Felizmente o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) é um fracasso de público e de bilheteria, embora Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, aquele sob o controle da CUT e do PT, venda a imagem de que é um sucesso. Bobagem. Todo mundo jornalístico cai no conto da carochinha de um sucesso que não existe.
Até o ótimo jornal Valor Econômico, em reportagem publicada hoje, dá louvores ao PPE, embora a reportagem tenha me abastecido formalmente com uma informação que confirma o que tenho escrito de passagem nesta revista digital: o PPE destrói as relações entre empresas de diferentes portes e afeta contundentemente a cadeia de produção. É, portanto, a antítese do que prega o sindicalismo desastrado que se pretende salvador da pátria. Com amplo apoio da mídia anencefálica.
O título da reportagem do jornal Valor Econômico de hoje repete outras publicações igualmente graduadas e outras nem tanto: “Programa de proteção ao emprego beneficia 41 mil em seis meses”. O que é uma confissão tácita de furo nágua se noticia como resultado extraordinário. Lançado há pouco mais de seis meses, como aponta o jornal, o Programa de Proteção ao Emprego conta com apenas 53 adesões, mais da metade na Província do Grande ABC, sob controle dos metalúrgicos e sua teia de dependentes sindicais.
Primeiro Mundo ilusionista
Para os metalúrgicos de São Bernardo, que também dominam os territórios de Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, o Programa de Proteção ao Emprego é uma questão de honra entre outros motivos porque foi rebocado do Primeiro Mundo e como tal pretende ser. Como se fôssemos Primeiro Mundo.
Os sindicalistas de São Bernardo jogam o prestígio que supõem exercitar na massificação de adesões, mas já sentiram que estão muito distantes das pretensões. Entretanto, como sabem fazer marketing porque a mídia é extremamente gentil, quando não bajulativa e omissa, deitam e rolam ao edulcorar as informações.
Até dezembro último, segundo a reportagem do Valor Econômico, foram aprovados R$ 119,1 milhões em contratos que beneficiam 40,9 mil trabalhadores com a redução parcial da jornada de trabalho custeada em parte pelos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Adivinhem que atividade econômica monopoliza praticamente todo esse montante de recursos financeiros?
É claro que os metalúrgicos, predominantemente do setor automotivo. Mais precisamente das grandes empresas automotivas sempre alinhadas aos sindicalistas quando se trata de vantagens mútuas. Basta ver o escândalo da venda de medidas provisórias que tem entre envolvidos gente ilustre com amplo domínio do território regional.
Minha principal queixa ao Programa de Proteção ao Emprego. e que demonstra que não sou bobo nem nada, é que as relações trabalhistas e o jogo que deveria ser bem jogado de democratização do empreendedorismo sofrem duros reveses ao possibilitarem o benefício a determinado grupo de empresas em detrimento da maioria. As restrições legais à adesão ao PPE são suficientes para eliminar a quase totalidade das pequenas e médias empresas sufocadas por dívidas tributárias.
Todas estão fora do jogo. Ora, quanto mais essas empresas sofrem com a recessão econômica e mais são submetidas ao torniquete de negociações de preços de suprimentos pelas gigantescas montadoras de veículos, mais se fragilizam na relação comercial. O que teremos ao final dessa estupidez pretensamente saudável será o agravamento das tratativas historicamente já complexas.
Prova do crime
A reportagem do Valor Econômico não chega nem a tangenciar o que considero mais relevante no jornalismo impresso, ou seja, a capacidade de interpretação das informações, indo-se, portanto além do trivial. É reportagem bruta. E como tal, contem contradições que podem ter passado despercebidas pelos leitores comuns, mas não por um jornalista com obrigação de entender do riscado. Convido os leitores a lerem os parágrafos que se seguem da reportagem:
Única empresa da região Nordeste na lista, a têxtil Sisa aproveitou o fôlego extra de caixa para tentar ganhar parte do mercado aberto com a falência de pequenas e médias indústrias no setor. A fabricante de produtos de cama, mesa e banho de Sergipe passou recentemente a vender fiação como parte dessa estratégia, conta o coordenador de RH, Sérgio Oliveira.
Traduzindo o texto
Vou traduzir esse recorte da reportagem do Valor Econômico da seguinte forma: a atividade industrial está tão fortemente fragilizada no País que o Programa de Proteção ao Emprego ao alcance de poucos tem alimentado a concentração de produção em empresas beneficiadas pela redução de custo da mão de obra em detrimento de organizações que não encontraram meios de se inscreverem na modalidade supostamente protecionista.
O que se passou no setor têxtil de Sergipe, narrado pelo Valor Econômico, é muito mais abrangente, distorcido e aniquilador na Província do Grande ABC, sobretudo no setor metalúrgico derivado das montadoras de veículos e sob a estreita sodomização trabalhista do Sindicato dos Metalúrgicos.
As pequenas e médias empresas industriais demitem em massa porque tentam salvar os dedos da sobrevivência a qualquer custo, já que os anéis de sonhos de crescimento já se foram há muito tempo. Esse universo sofre um bocado ao não contar com interlocução com a mídia. Bem diferente, o trabalho é sempre muito bem orquestrado por sindicalistas de vezo anticapital até onde lhes interessa.
Quem conhece o relacionamento entre capital e trabalho na região, uma região forjada pelo conflito, sabe que o ambiente é dos piores. Há uma falsidade generalizada no ar. Os empresários de pequeno porte fingem que acreditam nos propósitos desenvolvimentistas dos sindicalistas e os sindicalistas fingem que estão prontos a colaborador como a aproximação entre as partes. A modulação dos diálogos é essencialmente pragmática, mas os pequenos empreendedores sabem que se dependerem de equidade de tratamento em relação ao que os sindicalistas oferecem às grandes empresas, especialmente as montadoras, estão perdidos.
O Programa de Proteção ao Emprego é um embuste que a mídia compra inadvertidamente como a salvação da lavoura.
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