Economia

Pólo Petroquímico
pronto para ajudar*

DANIEL LIMA E ANDRE MARCEL DE LIMA - 20/12/2005

Após praticamente 15 anos de baixa fertilidade político-institucional, o Grande ABC vive safra de notícias verdadeiramente positivas no campo da regionalidade. Primeiro, o prefeito de São Bernardo e presidente do Consórcio Intermunicipal, William Dib, chamou para si desafio inédito de fortalecer a cadeia automotiva atingida por décadas de negligência. Agora, surgem mais dois fatos dignos de comemoração: a Apolo (Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC) está decidida a promover força-tarefa para fortalecer a cadeia de terceira geração. Vai disseminar cultura de associativismo às empresas transformadoras de plástico já instaladas e pretende contribuir na formatação de políticas públicas que atraiam novas indústrias, de modo que o adicional de matéria-prima projetado pelo Pólo Petroquímico seja processado internamente, com multiplicação de postos de trabalho na região.

 

O segundo fato promissor desponta no front do conhecimento: a escolha do secretário de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André, Jeroen Klink, à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Grande ABC tem tudo para representar providencial correção na rota pedagógica e conceitual da UFABC. Especialista em regionalidade, metropolização, arranjos produtivos e outros temas relacionados ao desenvolvimento entre atores econômicos locais, Jeroen Klink está animadíssimo com a possibilidade de transformar a UFABC em plataforma de know-how voltado ao universo produtivo. "Minha missão é moldar a UFABC às necessidades das cadeias produtivas" -- define o holandês naturalizado brasileiro, trazido à administração pública por Celso Daniel, em 1997.

 

A necessidade de atrair indústrias transformadoras de plástico e de fortalecer as já instaladas ganhou corpo durante o segundo Ciclo de Debates promovido pela Editora Livre Mercado. O evento realizado no auditório da Oxiteno, em Mauá, contou com os debatedores Nívio Roque, diretor da Polietilenos União, Arnaldo Ferreira, diretor da Oxiteno, Jeroen Klink, na transição entre a secretaria de Desenvolvimento e a Pró-Reitoria da UFABC, além do mediador Daniel Lima, diretor-executivo de LivreMercado.

 

É fácil compreender a importância da medida sugerida por Daniel Lima e prontamente incorporada pelos demais participantes. Após décadas de estagnação, o Pólo Petroquímico, em Capuava, finalmente terá capacidade ampliada graças à intervenção direta do presidente da República após alteração de lei estadual que impedia a expansão da atividade na Grande São Paulo. A produção da Petroquímica União saltará de 500 mil para 700 mil toneladas anuais de eteno a partir de 2008. E a produção da Polietilenos União saltará de 130 mil para 330 mil toneladas anuais de insumos termoplásticos no mesmo período. Os cofres de Santo André e Mauá agradecem, porque as empresas de primeira e segunda geração são verdadeiras usinas de impostos, embora gerem poucos empregos porque fazem uso intensivo de capital e tecnologia. Para que a expansão em curso no Pólo Petroquímico signifique alargamento do mercado de trabalho, é essencial criar condições ao desenvolvimento equilibrado da terceira geração, intensiva em mão-de-obra. Caso contrário, a região colherá apenas frutos tributários.

 

"O desafio de favorecer a geração de empregos na ponta final da cadeia do plástico precisa ser enfrentado com parceria entre o Poder Público e iniciativa privada. Não podemos perder essa oportunidade" -- conclamou Nívio Roque, diretor da Polietilenos União e da Apolo.

 

O executivo conta que a ampliação de 40% na capacidade da PQU e de mais de 200% na da Polietilenos União não deve gerar mais que 70 empregos permanentes no Pólo Petroquímico. Em compensação, o reflexo na terceira geração é avassalador e não pode ser desperdiçado por uma região que perdeu 90 mil empregos com carteira assinada nos oitos anos do governo Fernando Henrique.

 

"Cada 16 toneladas adicionais de processamento na segunda geração petroquímica representa um posto de trabalho na terceira geração. Isso significa que a expansão de 200 mil toneladas na produção da Polietilenos União a partir de 2008 deve gerar 12,5 mil empregos em pequenas e médias empresas" -- ilustra Nívio Roque -- com número equivalente ao quadro da Volkswagen em São Bernardo.

