Economia

Dilma acelera para liquidar
estoque de empregos de Lula

DANIEL LIMA - 27/10/2015

O governo de Dilma Rousseff caminha celeremente para rebaixar o nível de emprego industrial com carteira assinada ao último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002. A perda de 1.631 postos na região em setembro, segundo dados do Ministério do Trabalho, reforça a possibilidade de Dilma Rousseff destruir todo o estoque de emprego que os oito anos de Lula da Silva deixaram na região. Emprego industrial numa área geográfica dominada pelo setor automotivo é o emprego mais ambicionado do País. Mesmo que o privilégio provoque efeitos colaterais -- como já cansamos de explicar. Pior que efeitos colaterais é não ter emprego industrial de qualidade. 


 


A expectativa de que Dilma Rousseff causaria nova avaria no emprego industrial na Província do Grande ABC foi confirmada pelo Ministério do Trabalho. Dizer que cantei a caçapa, no sentido de que antecipei algo pouco provável, seria estupidez. O que é estúpido mesmo – e isso segue rotina jornalística verde-amarela – é negar ou tentar negar que o quadro vai ficar ainda mais cinzento no mercado de trabalho.


 


Quando escrevi em 30 de setembro último, sob o título “Contagem regressiva: quando o PT vai chegar ao fundo do poço de FHC?”, me referindo ao emprego industrial na região, exercitava mais que o direito à provocação: estava iniciando para valer uma contagem regressiva macabra, por assim dizer, porque o emprego industrial é o que nos ainda resta de parte da riqueza construída ao longo do século passado.


 


Avanço rumo ao passado


 


Com a baixa de 1.631 postos industriais, a contabilidade negativa do governo Dilma Rousseff segue em marcha batida: desde que foi eleita pela primeira vez e assumiu a presidência da República em janeiro de 2011, foram decepadas 26.154 carteiras assinadas na região. Como recebeu de legado de Lula da Silva saldo de 60.553 trabalhadores industriais com carteira assinada, restam agora 34.399 empregos a mais do que em dezembro de 2002, quando Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência após dois mandatos.


 


Se ao final de agosto a Província do Grande ABC precisaria perder em média por mês 900 empregos industriais com direitos trabalhistas regulamentados até dezembro de 2018, agora a média foi reduzida a 882 postos. Se ao longo dos próximos meses o total de carteiras assinadas industriais estiver acima dessa média, mais a média prevista será rebaixada.


 


Se não for atropelada constitucionalmente pelos fatos amplamente conhecidos, de pedaladas fiscais a outras irregularidades, Dilma Rousseff tem ainda 39 meses do segundo mandato. Basta multiplicar 882 postos de trabalho pelo total de meses que lhe restam no cargo para zerar o estoque deixado por Lula. A Província, portanto, 16 anos depois, voltaria a contar com acumulado de emprego industrial de 2002. Um retrocesso e tanto.


 


Santo André menos pior


 


A individualização regional da perda de emprego industrial qualificado não deve levar em conta os números de Rio Grande da Serra, cujo estoque é baixíssimo. Rio Grande da Serra não representa nem 0,5% do PIB Geral da região. Portanto, a variação positiva de 154 carteiras assinadas nos últimos 12 meses não deve ser considerada substantiva às avaliações da região. A variação positiva de 10,06% do emprego industrial em Rio Grande da Serra, por conta dos 154 postos de trabalho de saldo em 12 meses, não serve às considerações municipais. São menos de 1,6 mil trabalhadores industriais na cidade.


 


Quem alcançou desempenho menos comprometedor entre outubro do ano passado e setembro deste ano foi Santo André, que acusou perda de 6,63% do estoque de emprego industrial. Foram 2.151 demissões líquidas (conceito de significa o saldo entre contratações e demissões no período). Santo André conta com 30.292 trabalhadores do setor.


 


Ribeirão Pires, cujo estoque é de 7.779 carteiras assinadas, perdeu 7,81% do efetivo durante os últimos 12 meses. Um pouco menos que a terceira colocada regional no ranking de demissões: São Caetano perdeu 2.211 postos industriais no período e teve rebaixado o estoque para 25.357 trabalhadores. Mauá vem a seguir com baixa de 2.196 carteiras assinadas, com variação negativa de 8,71% em 12 meses. O estoque caiu para 23.016.


 


Lanterninha em disputa


 


São Bernardo e Diadema disputam acirradamente a lanterninha, porque são mais contundentemente impactados pela crise automobilística. São Bernardo perdeu nos últimos 12 meses 9,03% do estoque de trabalhadores industriais, com queda líquida de 8.659 postos. Agora conta com 87.232 carteiras assinadas. Diadema sofreu mais dores: perdeu 6.005 trabalhadores industriais, com variação negativa de 10,88% em 12 meses. O estoque é de 49.188 postos de trabalho.


 


O conjunto dos sete municípios da região acumula perda de 21.727 postos de trabalho industriais nos últimos 12 meses. A crise é implacável. O estoque de 246.275 trabalhadores caiu para 224.548. Uma variação negativa de 8,82%%. Na Região Metropolitana de São Paulo, também profundamente atingida no setor industrial, a variação negativa do emprego nos últimos 12 meses foi expressiva: 7,54%, incluindo-se os dados da Província do Grande ABC.


 


No total, os 39 municípios da Grande São Paulo registraram perda líquida de 86.893 trabalhadores industriais de um total de 1.152.427. Ou seja: o saldo de setembro foi rebaixado a 1.065.534 carteiras assinadas. Em outubro do ano passado, portanto, a Província de sete municípios registrava 246.275 postos de trabalho industrial de um total de 1.152.427 da metrópole. Uma participação relativa de 21,37%. Já em setembro deste ano o saldo de 224.548 empregos industriais na região ante 1.065.534 da metrópole significou participação relativa de 21,07%. Uma queda leve da região em relação ao restante formado por 32 municípios.


 


Capital sofre menos


 


A indústria da Capital sofreu perda de emprego formal menos impactante que a média da Província do Grande ABC e da Região Metropolitana: foram destruídas 6,90% carteiras de trabalho no período de 12 meses, com perda de 36.070 trabalhadores. Ou seja: 22% menos em relação à Província.  O percentual é resultado da comparação da queda de 8,82% do emprego industrial na região ante os 6,90% na Capital. A cidade de São Paulo conta com mais que o dobro de trabalhadores industriais da Província do Grande ABC: são 486.683 contra os 224.548.


 


Sempre considerando o período de outubro do ano passado a setembro deste ano, a crise do emprego industrial é democraticamente nacional, mas a média brasileira é inferior à média da Província do Grande ABC, da Região Metropolitana de São Paulo e da cidade de São Paulo. No período de 12 meses o Brasil acumula perda relativa de 6,11% de empregos formais na indústria de transformação. Foram eliminados 515.516 trabalhadores. O estoque caiu de 8.437.250 para 7.921.734 postos de trabalho.


 


A Província do Grande ABC contava com 2,92% dos trabalhadores industriais com carteira assinada em outubro do ano passado. Agora, em setembro, são 2,83%. Ou seja: a crise do setor é mais intensa na região do que na média do Brasil. Tanto que a região participou nos últimos 12 meses com 4,21% do total de demissões no setor. Pouco menos que o dobro da participação relativa no estoque de empregos.


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