O comportamento do emprego industrial no Grande ABC durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso apresentou perda relativa quase que em dobro em relação ao Estado de São Paulo, fixou-se muito acima da média da Região Metropolitana de São Paulo e só perde para o que foi registrado na cidade de São Paulo.
Perda relativa, neste caso, é o percentual resultante da divisão do número de empregos industriais de um determinado endereço numa determinada data quando comparados aos empregos que sobraram no outro extremo da pesquisa.
Quem tinha 100 mil empregos e ficou com apenas 50 mil apresenta queda relativa de 50%. Em números absolutos, são 50 mil novos desempregados. Esse total de 50 mil pode ser superior ao de outro endereço, mas quem perdeu em números absolutos menos empregos pode ter sucumbido mais ao rebaixamento relativo do quadro de trabalhadores com carteira assinada — 50 mil é proporcionalmente menos em relação a 100 mil do que 35 confrontados com 60 mil.
No caso do Grande ABC, em números relativos, só a cidade de São Paulo apresentou desempenho pior ao longo dos anos da presidência de Fernando Henrique Cardoso quando o assunto é o mercado de trabalho formal.
Saldo positivo
Numa evidente comprovação de que a abertura econômica (e também a guerra fiscal, entre outras variáveis) atingiu em cheio especialmente o principal Estado da Federação, o Brasil como um todo, mesmo contaminado pelas estatísticas paulistas, apresentou saldo de 0,7% de postos de trabalho com carteira assinada na atividade industrial. Ou seja: a economia paulista rebolou, rebolou e se deu muito mal naquele período.
Embora a capital paulista tenha apresentado queda de 36% no emprego formal do setor industrial, o duro golpe teve menos força que os 45,7% que praticamente nocautearam Ribeirão Pires e os 44,4% de São Caetano. Os demais integrantes do G-13 (os sete municípios do Grande ABC, São Paulo, Osasco, Guarulhos, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos) sofreram percentuais menos agressivos que a Capital.
O G-7 (Grande ABC) perdeu 29,4% dos empregos industriais no período. Contava com 276.650 trabalhadores no ano de implantação do Plano Real e ficou com apenas 195.323 em dezembro de 2002. Foram 81.327 carteiras assinadas destruídas. São Paulo, Osasco e Guarulhos perderam 295.891 empregos industriais, ou 33% dos postos ocupados, caindo de 897.526 para 606.635 trabalhadores. O G-3 (São José dos Campos, Campinas e Sorocaba) comprovou no mercado de trabalho o deslocamento da indústria da Grande São Paulo para a São Paulo Expandida, já que, apesar do ricocheteamento da globalização, viu desaparecerem apenas 8,87% dos empregos industriais no período: eram 136.211 em 1994 contra 124.297 em 2002. Convém lembrar que, fossem computados os empregos industriais gerados nos municípios que formam essas três regiões metropolitanas, o saldo seria positivo.
O Estado de São Paulo chegou no final do período com saldo negativo: os 2.354.526 empregos formais industriais de 1994 viraram 1.973.231 em 2002. Se forem subtraídos os 381.295 postos de trabalho que evaporaram do G-13, o saldo negativo paulista se reverterá para positivo em 7.837.
O Plano Real e as explicações decorrentes de políticas públicas e efeitos macroeconômicos da abertura econômica também mudaram no mercado de trabalho a realidade de predomínio do G-13, que contava com 55,6% dos empregos industriais no Estado de São Paulo ao final de 1994 e, na ponta da pesquisa, em dezembro de 2002, caiu para 46,6%. A interiorização industrial de São Paulo prosseguiu nos anos seguintes e dificilmente será revertida. A metrópole paulistana não garante o melhor casamento com a indústria manufatureira.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES