Foi impagável a entrevista de ontem à noite do prefeito Luiz Marinho ao jornalista Mário Sérgio Conti no programa Diálogos, da Globonews. Marinho é desses personagens da vida pública brasileira que transmite certeza absoluta de que a conexão entre o preparo do terreno de ervas daninhas microeconômicas e macroeconômicas no passado e a bomba-relógio do desastre econômico brasileiro destes tempos não é obra de amadores nem do acaso. Luiz Marinho foi uma mescla de esboço mal-acabado de Lula da Silva e uma cópia fiel de Dilma Rousseff.
Estava pronto para dormir, depois de acompanhar mais um capítulo da novela das nove e meia, quando um amigo me mandou mensagem de celular, alertando-me, isso mesmo, alertando-me, sobre o que se passava no canal pago. Ele sabia que adiaria por algum tempo as seis horas de sono de toda a noite. Tenho pelos protagonistas desta Província obsessão fundamentalista.
Não me arrependo de ter visto Luiz Marinho em campo numa noite em que o Palmeiras e o Santos golearam pequenos adversários no Campeonato Paulista, em jogos aos quais dediquei apenas alguns fragmentos de atenção. A novela das nove e meia é imperativo existencial. A Globo não faz da teledramaturgia um evento qualquer. É sociologia pura à qual tenho direito porque lido com situações reais durante todo o dia.
No mundo da Lua
Como cheguei atrasado, tratei de gravar a reprodução prevista para a madrugada de hoje. Escrevo agora, por volta de 11 horas, sem ter tido oportunidade de ouvir comentários de Luiz Marinho sobre as eleições municipais, tema de que tratou nos primeiros 15 minutos do prélio em que o apresentador o encurralou com contraposições discretamente sarcásticas.
Não vou torrar a paciência dos leitores com análise de tudo o que foi dito pelo petista. Não vale a pena. Imaginem alguém que deveria mesmo ser convidado a uma entrevista à LuaNews, ao invés de Globonews. Marinho não ocupa a mesma frequência contextual e histórica de quem não veste a camisa de time político
A patética defesa do amigo Lula da Silva, principalmente no caso do sítio em Atibaia, seria suficiente para se desligar o televisor. Mas quem disse que um espetáculo desses, de pura subestimação dos telespectadores, deve mesmo ser desprezado? Com Marinho em campo é preciso ter fome de gol de curiosidade para saber até onde pode chegar caradurismo misturado com marketing requenguela.
O que mais espanta no prefeito Luiz Marinho quando submetido a questionamentos fora do alcance direto de assessores é que ele nos remete à imagem de dois protagonistas do cenário nacional.
A primeira imagem é falsa – ele se pretende passar pelo chefe Lula da Silva. São vícios verbais e gestuais de sindicalistas. A diferença é que Lula é um gênio da palavra, do raciocínio, da encenação. Luiz Marinho é perna de pau. Pretende-se craque simplesmente porque acha que a proximidade com o ex-presidente o fertiliza. Luiz Marinho está para Lula assim como Zoca estava para Pelé. Zoca é o irmão perna de pau de Pelé.
A segunda imagem é mais verossímil com o espelho que desgraçadamente o leva a estabelecer concorrência. Sim, Luiz Marinho tem muito de Dilma Rousseff. Se a presidente da República patrocina a cada pronunciamento a ideia de que é alguém perdido numa floresta de verbetes em luta permanente para construir uma frase, num processo dolorido que sabota a atenção dos telespectadores, o ex-sindicalista reduz os enunciados geneticamente anacrônicos a ejaculações verbais incompletas e desconexas, quando não contraditórias.
Traduzindo em miúdos e numa linguagem mais simples: Dilma Rousseff é um caçador desesperado em busca de palavra que tenha conexão com a palavra anteriormente utilizada e também com a próxima, mesmo que novamente fugidia, para, finalmente, construir uma frase. Luiz Marinho é uma raposa ideológica solta em campo aberto sem rumo definido, mas com a certeza de que, porque tudo é exuberantemente verde sob os cuidados do Estado, nada poderá impedir que se repita a trajetória desastradamente já experimentada.
O antimarketing regional representado por Luiz Marinho numa emissora de TV cujos assinantes são investidores e empreendedores, além de uma classe média de verdade, realmente não tem preço.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)