 

O tema foi abordado por Wilson Matsumoto, diretor-superintendente da Petroquímica União, durante lançamento de edição do boletim Observatório Econômico, em março deste ano. Matsumoto bateu na tecla ao enfatizar a necessidade de políticas públicas para atrair transformadoras plásticas dispostas a aproveitar o adicional de matéria-prima. Jeroen Klink e o secretario de Finanças de Santo André, Antônio Carlos Granado se comprometeram a estreitar laços entre a Apolo e o prefeito João Avamileno.

 

Em Santo André, um terço do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) está atrelado ao setor químico e petroquímico. Em Mauá a dependência é ainda maior: 66% do principal tributo dependem do Pólo Petroquímico. Por isso, é natural imaginar que a administração pública de Mauá terá grande interesse em participar da força-tarefa inicialmente encabeçada pela Apolo.

 

As políticas públicas que Mauá e Santo André podem lançar mão para adensar a cadeia de plástico devem ser definidas em reuniões entre membros da Apolo e secretários municipais diretamente envolvidos com o temário do desenvolvimento econômico. Algumas idéias vieram à tona no Ciclo de Debates. A principal, compartilhada por Nívio Roque e o secretário de Finanças de Santo André, Antônio Carlos Granado, diz respeito à necessidade de criar mecanismo para que a especulação imobiliária não se torne empecilho à ocupação produtiva.

 

"O Distrito Industrial de Sertãozinho serve de alerta sobre o que precisamos evitar caso desejemos criar condomínio industrial para empresas do plástico ou algo desse tipo. Embora haja espaço, empresas encontram dificuldades para se instalar porque o preço do metro quadrado se tornou proibitivo. Quem chegou primeiro pagou R$ 30 o metro quadrado, mas o preço já ultrapassou R$ 100" -- lembrou Nívio Roque.

 

Mais do mesmo

 

Tão importante quanto atrair novas empresas é colaborar com as já instaladas a atingir patamares superiores de produtividade e competitividade. Por isso, a Apolo pretende disseminar a cultura de associativismo e melhoria contínua, responsável pela economia de R$ 60 milhões nos últimos oito anos.

 

Diferentemente do grupo de elite formado por Petroquímica União, Refinaria de Capuava, Polibrasil, Cabot, Solvay, Air Liquide, Chevron, Unipar, Polietilenos União e Oxiteno, a maioria esmagadora das mais de 300 empresas transformadoras de plástico espalhadas pelo Grande ABC está longe de seguir padrões de excelência. Pelo contrário: convivem com desperdícios de matérias-primas e energia elétrica, deixam de aproveitar nichos vantajosos e descuidam do atendimento, entre outros pecados capitais comuns à falta de estrutura e capitalização. O grupo de empresas de primeira e segunda geração e o segmento de terceira geração formam mundos à parte, apesar de integrarem a mesma cadeia produtiva. O primeiro tem tecnologia de ponta, excelência em recursos humanos, investimento em pesquisa e controle absoluto de custos. No segundo imperam o improviso, o desperdício de recursos humanos e materiais e, em muitos casos, a informalidade.

 

Mais do que qualquer consultoria especializada, a Apolo tem experiência de sobra para fortalecer o elo mais fraco dos transformadores. Apolo é a nomenclatura mais recente do Grupo de Sinergia, que representa a mais evoluída experiência associativista no Grande ABC. Quando as comportas da globalização foram abertas, PQU e empresas satélites correram atrás de competitividade com investimentos maciços em novas tecnologias e processos. Além disso, se uniram para contratar serviços em bloco e usufruir das vantagens da economia de escala. Resultado: economizaram R$ 60 milhões com a centralização de negociações para contratação de serviços de manutenção, restaurante, vigilância e muitos outros.

 

"As transformadoras de plástico também têm muito a ganhar com o associativismo. Há uma série de produtos e serviços comuns que podem ter custos significativamente reduzidos com bloco de compras" -- aposta Nívio Roque. Antes de atingir o estágio de entrelaçamento de interesses, será preciso quebrar a resistência dos empreendedores à interferência de agentes externos. Nívio Roque sentiu essa resistência de perto quando ocupou cargo de diretor de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Santo André, entre 1999 e 2000. "Quando estava na Prefeitura, chegamos a promover três ou quatro seminários para detectar as necessidades dos transformadores de plástico, mas os empresários não compareciam. Encontrávamos dificuldade para ajudar esse pessoal" -- observa.

