Vou publicar na próxima segunda-feira a íntegra da Entrevista Indesejada. Por desejo próprio, me submeti aos leitores. Muitos aceitaram o que chamaria de desafio. Vou provar mais uma vez que não tenho horror à transparência funcional. Bem diferente da maioria de agentes públicos e privados da região que, questionados, fugiram da raia. Para eles, Entrevista Indesejada é quase uma expressão demoníaca. Eles preferem Entrevista Adocicada tão comum na mídia em geral. Bolas preparadas para fazerem gols postiços.
Só existe Entrevista Indesejada para quem tem muito a esconder ou nada a explicar. Caso, por exemplo, do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. Logo abaixo deste texto, em link, reproduzo as perguntas que enviei ao prefeito petista e às quais ele dedicou imenso silêncio. Com Milton Bigucci, então presidente do Clube dos Construtores e Incorporadores, não foi nada diferente. Aliás, diferente foi porque foram sete tentativas ao longo de cinco anos. Outros personagens da região fingiram-se de mortos. Como Maurício Mindrisz, então presidente da Fuabc, Fundação do ABC, reduto de dúvidas que ninguém ousa enfrentar porque é uma confederação de interesses partidários e políticos cruzados e ecumênicos na arte de passar a perna no distinto público.
Preferi adotar o que chamaria de intervenções temáticas nas respostas que organizei nas duas semanas de férias de final de ano. Transformei as perguntas em assuntos específicos, a contemplar todos os leitores. Por exemplo: questões sobre o Diário do Grande ABC têm como resposta um grupo argumentativo que procura satisfazer a todos os leitores que enviaram perguntas assemelhadas, a quase totalidade das quais relacionadas aos motivos que me levaram a deixar o jornal em setembro último, após menos de seis meses de trabalho. Imaginei que o assunto estivesse esgotado, mas parece não estar.
Sem contemporizações
Não esperem que eu seja politicamente correto na Entrevista Indesejada que será editada nesta segunda-feira. Como em 2009, na primeira Entrevista Indesejada à qual fui submetido, ainda na esteira do repasse da revista LivreMercado a um recuperador de tributos que se mostrou incompetente para gerir a publicação, vou direto ao ponto. Sem meias palavras, sem pruridos diplomáticos.
O que posso antecipar aos leitores é que acredito que valerá a pena consumir Entrevista Indesejada. Entre outros motivos, além da agudeza natural com que enfrento a realidade da Província do Grande ABC, está a imperiosidade de não enganar a ninguém. Não são de hoje, como se sabe, minhas sentenças peremptórias sobre a Economia e a Sociedade desta Província. Não teria sentido, portanto, abrandar as avaliações. A ênfase tem sentido duplo: esse é meu estilo e também essa é a necessidade de combater os bandidos sociais que não fazem outra coisa senão mentir à sociedade.
Talvez tenha de refazer apenas e unicamente a conclusão explicitada há muito tempo sobre a incompetência quase generalizada das instituições da região em lidar com os problemas locais. Tenho dito e repetido que as instituições da região não funcionam. Até domingo último não tinha dúvidas sobre isso. Repetiria mil vezes, se preciso. Entretanto, ao acompanhar o programa Globo News Painel e ao ouvir um dos entrevistados, o escritor e especialista em redes sociais Augusto de Franco, captei uma frase que catapulto à realidade regional. Ele disse que, exatamente porque as instituições funcionam, o Brasil não sai do marasmo em que se encontra.
Aprisionamento ao passado
Outro entrevistado, cientista político, Celso de Barros, não entendeu o sarcasmo da frase. As instituições brasileiras, em larga escala, funcionam sim, funcionam mesmo, mas estão presas a uma engrenagem do século passado, quando não do anterior, e por isso não acompanham as demandas por modernização e atualização.
É exatamente isso o que ocorre nesta Província. Já escrevi lá atrás, alias, que as associações comerciais da região estão presas a meados do século passado. Sobrevivem com estruturas obsoletas, corporativista, sem se dar conta do que se passa em forma de interesses coletivos. Reclamam da burocracia do Estado, mas a repetem à exaustão.
Sei que não é agradável dizer o que estou dizendo, principalmente para os atuais ocupantes dessas instituições, mas o que estou dizendo é absolutamente necessário. Quem sabe um dia caem as fichas dos dirigentes e tudo comece a se alterar? O mesmo vale às unidades locais da Ordem dos Advogados do Brasil, entre outras instituições.
Entenderam, então, por que Entrevista Indesejada é algo de que não se pode abrir mão como compromisso de leitura? Entenderam, então, por que Entrevista Indesejada é abominada pela maioria dos agentes que, submetidos a indagações, optaram pelo silêncio vergonhoso, quando não desclassificatório?
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)