados de petróleo do País.
Além do seminário e da rodada de negócios, outra novidade está reservada para a cadeia de terceira geração. O APL vai levar cerca de 20 empreendedores para a maior feira setorial do planeta, entre 24 e 31 de outubro em Dusseldorf, na Alemanha. “Os empresários pagarão 50% dos custos. Outros 50% serão cobertos pelos patrocinadores do APL, casos da Suzano Petroquímica, Sebrae, Fiesp, Agência de Desenvolvimento Econômico e Banco Mundial” — explica o coordenador Joelton Gomes Santos.
Viagem à parte, Joelton Gomes afirma que a segunda fase do APL deve ter início em meados deste mês com trabalhos de diagnóstico de três instituições: FEI, que cuidará das áreas administrativa, financeira e de recursos humanos; Senai Mário Amato, responsável pelos setores de produção, desenvolvimento e design; e Ganzelevitch & Vargas, especializada em gestão de marketing, comercial e vendas. Joelton Gomes explica que após a fase de diagnóstico, que deve se estender por dois meses, as instituições darão consultoria com base nas lacunas detectadas. “Ao somar 16 empresas da primeira fase às 23 que aderiram à segunda fase, temos 39 participantes e pretendemos chegar a 50” — contabiliza o coordenador.
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