Está faltando matéria-prima para saciar a fome pantagruélica deste jornalista, criador do Observatório de Promessas e Lorotas para medir o tamanho das pretensões e das derrapadas dos administradores municipais da Província do Grande ABC. A falta de insumos que alimentem a fornalha de ilusões e fantasias é uma ótima notícia, convenhamos.
Não fosse a impetuosidade dos prefeitos locais, principalmente dos petistas Carlos Grana e Luiz Marinho, campeão e vice-campeão de uma competição que só terminará quando acabarem as respectivas gestões nem teria tido o trabalho de botar minha cachola para funcionar e criar essa ferramenta que a mídia nacional despreza porque não é organizada e muito menos atenta ao andar da carruagem dos gestores públicos.
Nos últimos 11 meses o Observatório de Promessas e Lorotas sofreu duríssima dieta. Apenas um registro foi adicionado ao estoque até então bastante expressivo. Em 24 de novembro do ano passado acrescentei ao passivo do prefeito Donisete Braga, de Mauá, uma reportagem levada às páginas do Diário do Grande ABC – ele pretende construir na área do Paço Municipal um centro de convenções integrado ao Parque da Juventude. Foram contabilizados 10 pontos no passivo do prefeito, valoração correspondente ao quesito “promessa”. Fosse alguma coisa estapafúrdia, acrescentaríamos 20 pontos, correspondentes a “lorotas”.
Quase três temporadas
Lançado oficialmente em julho de 2013, o Observatório de Promessas e Lorotas está prestes a completar três anos de atividades. Como os leitores poderão avaliar mais detidamente no link abaixo, abundam sonhos e ilusões anunciados pelos prefeitos da região desde que assumiram em janeiro de 2013 – no caso do reeleito Luiz Marinho, desde janeiro de 2009.
A Imprensa da região jamais poderá deixar de produzir noticiário substancioso tendo à mão a fartura do Observatório de Promessas e Lorotas. Há tantas situações à espera de resoluções que, provavelmente, faltam mesmo jornalistas para darem cabo a eventual decisão de zerar as pendências informativas.
Querem um exemplo de boa manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página)? Como está o projeto do Aeroportozão que virou Aeroportozinho em São Bernardo? Não precisam ir a campo para conferir a possibilidade de se construir um Aeroportozão internacional em São Bernardo, como anunciaram assessores e depois o próprio prefeito Luiz Marinho em 2011, porque isso virou anedota. Confiram o passo seguinte, um passo na tentativa de minimizar os estragos do impacto das declarações do prefeito: quando vai chegar o Aeroportozinho de carga e descarga de dimensões executivas?
Não vou me estender sobre esse caso. Vão dizer que estou pegando no pé do prefeito de São Bernardo, praticamente órfão do orçamento federal em estado de penúria geral após descobriram gastos muito acima de receitas, porque não combinarem com os russos do desenvolvimento econômico sustentado. Há outras lorotas que desfilaram no palco do Observatório. A Província do Grande ABC seria um território invejável se um terço desse caudal fosse convertido em realidade.
Reservas de sobra
O Observatório de Promessas e Lorotas não perderá jamais a vitalidade, mesmo que sigam a faltar novos suprimentos. Afinal, o que acondiciona no ventre de registros é uma prova provada de que a gestão pública regional – e nacional – precisa ser mais cuidadosamente interativa com os anseios da sociedade. Brinca-se demais com a credibilidade da sociedade. Trabalha-se demais no sentido de ludibriar a boa-fé com produtos saídos do forno de delírios oficiais.
Não se sabe ao certo até que ponto tudo o que se encontra de registros no Observatório de Promessas e Lorotas é resultado de malandragem publicitária descolada de exequibilidade orçamentária para enganar o distinto público, ou se haveria preponderância mesmo de incapacidade gerencial a ponto de se estabelecerem projeções acreditando-se na viabilidade das medidas.
Tenho cá comigo que há uma forte associação entre uma coisa e outra, que uma coisa não é apenas uma coisa nem outra coisa apenas outra coisa. Quero dizer o seguinte: juntam-se a fome de milagres orçamentários sobretudo em tempos de dinheiro supostamente farto do governo federal e a vontade de comer da sensibilização irresponsável de marqueteiros de plantão para chegar aonde chegamos com o Observatório de Promessas e Lorotas.
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