Grande Oeste é a região da Grande São Paulo que comporta oito municípios, dois dos quais Osasco e Barueri. Duas décadas atrás perdia feio, mas feio mesmo, para a Província do Grande ABC. Em qualquer tipo de comparação. Principalmente no PIB (Produto Interno Bruto), que mede a riqueza gerada a cada temporada. Os tempos são outros. Ficamos no acostamento da perdição ao acreditar que a indústria automobilística nos salvaria a todos. Já o Grande Oeste, contraponto do antigo Grande ABC, evoluiu nas asas da descentralização econômica e, principalmente, beneficiado pelo traçado interativo do trecho oeste do Rodoanel.
Sei que o orgulho regional será mais uma vez abalado com a revelação que faremos. Perder para o Grande Oeste -- tenho certeza de que não estou fazendo uma leitura apressada ou descuidada -- é um vexame para a sociedade da região. Mas o que se pode fazer senão revelar a verdade dos fatos e dos números para chocar os negligentes agentes públicos e privados deste Bicho de Sete Cabeças?
Mantenho segredo sobre os números mais atualizados desse confronto porque quero mesmo fazer suspense. Estamos levando um baile homérico dentro da Região Metropolitana de São Paulo. Infelizmente, os números provam que a desindustrialização e a quebra da qualidade de vida não são generalizadas na maior metrópole da América do Sul. A situação impacta para valer mesmo a Província do Grande ABC. Tanto a crise atual, circunstancial, quanto principalmente a estrutural, que vem do passado e sobre a qual ninguém, ou quase ninguém, move uma palha para combater.
Caso de Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, que alardeou projetos miraculosos que deram com os burros nágua. Mas outros prefeitos, atuais e do passado, fizeram lambanças semelhantes.
Uma gigantesca Vera Cruz
A arte da enganação é uma produção em série na região, com acabamentos requintados diante do nariz da mídia passiva. Os estúdios cinematográficos da Vera Cruz não precisam ser recuperados. A Província é um imenso galpão de ficção. O problema é que o roteiro é sempre o mesmo, e os canastrões também. Produzimos dramas mal-ajambrados, mas os atores se comportam como comediantes rastaqueras. Eles riem da própria desgraça.
Perder para Osasco, Barueri e outros seis municípios menos conhecidos e, portanto, desdenhados, é o fim da picada para os tomadores de decisões e formadores de opinião da Província do Grande ABC. Nada melhor, entretanto, do que darem com a cara na porta da verdade em números que gente sem compromisso com a região faz questão de omitir porque pretende, com isso, iludir o distinto público.
Advertimos ao longo dos anos sobre a possibilidade de perdermos o jogo do desenvolvimento econômico para a concorrência mais próxima da Grande São Paulo -- além de levar uma surra dos adversários do Interior do Estado mais próximo da Capital. Poucos se deram conta de que a caçapa cantada não era uma heresia formulada por alguém acusado pelos prevaricadores de praticar exercícios de lesa-região. Não nos organizamos para uma contraofensiva que opusesse racionalidade, planejamento e responsabilidade social à ameaça consistente que nos atingia. Estamos pagando o preço da vagabundagem generalizada das instituições econômicas e politicas da região.
Por isso, em meados do ano passado – e vou repetir isso quantas vezes forem necessárias para denunciar o que chamaria de falta de sensibilidade social – alertei sobre a importância do movimento dos 300 manifestantes de pequenas indústrias, principalmente de Santo André, contra a política econômica do governo federal e das mazelas regionais como sinais exteriores mais que evidentes de que a situação era grave. E segue se agravando sem que os inúteis se movam na direção de alguma coisa que catalise sentimento de regionalidade.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)