Imagine um time de futebol em que sobram jogadores habilidosos. Da mesma forma que o time tem obrigação de vencer, lideranças públicas, privadas e institucionais do Grande ABC não podem desperdiçar a oportunidade de formatar estratégias voltadas ao adensamento da cadeia plástica durante o seminário programado para 14 de setembro no Teatro Municipal de Santo André. O que está em jogo é a criação de 12,5 mil empregos na terceira geração a reboque da ampliação do Pólo Petroquímico de Capuava — efetivo equivalente ao da planta da Volks em São Bernardo. A comparação com o time de futebol cai bem. Individualmente a região reúne lideranças e empreendedores acima de qualquer suspeita em relação à capacidade intelectual, técnica e gerencial. O desafio é fazer com que a interação gere resultados no placar do desenvolvimento econômico.
Basta conferir a escalação, ou a programação do evento, para constatar que a concentração de valores institucionais precisa ser traduzida em ações. Além dos prefeitos João Avamileno, José Auricchio Júnior e William Dib, figuram entre os participantes Jeroen Klink, ex-secretário de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André e atual pró-reitor de Extensão da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC); Nívio Roque, diretor industrial da Polietilenos União e diretor da Apolo (Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC); Jorge Rosa, gerente de projetos da Petroquímica União; Silvio Minciotti, secretário executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico; Giorgio Guardalben, diretor industrial da Poliembalagens, e Luís Paulo Bresciani, secretário de Desenvolvimento Econômico e Ação Regional de Santo André. Eles têm oportunidade de traçar planos com apoio de interlocutores de outras esferas. Casos de Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego; Merheg Cachum, presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico); Wagner Delarovera, gerente-executivo do Instituto Nacional do Plástico, e Mário Sérgio Salermo, diretor da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial).
Potencialidade
O universo petroquímico é tão vasto quanto o potencial de aplicação do plástico. Por isso, é fundamental que os debatedores não desviem o foco do que realmente importa: concepção de estratégias para regionalizar a produção adicional de plásticos na esteira da ampliação da capacidade do Pólo de Capuava em 2008. Só com novos investimentos e empresas será possível trazer à realidade o potencial de 12,5 mil postos de trabalho na região. Afinal, como explica Nívio Roque, a ampliação da PQU e da Polietilenos não deve gerar mais que 70 empregos permanentes no Pólo, mas cada 16 toneladas adicionais de processamento na primeira geração representa um trabalhador a mais na terceira. O foco é tão essencial que os convites e o material de divulgação do seminário deveriam ser emoldurados com o seguinte título-indagação: como converter a expansão do Pólo Petroquímico em uma Volkswagen de novos empregos num momento em que o pilar socioeconômico da cadeia automotiva emite sinais agudos de esgotamento?
Uma das sugestões que merecem aprofundamento é a criação de mecanismos que permitam oferecer terrenos a preços competitivos, à distância da especulação imobiliária que afugenta investidores. Por mais que o Grande ABC seja imbatível do ponto de vista logístico no setor petroquímico, já que a proximidade vale muito na compactação de despesas com frete, a vantagem comparativa pode ir por água abaixo se o custo fundiário for excessivamente elevado. “O Distrito Industrial de Sertãozinho serve de alerta sobre o que precisamos evitar caso desejemos criar condomínio industrial para empresas do plástico. Embora haja espaço, empresas encontram dificuldades para se instalar porque o preço se tornou proibitivo. Quem chegou primeiro pagou R$ 30 o metro quadrado, mas o valor já ultrapassou R$ 100” — alertou Nívio Roque durante o Ciclo de Debates promovido por LivreMercado, em novembro do ano passado. Foi naquele encontro na sede da Oxiteno que o potencial de multiplicação de empresas e empregos ganhou roupagem de desafio institucional.
Corredor do plástico
Se a proximidade com o Pólo Petroquímico vale ouro desde que custos fundiários sejam adestrados, não há razão para que os debatedores não encarem a seguinte sugestão de LivreMercado: a transformação do chamado Eixo Tamanduatehy em corredor preferencialmente destinado a micro, pequenas e médias empresas plásticas. Como se sabe, Eixo Tamanduatehy identifica projeto concebido por Celso Daniel para reocupação de áreas industriais degradadas ao longo da Avenida dos Estados e da Avenida Industrial.
O projeto inicial privilegiava instalação de empresas de serviços de alto teor intelectual — o chamado terciário de alto valor agregado — como espécie de antídoto para curar depressão tributária da desindustrialização. Com o passar do tempo o projeto perdeu traços originais e acolheu até supermercados, hotéis, concessionárias de veículos e prédios residenciais. É nesse contexto que a correção de rota na direção dos plásticos pode surtir ótimo resultado. Principalmente quando se leva em conta que a UFABC, a ser instalada na mesma avenida, poderia vir a se tornar centro de irradiação de conhecimento para cluster (aglomerado sinérgico) de empresas especializadas em subprodutos petroquímicos. Seria sonhar demais? A disposição e a profundidade dos debatedores respondem.
É uma pena que, entre tantas competências de dentro e de fora da região, não conste da agenda do seminário sequer um emissário do governo estadual. Afinal, equiparação tributária entre unidades da Federação é condição fundamental para vislumbrar futuro promissor. Enquanto fabricantes de resinas plásticas do pólo paulista recolhem 18% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), concorrentes instalados na Bahia e no Rio Grande do Sul pagam 12%, ou apenas 7% no Rio de Janeiro. Como já foi abordado por LivreMercado, a distorção faz estragos na competitividade sistêmica do setor. Ao sobretaxar commodities petroquímicos, o governo paulista dificulta a vida de empresas como Polietilenos e Suzano e afugenta transformadoras que o Grande ABC tanto precisa atrair.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?