O prefeito Luiz Marinho desistiu da queixa-crime contra este jornalista no Judiciário de Santo André. Nada mais sensato. Pena que o mercador imobiliário Milton Bigucci não tenha demonstrado semelhante bom senso num passado ainda recente. Não me perguntem por que Marinho desistiu de atacar este jornalista com sofismas e artimanhas que poderiam me levar à condenação. Foi assim com Milton Bigucci, milionário com imensa capacidade de alcançar resultados judiciais que o transformam em vítima, embora seja um reiterado operador de irregularidades – segundo fundamentada denúncia do Ministério Público do Consumidor. Sem contar a Máfia do ISS de São Paulo.
A essência das tentativas de amordaçamento de Bigucci como de Marinho é a independência de um jornalista que não mistura Estado e Religião, ou seja, não é um profissional de negócios que fizeram fortunas nos meios de comunicação menos nobres. Não tenho vocação a Rupert Murdoch. Nem tampouco a Assis Chateaubriand.
Quando afirmo que não estaria fora de horizonte eventual condenação o faço com conhecimento de causa. Há setores do Judiciário que não entendem absolutamente nada de liberdade de expressão e agem açodadamente. É uma minoria, mas uma minoria que faz estragos paradoxalmente consagradores. Uma sentença condenatória tendo como autor de queixa-crime o empresário Milton Bigucci significa diploma de seriedade e idoneidade profissionais.
Advogados qualificados e espertos como os contratados por Milton Bigucci sabem que não são todos os magistrados que fazem do detalhismo processual ritual de segurança à aplicação da Justiça. Apostam, esses advogados, em correlações seletivas e espertas de frases dispersas, fora do contexto do conjunto da obra. São enfáticos em juntar e dar nexo a pedaços inconciliáveis à luz da correção informativa. Não são todos os magistrados que contam com infraestrutura funcional para desmascarar pegadinhas processuais.
Força do hábito
Soube por terceiros da ação criminal de Luiz Marinho. O resumo da ópera é que jornalismo sério e mandonismo político-administrativo não combinam. Marinho tem olhar enviesado sobre atividade jornalística fora do alcance dos punhos de ferro que exerce desde os tempos de sindicalismo. O jornalismo sindical neste País, com honrosas exceções, é uma anedota de mau gosto se o quesito a ser inspecionado é o distanciamento das fontes de informação.
Os dirigentes sindicais que dizem representar os trabalhadores impõem as regras e quem não segui-las é discriminado como estuário de informações. Correm também o risco de sucumbirem à concorrência mais dócil. Há também jornalistas engajados, que fazem do dia a dia extensão ideológica a serviço de um socialismo rastaquera.
O prefeito de São Bernardo daria provas de que poderia estar a atingir uma maturidade gerencial pública se além de jogar a toalha da pressão contra este jornalista, se me convidasse a uma entrevista exclusiva, na qual eu tivesse ampla liberdade de questionamento. Aliás, sem essa premissa não tem entrevista mesmo. Nem com ele nem com ninguém.
Marinho é um caso particularmente decepcionante. Botei fé na possibilidade de que, com roupagem diferente, mas com eficiência maior, porque as circunstâncias se apresentavam muito mais favoráveis, ele se converteria numa espécie de Celso Daniel de uma regionalidade que segue em frangalhos. Dei com os burros nágua. Luiz Marinho se revelou, em dois mandatos consecutivos como prefeito, não mais que um agente petista preocupado com o petismo e a serviço do PT; portanto, sem nenhuma relação compartilhadora de princípios ecumênicos da regionalidade.
Coleção de erros
Não me agrada bater no prefeito de São Bernardo, mas o faço com ampla tranquilidade de consciência social. À frente da Capital Econômica e da Capital Política da Província do Grande ABC, Marinho poderia ter sedimentado trabalho coletivo e extrapartidário exemplar. Infelizmente, o ex-sindicalista e ex-ministro de duas pastas do governo Lula da Silva se esmerou em produzir espumas, em engarrafar bravatas e em soltar fogos de artifícios de besteiragens marqueteiras.
O Museu do Trabalho e do Trabalhador é uma dessas operações aberrativas, como denunciei há muito tempo, visto que contempla apenas um dos lados da moeda da grandeza econômica (mesmo que em declínio constante) da Província do Grande ABC. Até parece que as transformações positivas que marcaram a geografia regional não contaram com a dedicação, o empenho e o comprometimento dos empreendedores.
O Museu do Trabalho e do Trabalhador virou um esqueleto de cimento, inconcluso, que bem poderia ser reciclado e destinado a outra função menos unilateral e danosamente simbólica à imagem do Município. Nada melhor para Luiz Marinho. A desativação do projeto permitiria que se deixasse ao relento do passado uma proposta estapafúrdia que somente o séquito de ignorantes que corteja o prefeito seria capaz de aprovar. Ou não seria uma tremenda burrice São Bernardo virar espaço de adoração ao trabalhador metalúrgico, principalmente, porque o museu seria em homenagem a Lula da Silva, em detrimento da multiplicidade de agentes que representam o capitalismo sem ódios e perseguições.
Não vou fazer um balanço mesmo que parcial da gestão Luiz Marinho em São Bernardo porque há muito tempo pela frente a essa tarefa. É certo que mesmo o legado de obras fartamente financiadas pelo governo federal está comprometido pela incompetência petista de lidar com receitas e despesas.
Escândalo do Marco Zero
A verdade é que foi para o beleleu a ideia propagada pelos petistas de que Luiz Marinho terminaria oito anos de mandatos portfólio de obras, investimentos privados e ideias que o catapultariam à disputa do governo do Estado em 2018.
Por essas e por outras tantas análises críticas o prefeito Luiz Marinho decidiu me acionar na Justiça, até que o bom senso o arrebatou. Ou teria sido outra a motivação de o petista desistir de seguir os passos de Milton Bigucci, a quem sua Administração protege vergonhosamente ao mentir ao Ministério Público Estadual de São Bernardo no caso do escândalo do Marco Zero, empreendimento em fase de construção em terreno surrupiado do Poder Público?
Faltam poucos meses para o encerramento do segundo mandato de Luiz Marinho. O prefeito de São Bernardo sabe que fazer o sucessor seria obra de prestidigitação política sem respaldo da lógica elementar do pensamento do eleitor médio do País e, particularmente, de São Bernardo.
E a bem da verdade, por mais bobagens que tenha cometido, Luiz Marinho não deve ser responsabilizado em larga escala pelo fato de que seu candidato, Tarcísio Secoli, ser espécie eleitoral de pangaré com listras de zebra. O abate iminente do vermelho que controla o Paço Municipal de São Bernardo há oito anos é consequência maior dos estragos administrativos federais e da Operação Lava Jato. A mesma Operação Lava Jato que, ainda, não chegou aqui com a intensidade potencial porque a Província é uma porçãozinha geográfico-política pouco importante à força tarefa federal. Se chegar para valer, vai ser um deus-nos-acuda. Os sinais exteriores de malandragens abortadas são muitos.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)