Qual seria o resultado do cruzamento da Operação Lava Jato e da Operação Zelotes para figurinhas carimbadas da política regional, algumas das quais estouraram no mercado nacional de notoriedade -- não necessariamente de notabilidade -- caso do ex-presidente Lula da Silva? Só o tempo deverá responder a essa provocação que reflete o desejo da sociedade. Certo mesmo é que a Administração Luiz Marinho está particularmente inquieta. E na medida em que se cala, mais gera especulações sobre ramificações dos dois casos na região.
O preço a pagar pela falta de transparência nos assuntos públicos é a degradação da imagem de administrador. Pelo andar da carruagem, quando Luiz Marinho deixar o comando da Capital Econômica e Capital Política da região, os níveis de desconfiança dos eleitores e contribuintes serão preocupantes. Fazer sucessor, ao que tudo indica, nem pensar. Pensar em virar governador do Estado? Loucura.
Lamento sinceramente que o prefeito Luiz Marinho tenha saído do estágio de frondosa esperança de um novo modelo de liderança regional, rivalizando-se saudavelmente com Celso Daniel, e mergulhasse num gigantesco poço de decepções. Marinho contou com todos os ingredientes macropolíticos e macroeconômicos para chegar a estágio de reconhecimento justo do talento que se imaginava possuidor.
Os anos dourados de Lula da Silva na presidência da República, vistos pelos olhos de aprovação popular, poderiam ter catapultado Marinho a um patamar que as travessuras de Dilma Rousseff não sabotariam. Como não aproveitou a onda favorável, agora tem de lidar com a enxurrada de complicações.
Mandonismo sindical
Entre todos os pecados capitais do maior líder petista da região – maior, nestas alturas do campeonato não quer dizer muita coisa, ou significa muita coisa negativa – o principal é mesmo a ojeriza do ex-sindicalista a prestar informações à imprensa longe do mandonismo de relacionamento cultivado com repórteres nos tempos de liderança metalúrgica.
Luiz Marinho leva qualquer crítico de bom senso que o tinha como portal de inovações na política regional a postura implacável de questionamentos. Jornalista de verdade não convive com ranços monopolistas de informações e muito menos com prepotência de qualquer autoridade de plantão.
Não é a primeira vez nem será a última que abordo a origem do comportamento de ex-metalúrgicos que se metem na política e se transformam em monumento intocável. A responsabilidade maior por esse tipo de autoritarismo é da Imprensa. Os setoristas sindicais, salvo honrosas exceções poucas vezes manifestadas, são verdadeiras incubadoras desses monstros de unanimidades burras que exercitam ilimitados nas entidades de trabalhadores.
Empresto a qualquer estudioso que tenha liberdade intelectual e estofo moral as pastas sobre a cobertura jornalística histórica dos sindicatos de trabalhadores da região, notadamente dos metalúrgicos de São Bernardo, e o desafio a encontrar sequência mesmo que circunstancial de reportagens que coloquem a atuação dessas lideranças em xeque.
Blindagem à crítica
Não existe no cenário político-econômico-social do País nada mais impermeável à prática do jornalismo de verdade, resumidamente o exercício à crítica, do que o sindicalismo de trabalhadores. Eles têm capacidade imensa de seduzir, quando não de coagir, jornalistas escalados para acompanhar suas atividades. De fato, mais coagem do que seduzem. Manipulam os cordéis da concorrência entre os veículos de comunicação para estimular ostensiva docilidade de tratamento, sob pena de imporem medidas retaliadoras.
É nesse ambiente de compadrios escusos e fraudadores da essência do jornalismo que se fomentam dirigentes como a do agora prefeito Luiz Marinho, cujo caudal de bobagens palpiteiras, algumas das quais analisadas nesta revista digital, chega a ser estonteante.
Juro por todos os juros que me sentiria um banana se, sem justificativa consolidada e comprovadamente fruto de ação jornalística restauradora da verdade dos fatos, fosse homenageado por alguma instituição ligada ao sindicalismo de trabalhadores.
O atestado de independência econômica, intelectual e também de honorabilidade que os preceitos jornalísticos tradicionais evocam seria surrupiado ante uma gentileza qualquer que fosse prestada por gente que só enxerga o corporativismo convencional misturado ao politiquismo ideológico -- como é o modelo mais que ultrapassado do sindicalismo que emergiu em São Bernardo.
Foram-se os anos dourados dos supostos revolucionários comandados por Lula da Silva. A sequência de ocupantes do Sindicato dos Metalúrgicos se configurou típica de grupos organizados para impedir qualquer tentativa de oxigenação da cena econômica da região.
Sindicalismo supera FHC
Costumo dizer nos bastidores e não vou perder a oportunidade de enunciar neste espaço que houve um momento da história econômica e social da região em que o então presidente Fernando Henrique Cardoso causou muito mais estragos com a politica de abertura econômica desregrada e a guerra fiscal ensandecida do que os anos cumulativos da ação sindical dos cutistas. Aliás, provei tal enunciado com dados estatísticos.
Entretanto, não se pode negar que a sequência dos fatos, a história em si, não deixa mais dúvidas: Fernando Henrique Cardoso provocou estragos insofismáveis no tecido industrial da região, com barbaridades ditadas pela falta de sensibilidade de entender que não se troca de figurino num piscar de olhos, mas os sindicalistas seguiram e intensificaram ações mais que congeladoras, destrutivas.
Resultado final? Enquanto os efeitos deletérios da gestão de Fernando Henrique Cardoso causaram danos temporais que se diluíram no tempo e, paradoxalmente, deixaram um legado de transformações potenciais ainda à espera de executores, os sindicalistas metalúrgicos não abrem mão de verdades e da obsolescência doutrinária que minam a competitividade industrial da região.
Amplos significados
O que tudo isso tem a ver com a Operação Lava Jato e a Operação Zelotes?
Primeiro, a Operação Lava Jato tem ramificações profundas na região, principalmente no Polo Petroquímico, e a presença maciça da OAS, uma das empreiteiras metidas em enrascada, a dominar o orçamento de obras de custos suspeitos em São Bernardo do prefeito Luiz Marinho.
Segundo, a Operação Zelotes, voltada ao desmascaramento de compra de medidas provisórias em favor do setor automotivo, está chegando aos caças suecos Gripen que, conforme foi anunciado pelo prefeito Luiz Marinho, terão uma fábrica de estruturas em São Bernardo. Uma fábrica muita estranha porque se sabe de atuação do lobista Edson Asarias, assessor informal de Marinho. Uma prometida delação premiada de um dos envolvidos no caso certamente colocará Asarias no centro do escândalo.
O resumo da ópera é simples: quando os sindicalistas sem freios críticos de uma mídia submissa às vontades de supostos representantes de trabalhadores se lançam em outras arenas, tudo pode acontecer. Principalmente quando holofotes menos generosos lhes são direcionados.
O futuro da Província do Grande ABC, por essas e outras, passa pela repaginação ética e funcional dos sindicatos dos trabalhadores. Eles não podem ser os todos poderosos a salvo de qualquer inconformismo crítico.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)