Os leitores que acreditam encontrar nas próximas linhas a resposta para o título deste artigo que me desculpem, mas vão ter de esperar até amanhã. Não vou perder a oportunidade de fazer marketing editorial sobre assunto por demais interessante. O deputado federal Alex Manente, candidato do PPS ao Paço Municipal de São Bernardo, foi aos Estados Unidos em anunciada viagem de aprendizagem de gestão pública e voltou com a ideia de instituir eleições diretas para controladorias nos municípios, como forma de auxílio no combate à corrupção. Está redondamente enganado. Como comprovaremos amanhã. Provavelmente quer explorar o gataborralheirismo intelectual da região.
Sabem o que acho da intenção do deputado? Esperem até amanhã. Entretanto, não vou deixar os leitores na mão. Acho que não vou resistir a dar uma meia resposta. Entenda-se como meia resposta algo que desaprovo porque sinto o cheiro da pólvora do populismo em cada vogal e consoante das declarações de Alex Manente, mas não quero explicar em detalhes porque perderia a graça num primeiro instante.
A declaração de Alex Manente está impressa no Diário do Grande ABC desta terça-feira em forma de reportagem, em estado bruto, sem nenhum direcionamento analítico, como o faz a quase totalidade dos veículos de comunicação. O deputado surpreende porque jamais se mostrou interessado em combater para valer a corrupção.
Muito pelo contrário. Seu homem de confiança e chefe da bancada do PSB no Legislativo de São Bernardo, vereador Julinho Fuzari, até outro dia estava mais próximo, muito mais próximo, do que devia da Administração Luiz Marinho. Agora que as águas petistas fedem publicamente, a bancada comandada por Manente dá sinais de que poderá encetar reviravolta. Nada mais conservador e previsível no mercado de votos.
Marco Zero da vergonha
Julinho Fuzari, o homem de Manente no Legislativo de São Bernardo, fingiu interessar-se pelo escândalo do Marco Zero, que começou na Administração de William Dib e se consagrou como atentado aos cofres públicos na gestão de Luiz Marinho. Fez de conta que queria apurar o caso, com a proposta de instalação de uma CPI, e depois emudeceu. Motivos nobres não lhe faltaram para recuar. Motivos concretos, certamente. E Alex Manente estava por traz de tudo, ou então não é líder do PSB na região coisíssima alguma.
Ganha um doce de bata doce quem encontrar nos arquivos impressos e digitais dos veículos de comunicação da região qualquer coisa que tenha dito Alex Manente sobre o escândalo do Marco Zero, que consiste no arremate fraudulento de uma área pública, da Prefeitura de São Bernardo, pelo milionário empresário do setor imobiliário, Milton Bigucci.
Alex Manente, com sólidas amizades no entorno do empresário, manteve-se em silêncio enquanto este jornalista, idiota como sempre, foi adiante e enfrentou uma banda omissa do Ministério Público Estadual em São Bernardo, que, acredite quem quiser, não viu ilegalidade nenhuma naquela operação. Nada mais frustrante, porque, em processo paralelo, o Judiciário da Capital deu como certa, certíssima, a falcatrua. Quando escrevo que falta uma réplica da Lava Jato na Província do Grande ABC quero dizer que a iniciativa valeria a todas as instituições locais. O escândalo do Marco Zero é prova viva disso.
Carona oportunista
O que Alex Manente quer mesmo é pegar carona na indignação popular respaldada por pesquisas cada vez mais esclarecedoras sobre o grau de corrupção no País. É uma ação oportunista até prova em contrário. Mas é mais que isso. E vamos explicar amanhã.
Antes disso, não custa nada registrar que a matéria publicada no Diário do Grande ABC de hoje não é suficientemente densa de informações para que se tenha segurança total à análise proposta por este jornalista. Entretanto, como o núcleo da proposição do deputado Alex Manente é suficientemente frágil e, mais que isso, nem está relacionado à omissão do parlamentar ao longo da carreira sobre os caudalosos casos de delinquências públicas e privadas na Província do Grande ABC, não correrei o menor risco de vender gato de especulação por lebre de análise.
Total de 1884 matérias | Página 1
13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)