 

Também está nítida na memória do diretor da Polietilenos e da Apolo a lembrança de empresas que se negavam a participar do Projeto Prumo, que proporcionava consultoria gratuita de entidades como o Instituto Nacional do Plástico. "Nenhuma participante do Prumo teve redução inferior a 30% nos níveis de retrabalho ou rebarba. Entretanto, houve empresas que se negaram a receber o auxílio dos especialistas com receio de que supostos segredos industriais poderiam ser descobertos e repassados à concorrência. Mas os processos não tinham nenhum diferencial em relação aos concorrentes que se dedicavam ao mesmo tipo de produto" -- recorda o executivo.

 

Dessa forma, o desafio da Apolo é inocular nas empresas transformadoras de plástico o conceito de coopetição -- competição com cooperação. As empresas jamais deixarão de disputar entre si, mas podem ganhar -- e muito -- com o compartilhamento estratégico de atividades comuns.

 

Além de colocar o expertise acumulado a serviço da cadeia de terceira geração de olho na possibilidade de multiplicação de empregos, a Apolo pretende utilizar o estreitamento da relação com as prefeituras de Mauá e Santo André para remover antigos obstáculos que limitam a competitividade do Pólo Petroquímico. Há série de ações que dependem da chancela dos governos estadual e federal e a força política e institucional das duas administrações públicas é fator de influência que precisa ser aproveitado. Um dos maiores problemas é o encalacramento logístico que também afeta sobremaneira a indústria automobilística. "A produção de termoplásticos da Polietilenos vai mais que duplicar. Como vamos escoar essa produção?" -- questiona Nívio Roque. "Temos que ter parceria com o governo do Estado, através dos prefeitos, para agilizar a construção do Rodoanel" -- responde o executivo.

 

A malha ferroviária é outro ponto que merece atenção como alternativa de escoamento da produção. "Ao contrário dos pólos petroquímicos da Bahia e do Rio Grande do Sul, não dispomos de ferrovia. A linha férrea é usada somente para transporte de passageiros durante o dia e de metal à noite" -- aponta Nívio Roque, que inclui o abastecimento de água e o fornecimento de energia elétrica na lista de aflições infra-estruturais.

 

Entraves à competitividade precisam ser removidos com urgência. Baixa escala de produção segue sendo o calcanhar-de-aquiles do primeiro pólo petroquímico brasileiro. As centrais Copene, na baiana Camaçarí, e Copesul, na gaúcha Triunfo, produzem individualmente 1,2 milhão de toneladas de eteno por ano. Volume muito superior às 700 mil toneladas que a PQU terá a partir de 2008. "Como nossa produção é menor, os custos relativos são mais altos. Já saímos em desvantagem" -- lembra Arnaldo Ferreira, diretor da Oxiteno.

 

Apesar disso, o Pólo Petroquímico conta com vantagens comparativas que o transformam em uma das principais matrizes econômicas do Grande ABC. "O Pólo está ligado a quatro refinarias de petróleo: Capuava, Paulínia, Cubatão e São José dos Campos, a maior do Brasil. Além disso, o Sudeste brasileiro consome 70% dos materiais plásticos produzidos no País" -- explica Nívio Roque. Ele conta que técnicos da Petrobrás e da PQU já se reúnem para estudar duplicação da capacidade do Pólo Petroquímico a partir de 2012 ou 2013.

 

UFABC

 

Tão valiosa quanto a disposição da Apolo para converter produção petroquímica suplementar em empregos na terceira geração é a constatação de que um posto-chave no organograma da Universidade Federal do Grande ABC está reservado a um expert em regionalidade com muita vivência local. Discípulo de Celso Daniel, que o trouxe para a administração de Santo André em 1997, Jeroen Klink personifica a expectativa de que a UFABC não repetirá vícios do Ensino Superior gratuito brasileiro, como falta de convergência com as necessidades do universo produtivo e ausência de identidade regional. Ele assume a Pró-Reitoria de Extensão da UFABC ainda este mês, depois de se desligar da Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André.

 

"A UFABC não será apenas mais uma universidade pública. Será uma estrutura de disseminação de conhecimento e tecnologia a serviço das cadeias produtivas da região em que está instalada, como acontece nas melhores universidades européias e, principalmente, norte-americanas" -- garante o executivo público.

 

Há motivos de sobra para acreditar que Jeroen Klink conseguirá converter a escola superior resultante de lobby de prefeitos e deputados federais em plataforma para o desenvolvimento econômico sustentado -- que pressupõe investimentos empresariais, geração de empregos e aumento da renda e não apenas enriquecimento cultural. Além da experiência prática à frente da Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional, Jeroen Klink tem lastro acadêmico. Leciona a disciplina Economia e Sociedade Regional no mestrado de Administração do IMES (Universidade Municipal de São Caetano) e é autor de obra obrigatória para compreender a história recente do aglomerado de sete cidades e 2,5 milhões de habitantes: "A cidade-região: Regionalismo e Reestruturação no Grande ABC Paulista", pela DP&A Editora.

