Economia

Novo PIB reforça perdas da
Província no G-22 Paulista

DANIEL LIMA - 10/02/2016

Tenho uma má notícia e uma péssima noticia para o leitor que mora na Província do Grande ABC e precisa de uma lufada de otimismo sobre o futuro de nossa economia. Que notícia o leitor quer primeiro? A má notícia é que nem com a nova metodologia adotada pelo IBGE para medir o tamanho do PIB de cada Município do País -- com dados a partir de 2010 e atualizados até 2013 -- a Província do Grande ABC mudou a rota de desaceleração que vem do passado e teve recuperação anabolizada durante o governo Lula da Silva e sua febre consumista. A péssima notícia é que ao chegarem os dados de 2014 e 2015, quando a economia brasileira desandou a cair, mais que provavelmente afundaremos de preocupação. Outros endereços possivelmente não sofrerão tanto porque não são tão dependentes de uma única atividade econômica, como a região é da indústria automobilística.


 


Transmitir notícias desagradáveis em plena quarta-feira de cinzas não é masoquismo de jornalista metido a coveiro, como alguns ignorantes de pai e mão insinuam. Trata-se de uma providencial ducha fria de realidade para despertar da farra da omissão os responsáveis pelo destino dessa região de quase três milhões de habitantes. Principalmente prefeitos que só pensam nas próximas eleições, ou que perderam o sossego desde que a Operação Lava Jato e a Operação Zelotes foram deflagradas.


 


Situação vai piorar


 


Os eflúvios de Carnaval já podem ser esquecidos. É melhor meterem o pé na tábua da atenção máxima porque se até 2013 estávamos patinando, imaginem quando forem escrutinados os dados de 2014, quando o PIB do Brasil cresceu mísero 0,5%, e principalmente de 2015, quando caiu mais de 3%.


 


O G-22, grupo formado pelos sete municípios da região e os 15 mais importantes do Estado, exceto a Capital, é nosso laboratório mais confiável de detecção do ritmo da economia, entre outros indicadores em várias áreas. Não adianta, como estou cansado de afirmar, comparar São Bernardo com os demais municípios locais ou qualquer um dos demais municípios locais entre si e também com os demais.


 


Devemos ser tratados coletivamente ante o que chamaríamos de concorrentes por investimentos, empregos e riqueza. Ou alguém ainda acredita que investidores movimentam tabuleiros de decisões sem levar em conta a competitividade implícita e explícita do território que pretendem ocupar?


 


Já se foi o tempo em que empreendedores, protegidos pelo Estado e longe da globalização, não faziam muita questão de escolher minuciosamente o endereço em que aportariam máquinas, equipamentos, logística, produção, empregos e tudo o mais. Competitividade é o nome de um jogo praticado amadoristicamente pela Província. Achamos que somos o centro do universo produtivo porque fundamos a indústria automotiva nacional.  No passado produzíamos 100% dos veículos automotores do País. 


 


Medidor contestável


 


A nova metodologia aplicada ao PIB (Produto Interno Bruto) incorporou mais produção e mais serviços. Tornou a medição da geração de riqueza menos vulnerável, embora longe dos requisitos de reprodução desse indicador como qualidade de vida.


 


Por mais que PIB não seja um quantificador de extrema definição do comportamento econômico com reflexos sociais de um Município, de uma região ou de uma Nação, é um manancial nevrálgico a análises. Há peculiaridades que tornam o PIB controvertido. Um exemplo: um pequeno Município que tenha enorme presídio gera mais e mais PIB na medida em que reúne no entorno local a produção de alimentos para abastecer os encarcerados, entre outras atividades de manutenção do equipamento de segurança pública.


 


Um Município sem o impacto econômico de um grande presídio, mas com pequenas empresas, certamente tem qualidade de vida superior, mas perde no ranking de geração de riqueza.


 


São distorções metodológicas desse medidor que causa arrepios em grupos organizados de economistas e sociólogos em busca de um substituto mais à altura dos novos tempos de sustentabilidade ambiental.


