Já escrevi “Complexo de Gata Borralheira”, “Meias Verdades”, “República Republiqueta” e “Na Cova dos Leões”. Deixei de publicar em forma de livro impresso muita coisa que já escrevi ou observo diariamente porque falta dinheiro e os potenciais financiadores fogem de jornalistas que botam o dedo nas feridas da área geográfica em que atuam. Eles sofreriam represálias dos bandidos da praça se contribuírem com alguém que se mete a revelar as realidades da região.
Quem sabe nesta temporada que se abre vou dar um jeito de escrever meu quinto livro. E já tenho o título, que me surgiu numa manhã de leitura no final do ano. “Síndrome de Peão” daria sequência à série de expressões com que já cunhei muitos sentimentos que nutro pela região. “Província do Grande ABC”, “Gata Borralheira”, “Doença Holandesa”, “Bicho de Sete Cabeças” são algumas das quais me lembro sem esforço.
“Síndrome de Peão” poderia ganhar forma de livro contando com duas alternativas.
A primeira alternativa à “Síndrome de Peão” seria mais trabalhosa, mais custosa. Eu me dedicaria a escrever do começo ao fim um texto único, exclusivo, abordando múltiplas assombrações regionais sobre as quais já me debrucei ao longo dos anos. Poderia dar à obra um tom de reportagem, enfaticamente de reportagem, ou transformá-la em espécie de grande metáfora, como o fiz com “Complexo de Gata Borralheira”.
A segunda alternativa seria simplesmente preparar um grande texto de abertura, de apresentação, um texto-âncora, e, com muito cuidado, escolher entre centenas de matérias que preparei para esta revista digital e também para a revista LivreMercado, as quais complementariam a iniciativa. Mais que complementariam, corroborariam ao entendimento da obra. Nada extraordinário de alcançar. Há um fio condutor entre tantos os temários que já transpus a estas páginas.
Potencial de comunicação
Não vou dizer aos leitores que moverei céus e terras para levar adiante a possibilidade de escrever uma ou outra forma de “Síndrome de Peão”. Não vendo a alma para alcançar meus objetivos. Mais que isso: sempre dou um jeito de retificar meus objetivos, buscando novos caminhos para chegar ao mesmo resultado.
É claro que livro é livro, que fica potencialmente para a eternidade, mas quem disse que os meios digitais, como esta revista, não têm também esse poder todo. Se não têm ainda, quem garante que não venham a ter? O mundo impresso não resiste à invasão dos bárbaros digitais. Carrego uma vantagem imensa neste novo mundo tecnológico na área de comunicação sobre a maioria dos que se metem nesta nova seara: sou filho legítimo da mídia impressa, considerada antiga na forma mas responsável pela produção de profissionais com visão mais sistêmica do mundo informativo.
Não parei ainda para alinhavar os conceitos que dariam à “Síndrome de Peão” estrutura editorial a ser perseguida, mas não preciso me esforçar muito para traduzir o que de fato já se vem desenvolvendo há muito tempo. Observem bem os leitores: no fundo, no fundo, não passo mesmo de um cronista desta Província. Um cronista em forma de reportagem, de análise na maioria quase absoluta dos textos, mas um cronista.
Sei, entretanto, que a marca “Síndrome de Peão” pode remeter inadvertidamente à interpretação de que a obra ou simplesmente o mote que seria aplicado faria referências mordazes ao chão de fábrica. Não é bem isso, se bem que também é isso. Ou melhor: é muito disso, para dizer a verdade, mas não se restringe aos trabalhadores apertadores de parafusos que supostamente teriam cristalizado a cultura de cidadania que não passa de impostura. Os reflexos da ocupação industrial da região e da ausência de terciário de riqueza produtiva estão na raiz de “Síndrome de Peão”.
Planejamento da obra
Não vou escrever mais sobre os terrenos que abrangeria a obra. Acho melhor, dada a responsabilidade da proposta, parar por uns 30 minutos e planejar preliminarmente o trabalho em suas múltiplas faces. O que posso antecipar é que não recuarei um milímetro na interpretação da realidade social desta Província, e seus reflexos no conjunto da sociedade.
E a partir de agora vou massificar a expressão que, repito, tanto pode virar um livro específico, de cabo a rabo, como uma coletânea com introdução explicativa que amarraria todos os textos produzidos em datas dispersas, mas potencialmente complementares no sentido de entendimento do que somos, ou do que deveríamos ser. Síndrome de Peão, sem aspas, passará, portanto, a povoar estas páginas. Como são os casos de Província do Grande ABC, Gata Borralheira e suas variáveis, Doença Holandesa, Bicho de Sete Cabeças, Defenda Grande ABC, Assalta Grande ABC, Festeja Grande ABC, Aplaude Grande ABC e tantos outros. Lembrei-me de mandachuvas e mandachuvinhas no último minuto do segundo tempo. Síndrome de Peão é uma grande sacada, cá entre nós.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)