Imprensa

Repetição de erros modifica a
forma de atuação de ombudsman

DANIEL LIMA - 12/02/2016

Os leitores devem ter percebido que o ombudsman não autorizado está em recesso. Quem especula que é por falta de assunto está redondamente enganado. É por razão exatamente oposta: a explicitude de críticas com o viés típico de ombudsman estava se tornando repetitiva. Os equívocos e barbeiragens ganharam na Imprensa em geral a forma de clichês. Há incidência irritante de bobagens que eterniza a baixa qualidade do jornalismo. Em muitas situações só mudam os nomes das publicações e também de personagens do noticiário. O enredo é basicamente o mesmo.

 

Os vícios de redação se espalham como o Zika. Com a diferença de que o Zika vai encontrar uma barreira imunológica que aplacará o poder de artilharia. Já as redações vão piorar mais e mais porque as condições de trabalho são uma competição desumana de menos gente, mais atribuições, menos infraestrutura material e mais estresse econômico.

 

Também entra nesse caldeirão efervescente a baixa qualificação da mão de obra intelectual de um País que negligência a Educação desde os primeiros passos e cada vez mais enaltece a espetacularização vazia.

 

Atuação está camuflada

 

Os leitores mais atentos devem ter percebido também que tenho feito outro tipo de abordagem em forma de ombudsman não autorizado, agora de atuação camuflada. Discorro sobre determinadas questões publicadas principalmente nos veículos de comunicação da região sem, entretanto, atribuir a origem de forma contundente. Estou sendo por assim dizer mais discreto, porque há tempo para tudo na vida.

 

Querem um exemplo clamoroso de pisada na bola que apenas os mais atentos detectam? A frequência com que os jornais impressos e digitais da região se referem ao Programa de Proteção ao Emprego é um festival de baba-ovo em louvor a sindicalistas mais que espertos. Também os jornais da Capital enveredam pelo mesmo caminho de submissão à versão edulcorada de espertalhões.

 

Quando escrevo sobre o PPE na verdade estou também dando umas bordoadas nas publicações submissas ao sindicalismo vendedor de ilusões e manipulador de dados. Os sindicalistas, em geral, são bem treinados, inclusive por assessores de imprensa muito mais experientes que a média dos profissionais de redação dos jornais, para contornar eventuais mata-burros críticos. Nem precisam se esmerar. Há um histórico de aproximação insensata entre sindicalistas e jornalistas que começa nos berços das faculdades vendedoras de um socialismo rastaquera.

 

Sucesso de público e bilheteria

 

O ombudsman não autorizado foi um sucesso de público e de bilheteria e, quem sabe, pode até retornar quando me der na veneta -- da mesma forma que decidi deixar a inovação de lado. Achava e entendo que estava na hora de dar uma folga aos leitores em geral. Tenho certeza que eles, os mais interessados, aprenderam a entender o que diferencia uma notícia bem encaixada de uma notícia mal-ajambrada.

 

Se o leitor assíduo desta revista digital acha que chegou ao ponto máximo desse entendimento, está redondamente enganado. A arte de decifrar os meandros das informações que, principalmente os jornais e revistas impressos publicam, é de profundidade desafiadora. Nem mesmo os especialistas, os ombudsman de verdade e os ombudsman metidos a besta, conseguem alcançar.

 

Diria sem medo de errar que analisar e interpretar o conteúdo de jornais e revistas é um eterno desafio a exigir atenção permanente. Quem lê jornais por ler vai cair do cavalo se pretender dar uma de ombudsman. Muitas vezes a intervenção crítica se sustenta não necessariamente pelo que foi publicado hoje, mas pelo passado recente ou não. Querem um exemplo dessa natureza?

 

Na edição de anteontem o Diário do Grande ABC finalmente admitiu, mesmo assim com reservas, que o deputado estadual Orlando Morando é o preferido do governador Geraldo Alckmin para concorrer à Prefeitura de São Bernardo em outubro próximo. Ou seja: o deputado federal Alex Manente, do PSD, não tem vez diante do tucano.

 

As razões dessa decisão que o governador e seus imediatos preferem desfilar são múltiplas. Destrinchei algumas recentemente. O Diário do Grande ABC não faz qualquer ensaio sobre isso. Prefere dar a notícia em estado bruto. E, mais que isso: omite as eleições de 2008, quando Luiz Marinho superou Orlando Morando num segundo turno em que teve, ele Marinho, o apoio de Alex Manente, candidato derrotado no turno inicial

 

Mais que isso: como mostramos aqui recentemente, reproduzindo trechos de matérias publicadas no próprio Diário do Grande ABC, Alex Manente fez um acordo com Luiz Marinho e o apoiou na reta de chegada do primeiro turno. Esse fato histórico, que expressa a desconfiança do governador Geraldo Alckmin e de seu entorno logístico-eleitoral de que poderia apostar em cavalo errado nas próximas eleições, foi olimpicamente esquecido pelo jornal. O Diário preferiu na reportagem de anteontem lembrar apenas uma parte da história recente: a disputa entre Marinho e Alex Manente em 2012. Só faltou dizer que Manente concorreu somente para marcar presença e embalar a candidatura a deputado federal dois anos depois.

 

Acervo garantidor

 

Notaram então os leitores que para ser ombudsman é preciso ter memória fotográfica? Como não tenho, confesso, escolhi outro caminho, mais seguro e desmascarador: meu arquivo de informações impressas é poderoso bólido que liquida com muitos fanfarrões da praça. Gente que diz hoje o que não sustenta amanhã entre outros motivos porque disse ontem o que negou hoje.

 

A aposentadoria do ombudsman não autorizado, notem os leitores, não significa, como mostro neste texto, que a atenção permanente ao que os jornais e as revistas publicam foi negligenciada. E não se trata a decisão de perscrutar a vizinhança jornalística como algo pecaminoso e supostamente detrator. Nada disso. O fato é que não existe maneira mais didaticamente bem nutrida de buscar o aperfeiçoamento profissional na missão de analisar os fatos do que estar eternamente vigilante aos meios de comunicação.

 

Conclusão: o ombudsman não autorizado só faz de conta que saiu do gramado, porque as antenas permanecem ligadíssimas. Apenas a execução analítica passou por modificação na forma de abordagem -- menos escancaradamente nominativa, menos formalmente corporativa. 



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