Uma das entrevistas mais importantes que já fiz foi com o então prefeito de Santo André, Celso Daniel. A entrevista foi publicada na edição de abril de 2001 da revista LivreMercado. Viajamos de ônibus no mês anterior a São Carlos, convidado que fui para engrossar o que chamaria de comitiva vip de torcedores do Santo André. O confronto no Interior era com o Sãocarlense. Não poderia perder a oportunidade de conviver algumas horas com o então já maior prefeito dos prefeitos da região. Celso Daniel era um convite ao diálogo inteligente, no qual o futuro era pauta obrigatória – como se antevisse que só lhe restava pouco do presente.
Por sugestão do brilhante Klinger Souza, então já contestado secretário dos secretários de Celso Daniel, carreguei um gravador. Sempre mantive com Klinger Souza relação muito respeitosa. Entenda-se respeitosa como algo profundamente ético. Klinger não refugava enfrentamentos. O menino de ouro de Celso Daniel me avisara com antecedência que o titular do Paço Municipal estaria disposto a um papo descontraído durante a viagem. Foi muito mais que isso. Foi extraordinariamente produtivo – como poderão ver os leitores ao acessarem o link no pé deste artigo.
Conversamos durante toda a viagem de ida. Foram quase duas horas de gravação. Celso Daniel falou sobre o sonho de Santo André contar com um terciário de valor agregado, colocado às demandas da indústria. Terciário era um verbete muito utilizado à época para definir o setor de serviços. Celso Daniel morreria de desgosto, se não tivesse morrido de morte matada, se soubesse o que aconteceu com Santo André durante esses 13 anos em que se foi. Como o espirito público regionalista marcara sua carreira, morreria ainda mais profundamente triste ao saber o que ocorreu com a região desde que partiu.
Futuro não chegou
A economia de Santo André não sofreu tanto ao longo de décadas com a desindustrialização porque houve alguém mais atrevido lá em cima, algum ajudante de ordens do poderoso, a apontar o dedo em direção a seu território. Juntamente com São Caetano, Santo André viu seu parque industrial degringolar em proporção muito maior até metade dos anos 1990 do que a vizinha São Bernardo durante os últimos 20 anos.
A recomposição do tecido econômico com um setor de serviços dinâmico seria grande opção. Celso Daniel anteviu um futuro que nem ele nem ninguém alcançaram -- mesmo aqueles que pensam que vivem e raciocinam, mas que não passam mesmo de tolos juramentados. Sim, são tolos ou ignorantes aqueles que acreditam existir em Santo André e na região algo que lembre um setor de serviços dinâmico, regenerador de uma econômica fortemente abalada pelas perdas industriais. Há palpiteiros na praça a darem entrevista sem ter o menor conhecimento sobre o assunto.
Particularmente em Santo André, os números de empregos formais que não são tão estrepitosamente danosos como de outros municípios locais, são mascarados pelo falso dinamismo do setor de serviços. O que prevalece na geografia do Município são postos de trabalho de baixa remuneração. Call-centers estão aí para lubrificar uma engrenagem trabalhista que nem de longe reduz as perdas de produção industrial.
Quem acreditar na lorota de que perdemos viço no setor industrial mas compensamos tudo com o setor de serviços não sabe da missa um terço. Os mais recentes dados sobre o comportamento do PIB de Serviços da região, tendo como fonte o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), publicados nesta revista digital referem-se à primeira década deste novo século, tendo 1999 como base de comparação. São resultados extraordinariamente preocupantes porque também o foram o PIB Geral e o PIB Industrial. Quando O PIB Geral vai mal e o PIB Industrial cai pelas tabelas, a lógica econômica não tira o PIB de Serviços da reta. Muito pelo contrário.
Degringolada geral
Tanto que nos primeiros 10 anos dos anos 2000, apenas São Bernardo se manteve no bloco dos 10 primeiros colocados do PIB de Serviços do G-20, grupo que criamos reunindo as 20 maiores economias do Estado, exceto a Capital. E mesmo assim São Bernardo foi bastante discreta, com crescimento nominal (sem considerar a inflação) de 189,20%. Muito abaixo, por exemplo, da primeira colocada Osasco, que avançou 338,63%, ou de Barueri, com 230,76%. Aliás, números que provam e comprovam estudos que realizamos sobre o bumerangue do trecho oeste do Rodoanel, obra que mais prejudicou do que beneficiou a região. Santo André cresceu nominalmente 146,52%, contra 185,63% de Diadema, 165,47% de São Caetano e 156,25% de Mauá. Não calculei os dados de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, por serem inexpressivos ao conjunto da região.
Asseguro aos leitores que vou atualizar os dados do IBGE. Vou chegar a 2012, quando saiu o último levantamento oficial. Não esperem grandes transformações. A banda que toca a música do PIB de Serviços não é diferente da banda que toca a música do PIB Geral e do PIB Industrial. Alguns acordes mais agudos aqui e lá não alteram no curto prazo a regra do jogo. O setor de serviços da região está a léguas de distância do nível tecnológico desejado por Celso Daniel. E isso contribui para agravar ainda mais a crise que chegou a bordo de uma recessão brutal ditada não por Joaquim Levy como tenta fazer crer Lula da Silva e tantos outros petistas embromadores, mas pelas estripulias de dois mandatos seguidos – o segundo de Lula da Silva e o primeiro de Dilma Rousseff – em que se optou por vender ilusão comprada inclusive pela The Economist, revista inglesa que caiu do cavalo de dados anabolizados por políticas insustentáveis.
A leitura do link abaixo, da entrevista que fiz com Celso Daniel, é ótimo programa inclusive para quem a leu já exaustivamente. Como este jornalista.
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