Economia

Lançamentos imobiliários caem
38,6% na Capital. E na Província?

DANIEL LIMA - 11/02/2016

Está no jornal Valor Econômico de hoje: os lançamentos imobiliários caíram 38,6% em 2015 na Capital do Estado, o maior mercado nacional do setor. A pergunta que faço é reta e direta: o que o novo presidente do Clube dos Construtores e Incorporadores (além de imobiliárias) da Província do Grande ABC, o jovem Marcus Santaguita, vai fazer com a herança maldita deixada pelo antecessor de 21 anos de presidência, Milton Bigucci, cultivador sequencial de bobagens estatísticas denunciadas por este jornalista?


 


Vou dar uma sugestão: que Santaguita convoque Bigucci a se apresentar à Imprensa regional para o balanço da temporada passada. Até o terceiro trimestre de 2015, na ânsia de vender gato por lebre como dirigente de uma entidade que deveria se pautar pela seriedade de informações, Milton Bigucci declarou com entusiasmo típico de vendedor que os lançamentos imobiliários haviam apresentado crescimento de 8%, enquanto no mesmo período, na Capital, a baixa registrada era de 35%. Nada mais coerente em matéria de informação – partindo de quem partiu, claro.


 


Sem remendos


 


Como a matemática não poderá ser usurpada em nome de eventual recomposição numérica, é claro que Milton Bigucci não aceitará a convocação para se apresentar à mídia. Não há remendo que dê jeito na lambança perpetrada. Como reincidentemente no passado, Milton Bigucci manipulou os números de 2015 para injetar adrenalina financeira numa atividade que está respirando por aparelhos nestes tempos de crises múltiplas.


 


Perguntaria o leitor a razão de tanta disparidade numérica, ou seja, qual é a raiz do problema. Simples: o Secovi, Sindicato da Habitação de São Paulo, mantem contrato com uma empresa especializada na produção de investigações confiáveis, enquanto o Clube dos Construtores e Incorporadores herdado por Marcus Santaguita e novos dirigentes em janeiro último se esmerou em fabricar estatísticas segundo os interesses de um grupinho de empresas próximas à entidade, principalmente do então presidente Milton Bigucci. Eram pesquisas literalmente de orelhada, amadoras, rudimentares, mas tratadas como um ensaio à perfeição.


 


É contra esse tipo de denúncia que retrata a realidade da situação que Milton Bigucci, milionário, se opôs o tempo todo a este jornalista. Até que me consagrou com o selo de independência e de responsabilidade social em sentenças judiciais. Meu título de Cidadão Honorário de Santo André, concedido porque falta juízo ao Legislativo da cidade, é café pequeno perto das penalidades que me honram a carreira de 50 anos de guerra contra bandidos sociais.


 


Notícia escondida


 


A notícia sobre o descarrilamento do mercado imobiliário no ano passado saiu escondidinha no Valor Econômico de hoje. Tanto o Estadão quanto a Folha de S. Paulo não publicaram uma linha sequer sobre o balanço da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio). Em 2014, o volume lançado chegou a 32.930 unidades, contra 20.218 de agora. “A demanda por novos empreendimentos está estagnada, e o estoque do que já foi produzido está elevado”, afirmou àquele jornal o diretor da Embraesp, Reinaldo Fincatti. Segundo o dirigente, os lançamentos nesta temporada devem se manter no patamar de 2015.


 


Mais importante que os números sobre a queda de lançamentos de unidades foi o total de área lançada na Capital paulista, um dado que jamais constou das estatísticas de Milton Bigucci sobre a região: houve queda de 47%. Foram apenas 2.052 milhões de metros quadrados. Também os valores médios por metro quadrado caíram na Capital: 8,51% em termos nominais. O que significa mais de 20% quando se leva em conta a inflação do período, embora a matéria do Valor Econômico não especifique essa diferença, ou seja, não faz menção a valor nominal e a valor real. No geral, a quebra de valores é superior a 30% tanto na Capital quanto na Província.


 


Voltando à questão estatística deixada por Milton Bigucci, fico a imaginar o encalacramento em que está metido o presidente Marcus Santaguita. O que ele e os demais dirigentes vão fazer para evitar que se cometa mais um crime informativo deixado pelo ex-presidente?


 


Entrevistado e cúmplices


 


Se reunirem a Imprensa para atualizar os dados do ano passado, acrescentado o comportamento do setor imobiliário no último trimestre, não escapará a evolução de lançamentos em oposição à verdade dos fatos. Se decidirem botar os pratos a limpo, vão criar áreas de atrito com o ex-presidente e estimular retaliações. Se deixarem de apresentar o balanço anual, interromperão um processo mentiroso, impreciso, mas também se colocarão contrário à política adotada pelo antecessor. O que fazer, Santaguita?


 


Quer um conselho? Coloque Milton Bigucci diante dos jornalistas. Não haverá constrangimento algum porque ao longo dos anos eles se dividiram entre entrevistado abusado e entrevistadores cúmplices. Afinal, se aceitaram passivamente todos os números fantasiosos como verdades absolutas – apesar de todas as advertências de quem entende que o mercado imobiliário é grande e importante demais para se tratado como quinquilharia especulativa.


 


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