 

Jeroen Klink só aceitou convite à Pró-Reitoria com a condição de que não ficasse enclausurado em um gabinete e restrito a questões burocráticas. Quer liberdade e autonomia para promover aproximação entre a linha pedagógica e as necessidades das cadeias produtivas locais. Por isso foi estrategicamente encaixado na área de Extensão.

 

Jeroen Klink é o único integrante do board da UFABC com vivência numa região atropelada pela globalização descalibrada e pela pulverização geográfica de investimentos automotivos a custa de recursos federais, estaduais e municipais. O reitor Hermano Tavares veio da Unicamp (Universidade de Campinas); o vice-reitor Luiz Bevilaqua é oriundo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); o pró-reitor de Pós-graduação Armando Zeferino Milioni é egresso do ITA (Instituto Tecnológico Aeroespacial) de São José dos Campos; a pró-reitora de Graduação, Adelaide Faljoni-Alario, veio do Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo); e Helio Waldman, pró-reitor de Pesquisa, também é egresso da Unicamp. Falta definir o pró-reitor de Administração.

 

Não é à toa que o braço direito de Celso Daniel nas questões regionais assume a Pró-Reitoria de Extensão ainda neste mês, com pelo menos um semestre de antecedência do início dos primeiros cursos da UFABC. Antes da implantação da universidade, Jeroen Klink se dedicará à fase de planejamento: promoverá encontros com interlocutores das principais cadeias produtivas, lideranças públicas e representantes sindicais a fim de captar as necessidades que moldarão a grade curricular e a linha pedagógica. "O período de troca de idéias que antecede a implantação é crítico. Da participação dos agentes econômicos dependerá o sucesso da missão de trazer a universidade à realidade local" -- considera Jeroen.

 

A iniciativa representa a antítese da falta de senso de oportunidade e do vácuo integracionista que marcaram a origem do projeto. Na lista inicial de entidades que discutiriam a UFABC, preparada em meados do ano passado pela ex-prefeita de Ribeirão Pires e ex-presidente do Consórcio Intermunicipal, Maria Inês Soares, não havia sequer um representante dos setores químico, petroquímico, automobilístico e de autopeças. A lista foi feita de afogadilho, depois que prefeitos e deputados da região foram chamados ao Palácio do Planalto e -- totalmente despreparados -- não apresentaram sequer rascunho do formato da instituição que pleiteavam. São falhas que o pró-reitor de Extensão se esforçará para corrigir com o bonde literalmente em movimento. "A triangulação entre iniciativa privada, governos locais e universidade é fundamental" -- reafirma.

 

Jeroen Klink explica que são diversas as maneiras como a UFABC deverá contemplar os anseios das cadeias produtivas e do mercado de trabalho. Além de oferecer cursos sob medida, de acordo com necessidades específicas de determinados setores, a UFABC deve inserir conceitos inovadores no cardápio dos cursos básicos. Lições de produtividade, por exemplo, serão repassadas de maneira transversal, em disciplinas puras como química, física e matemática. No que depender de Jeroen Klink, as salas de aula serão constantemente oxigenadas com abordagens pragmáticas de especialistas testados e aprovados pelo mercado de trabalho. Planeja trazer executivos da iniciativa privada para as salas de aulas como professores-visitantes nos cursos de graduação, algo frequente nas melhores universidades dos Estados Unidos e Europa.

 

Para Jeroen Klink, não há contra-senso em projetar tantas inovações em face da anorexia financeira das universidades públicas no Brasil. Pelo contrário. A convergência de propósitos entre universidades e empresas pode representar valiosa alternativa de financiamento pelo simples fato de que a iniciativa privada pode -- e certamente terá grande interesse -- em contribuir com programas voltados ao aumento da competitividade. "Promoveremos espécie de parceria público-privada que garantirá a contemporaneidade dos conteúdos pedagógicos além de contribuir com a sustentabilidade financeira" -- sintetiza Jeroen. Ele acredita que o perfil inovador reservado para a UFABC poderá transformar a instituição em referência para a reforma universitária que o governo federal planeja realizar.

