O Clube dos Prefeitos da região é uma nulidade ao desenvolvimento econômico que todos os relativamente bem dotados de cérebros e devem reconhecer, embora não falte quem tente dourar a pílula. Fosse o Clube dos Prefeitos algo vivo, atuante, inquieto com a febril temperatura econômica da região, há muito teria formado o que chamaria de Comitê de Monitoramento da Economia Regional.
Não vou entrar em detalhes sobre a funcionalidade potencial desse agrupamento. O que posso assegurar é que, em linhas gerais, nestes tempos tenebrosos em que ações com o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) não passam de embromação que agrava o estado do enfermo -- porque não cuida de todos os enfermos e dos que cuida sugere que os salvará, quando apenas protelará o desfecho previsível -- algumas iniciativas poderiam ser tomadas para minimizar os estragos.
Em outros tempos, tempos de Celso Daniel como prefeito dos prefeitos da região, duvido que alguma iniciativa desse porte e dessa profundidade não constasse do planejamento do Clube dos Prefeitos. O que mais causa irritação a quem enxerga a Província do Grande ABC com as lentes da independência ideológica, política e funcional, é que nada se produz para afastar o estado de negligência generalizada que nos corrói. Só nos dois últimos anos perdemos mais de 40 mil empregos industriais e nada, nadinha, foi feito. Já imaginaram os leitores o impacto dessas demissões no tecido social da região? Não à toa a crise atinge há mais de um ano também os setores de comércio e serviços. Muito antes de alcançar os mesmos setores em nível nacional.
Excesso de ideologia
Nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, a partir de meados de 1990, quando iniciamos roteiro escabroso que culminou com mais de 80 mil empregos industriais decepados, a região não contava com estofo politico-institucional fora das quatro linhas locais, como agora. Havia hostilidade inegociável entre o governo federal tucano e o sindicalismo da região, sobretudo de São Bernardo, que se esmerava para manter-se distante do Poder Central. Agora é diferente: os políticos e os sindicalistas trafegam nas proximidades dos caninhos de decisão do governo central. Há, portanto, intimidade intergovernamental a facilitar série de iniciativas. Mas para que serve tudo isso se os petistas e os cutistas só agem em função dos próprios interesses e a comunidade regional não passa de peça descartável no tabuleiro de xadrez ideológico?
O Comitê de Monitoramento da Economia Regional deveria seguir o que chamaria de manual de resiliência, quando não de sobrevivência, para situações de gravidade no mercado de trabalho, como o que se passa nestes tempos. Não é possível deixar que a relação entre capital e trabalho, do ponto de vista institucional, se dê com a unilateralidade e os vieses socialistas dos sindicalistas e tampouco com um sindicalismo capitalista que se pretende solidário quando de fato é individualista e corporativista.
A aproximação entre as partes para encontrarem denominadores em comum, os quais serviriam de balizas à avaliação permanente do quadro econômico regional, praticamente em tempo real, é o mínimo que as autoridades públicas municipais deveriam promover.
Se em nível federal há instâncias que captam e disseminam números econômicos que ajudam a medir a situação do País, por que a região não desenvolve um banco de dados que passe a referenciar e, mais que isso, a exigir as reações das instituições locais?
Saída de emergência
Embora critérios de regionalidade devessem parametrizar todas as ações, daí a recomendação quando não a advertência de que o Clube dos Prefeitos deveria centralizar as ações de cooperação, não descarto medidas individuais, municipais, em busca de alternativas. Quero dizer o seguinte: já que o jogo jogado em conjunto é um jogo do qual ninguém faz questão de participar, porque o que impera é a municipalidade mais estúpida de que se tem conhecimento, então que as propostas e as medidas corretivas sejam deflagradas nas respectivas Prefeituras. Até mesmo para que as demais se sintam impelidas a mimetizaram quem sabe com aperfeiçoamento as iniciativas tomadas.
Ante a velha e surrada desculpa de que é impossível contornar nos municípios e nas regiões de características de conturbação os desvarios federais, porque politicas macroeconômicas e microeconômicas deflagradas em Brasília arrasam os quarteirões locais, há sempre e sempre a possibilidade de reações baseadas em instrumentos específicos de reparação.
Quem se reunir com empresários na tentativa de organizar uma agenda de cunho municipal e regional certamente será surpreendido porque há sim obstáculos a serem superados com ferramentas de uso específico.
O Comitê de Monitoramento da Economia Regional proposto como braço de estudos do Clube dos Prefeitos não seria um organismo pautado pelo predomínio estatal. A sociedade produtiva da região deveria ser chamada a colaborar e a se ajudar tendo como interlocutores profissionais do setor público das prefeituras locais que detenham banco de dados hoje esparsos, quando não inutilizáveis, como ferramenta essencial de aferição do quadro para tomada de decisões. Também o que existe de melhor -- embora muito pouco -- da academia regional deveria ser requisitado à empreitada.
Enfrentando a borrasca
O que não falta na praça para alcançar registros informativos que lastreiem medidas objetivas são estudos e dados estatísticos de produção setorial. Não é preciso mais esperar o fim de uma temporada econômica para saber o que se passa com o setor automotivo da região na imensidão das pequenas, médias e grandes fábricas. O recolhimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) oferece gama importante de informações que podem denunciar a gravidade ou a recuperação de uma determinada atividade econômica.
A expressiva quebra de emprego industrial com carteira assinada em Santo André durante janeiro último, elevando a patamares inquietantes as previsões para esta temporada, surgiria na tela dos computadores do Comitê de Monitoramento da Economia Regional muito antes de ganhar a forma estatística do Ministério do Trabalho e, por conta disso, determinar ações de força-tarefa de combate ao desemprego industrial.
A Província do Grande ABC mantém centralismo estatal que contribui para o empobrecimento da sociedade como um todo inclusive na potencialidade de integrar instâncias que se dediquem de fato aos desdobramentos da crise. Estamos em guerra econômica e não nos demos conta disso. O noticiário, dominado por cortes de trabalhadores nas mais diferentes modalidades de rebaixamento do efetivo nas fábricas, principalmente, não desperta a mínima reação das autoridades locais.
O Comitê de Monitoramento da Economia Regional seria determinante à roupagem de modernidade nas relações entre capital e trabalho -- é um imperativo pelo qual a sociedade tanto espera como prova provada de que não estamos todos mortos de vagabundagem institucional.
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