 


Capotamento do PIB


 


No caso da Província do Grande ABC, a indústria automotiva é a principal fonte de receitas e de multiplicação de salários e renda. Influi decididamente em outras atividades. Já foi maior e mais importante interna e externamente, mas segue na liderança local. Para o bem e para o mal. Por isso, a perda de 26% da produção nacional de veículos no ano passado abrirá buraco imenso nas finanças públicas da região, além de já terem afetado fortemente o bolso dos moradores. Estima-se que a participação da região no bolo nacional automotivo é de 16%. Bem menos que no passado, mas favorecida em tempos de glória produtiva com recordes de produção. Quanto o PIB da região será afetado com o mergulho da produção de veículos? Podem apostar em número elevadíssimo.


 


Tendo como base 2010 e como extremo 2013, sempre segundo dados oficiais do IBGE, o PIB da Província do Grande ABC registrou empate técnico quando confrontado com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE, indicador oficial de inflação. A região avançou, quando se comparam os dados de 2010 e 2013, ponta a ponta, exatamente 19,78%. Praticamente nada sobre a inflação de 19,38%. Ou seja: no período, em termos reais, o PIB da região cresceu mísero 0,13% por ano.


 


O PIB da Província em 2013 atingiu R$ 114.233.190 bilhões, ante R$ 419.004.003 do PIB dos demais municípios do G-22. Ou seja: o PIB da Província ao final de 2013 representava 27,26% do PIB do G-15. Em 2010, a participação da Província era de 30,13% no PIB do G-22, com nominais R$ 95.363.205 bilhões contra R$ 316.441.271 bilhões dos demais 15 municípios.  Já os 15 municípios que completam o G-22, a maioria do Interior do Estado, cresceram em conjunto 32,41% em termos nominais, ou 9,48% em termos reais, descontada a inflação do período. O PIB do G-15 avançou a velocidade 38,96% superior ao PIB da Província do Grande ABC.


 


São Bernardo compromete


 


Quem mais comprometeu o desempenho regional, atirando-o na sarjeta da baixa competitividade, foi a Capital Brasileira de Veículos: São Bernardo avançou apenas 8,20% no PIB sempre tendo 2010 como base e 2013 como ponta. Muito abaixo, portanto, da inflação de 19,38%. Mauá registrou avanço nominal ainda menor, de 7,68%, mas o tamanho da economia do Município, que depende demais do Polo Petroquímico, não impacta tanto a Província como um todo. A participação relativa de Mauá no bolo do PIB Regional não passa de 9%, contra 41,51% de São Bernardo. A mesma São Bernardo que, em 2010, portanto antes da queda, contava com 44,62% do PIB da Província.


 


O melhor desempenho de PIB da região entre 2010 e 2013 foi de Ribeirão Pires, que cresceu nominalmente 46,72%. Mas isso não tem peso no resultado final: Ribeirão Pires participa com apenas 2,33% no PIB Regional. Bem mais que o 0,45% de Rio Grande da Serra, que cresceu nominalmente 36,84% no período.


 


Quem mais contribuiu para que o PIB da Província do Grande ABC não mergulhasse em novos desarranjos foram São Caetano e Santo André, de pesos relativos bem maiores no bolo regional. Santo André avançou 35,83%, sem considerar a inflação, e São Caetano 31,14%. Santo André representa 22% do PIB Regional, enquanto São Caetano registra 14%.


 


Dos municípios fora da Província do Grande ABC que integram o G-22, somente Paulínia e São José dos Campos registraram PIB abaixo da inflação, juntando-se a São Bernardo e a Mauá como endereços em que a recessão econômica foi fortemente sentida. São José dos Campos, Capital do Vale do Paraíba e dependente demais da indústria aeroespacial, cresceu nominalmente apenas 6,22%. Um pouco menos que Paulínia, endereço de indústria química e petroquímica, que avançou 6,69%.


 


Os demais 13 municípios do G-22 contabilizaram PIB acima da inflação do período. O pelotão da frente é liderado por Piracicaba, que avançou 65,48% e Jundiaí, 53,52. O segundo pelotão é formado por Campinas (40,23% de crescimento nominal), São José do Rio Preto (41,55%), Santos (44,72%) e Sorocaba (44,12%). Em seguida estão Barueri (39,33%), Guarulhos (34,14%), Mogi das Cruzes (36,63%) e Ribeirão Preto (34%). No quarto bloco, de desempenho pouco acima da inflação do período, estão Osasco (22,98%), Sumaré (22,70%) e Taubaté (26,75%). 


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