Está na edição digital do jornal ABCD Maior, que reproduz material da Tribuna Metalúrgica: o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, filhote da dinastia revolucionária, embora extremamente corporativa, inaugurada por Lula da Silva, vai colocar o bloco na avenida. No caso, a Avenida Anchieta que, no trecho urbano da região, há muito deixou de ser rodovia.
Os metalúrgicos vão protestar contra a política econômica do governo petista de Dilma Rousseff. Trocando em miúdos, é chumbo amigo. No fundo, o que Rafael Marques e sua turma querem mesmo é transmitir a ideia de que um moribundo pode ganhar vida nova com dose suplementar de morfina. Como se doses cavalares de morfinas populistas já não houvessem sido aplicadas.
Rafael Marques é petista e igualmente cutista. Ele vai liderar manifestação de significado contraditório: quer mandar um recado às forças governamentais que não querem segurar a barra de populismos petistas ao longo dos últimos anos a ponto de estourar o caixa federal, como também quer marcar posição política em apoio ao PT, como se o PT não tivesse nada a ver com o que está aí. Como se Dilma Rousseff fosse um objeto não identificado da política nacional.
Cadê a competitividade?
O Sindicato dos Metalúrgicos tem o direito constitucional de fazer o que bem entender para expressar descontentamento, mesmo que a síntese desse novo-velho movimento seja combinação de oportunismo político e irresponsabilidade econômica. Tudo sob o guarda chuva de suposta preocupação social. Como se o sindicato não tivesse como público exclusivo os empregados do setor industrial, os quais, principalmente nas montadoras de veículos, são instrumentos de gestões estranhas à competividade avalizadora do futuro.
Como sempre contou com a facilidade e o esplendor de uso contestatório da Anchieta, a logística mais que facilitada de trabalhadores de fábricas no entorno daquela passarela e também com o suporte da mídia acrítica e boboca que não enxerga um palmo à frente do nariz macroeconômico e microeconômico, tudo indica que a repercussão será intensa.
Entretanto, diferentemente de outros tempos, de plataformas tecnológicas mais modestas e de noticiário menos denso e diversificado, a tática não resistirá a tempo senão escasso. Logo será superada por assuntos mais relevantes.
No passado, caí na ladainha socializante dos metalúrgicos incrustados em São Bernardo. Não que fosse crédulo irrecuperável, mas observava os movimentos com intensidade analítica menos aflorada. Tenho ouvido metalúrgicos aposentados que conheceram bem as entranhas do movimento sindical nascido em São Bernardo, sobretudo aposentados de grandes empresas. Eles dizem ter sido traídos pelas lideranças. Caíram no conto de um projeto de rebaixamento da desigualdade social que se comprovou fraudulento.
A pregação de Rafael Marques, que segue diretrizes do Partido dos Trabalhadores, notadamente de capas pretas intelectuais supostamente dotados de domínio macroeconômico sustentável, não passa de repetição de velhos truques. São clichês lançados em forma de palavras de ordem. Hostiliza-se o capital mesmo quando pretensamente se pretende preservá-lo de supostos erros de decisões econômicas do governo federal.
Tropa de choque
Afirma o noticiário do ABCD Maior que nada menos que 250 diretores da base do sindicato se reuniram na manhã de terça-feira para adotarem medidas que reverteriam a crise econômica brasileira, tendo como primeiro passo a passeata na Anchieta. A visibilidade midiática que iniciativas semelhantes alcançaram no passado encabresta a capacidade de análise da maioria dos consumidores de informações. A Imprensa verde e amarela dita conservadora reproduz informações em estado bruto.
Isso significa que todas as bobagens sindicais (e também empresariais) são repassadas sem nenhum pudor analítico. Salvo nos espaços reservados a opiniões, deserdados das páginas mais procuradas pela média dos leitores. Ler os jornais brasileiros e algo como assistir ao Jornal Nacional, que se limita à reprodução de informações. Já o Jornal da Globo, vizinho da madrugada, é outra história. Os malandros semânticos e os malandros de malandragens outras são identificados com certa facilidade.
Voltando aos 250 integrantes da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos que se reuniram para deliberar pela passeada e outras ações, não pode passar em branco o desdobramento dessa informação: são esses profissionais do sindicalismo que atuam diretamente no chão de fábrica e nos gabinetes administrativos de empresas, principalmente de grande e médio porte, estabelecendo regras que, por força de algo que poderia ser rotulado de coerção psicológica, retiram o poder decisório dos executivos contratados pelos empreendimentos.
O capitalismo sob o jugo metalúrgico, principalmente, deveria ganhar nomenclatura diferenciada porque nem é privado nem é de Estado. Diria que se trata de Capitalismo Sindicalista -- que tantos investimentos afastam da Província do Grande ABC. Nem poderia ser diferente, porque o ônus dos resultados avermelhados não sobra jamais para os avermelhados.
O fosso do relacionamento entre capital e trabalho na região é um assunto sobre o qual todos se calam e alguns até sugerem não existir. Os falsos diplomáticos que defendem o mascaramento da realidade não passam de covardes sociais. Mas a situação terá de ser pauta obrigatória ou então se aprofundará ainda mais, retirando nossa capacidade de competição que, todos sabem, está para lá de comprometedora. Como estamos cansados de provar com dados estatísticos insofismáveis.
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