 

Novas matrizes

 

A indústria automobilística entrelaçada com a cadeia de autopeças e a indústria petroquímica ramificada na cadeia de plástico de terceira geração despontam como candidatas naturais à atenção curricular da UFABC como principais pilares de sustentação da economia regional. Mas a universidade que Jeroen Klink tem em mente não terá foco voltado apenas aos setores consolidados. Além de auxiliar segmentos maduros e carentes de aprimoramento contínuo, porque estão imersos em competitividade vertiginosa, a UFABC deve agregar missão desbravadora: propiciar suporte ao surgimento de novas matrizes que contribuam para diversificar a economia da região. Ao mesmo tempo em que não deve abrir mão de lustrar as bases automotivas e petroquímicas instaladas há décadas, o Grande ABC não pode fechar os olhos para necessidade de trilhar novas veredas econômicas. "E uma universidade comprometida com o desenvolvimento sustentado regional tem papel importantíssimo a desempenhar a esse respeito" -- sintetiza Jeroen Klink.

 

E detalha: "Além de incentivos fiscais, acessibilidade logística e proximidade do mercado consumidor, a presença de uma universidade sensível às necessidades de formação da indústria salta à vista de empreendedores como fator decisivo na alocação de investimentos. Instituições educacionais de vanguarda são ingredientes imprescindíveis na receita dos clusters, aglomerados industriais de alta performance constantemente alimentados por inovações" -- explica, utilizando o termo consagrado pelo norte-americano Michael Porter, um dos maiores especialistas mundiais em competitividade regional.

 

Apesar de sediar estruturas industriais complexas, o Grande ABC jamais contou com clusters, porque nunca houve integração estratégica entre os diversos elos de cadeias produtivas. As montadoras nunca ajudaram pequenas autopeças familiares a galgar patamares superiores de competitividade. Pelo contrário: o que se viu antes e após a mundialização dos anos 90 foi uma verdadeira ruptura da cadeia automotiva. Situação histórica que Jeroen Klink espera mudar com a transformação da UFABC em catalisadora de capital social, expressão que denota interação entre lideranças públicas, privadas, sindicais, institucionais e educacionais.

 

A lista de novas matrizes produtivas que o Grande ABC pode estimular a partir de uma estrutura de conhecimento encharcada pelos preceitos de economia de mercado é tão ampla como o leque de potencialidades no limiar do século XXI. Um dos exemplos citados é o setor de telecomunicações, cujas aplicações se alastram por áreas nunca antes imaginadas. Como a medicina, por exemplo, por meio de tecnologia que proporciona pré-diagnóstico à distância de pacientes enfartados a caminho do hospital. "A instalação de mega call-center da TIM em área que foi ocupada pela Pirelli Cabos pode representar o primeiro passo para a criação de um pólo tecnológico de fabricantes de equipamentos e empresas especializados em desenvolvimento de softwares para telecomunicações" -- vislumbra Jeroen Klink.

 

O entusiasmo tem motivação especial. Jeroen Klink voltou animado de almoço com o diretor da Telecom Itália para a América Latina, Marco Patuan. Falou sobre os planos para a UFABC e retornou com a impressão de que o investimento da companhia não ficará restrito à central de atendimento remoto inaugurado no início deste mês.

 

A implantação de um pólo de empresas especializadas em tecnologia ambiental é outra oportunidade capaz de unir as pontas da UFABC ao desenvolvimento econômico. "A região dispõe de imensa área de manancial que pode ser ocupada por indústrias ecologicamente responsáveis. A legislação de Santo André foi alterada para proporcionar essa possibilidade" -- lembra Jeroen Klink, que cita o caso da região alemã do Vale do Rhur como referência para o Grande ABC.

 

"Nos anos 70 o Vale do Rhur era uma das regiões mais degradadas da Europa. Hoje exporta tecnologia ambiental para vários países do Leste Europeu graças ao papel indutor promovido por universidades" -- explica.

 

As duas grandes notícias que o Grande ABC comemora neste fim de ano embutem pelo menos duas lições valiosas. A primeira: os três anos do governo Lula da Silva valeram muito mais para o Grande ABC do que os oito anos da era FHC. A expansão do Pólo Petroquímico e a implantação da Universidade Federal são vitórias que dependeram da sensibilidade do presidente egresso dos metalúrgicos de São Bernardo. Além disso, o governo Lula foi bafejado pelo comércio internacional e a região recuperou parte do prejuízo da desindustrialização no governo FHC.

 

A outra lição: por mais que esferas superiores de governo estejam pré-dispostas a resgatar parte da dívida histórica com a região que recebe muito menos do que oferece em tributos, o desfrute só será completo se agentes socioeconômicos locais se organizarem para extrair o máximo possível.



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