Economia

MBigucci faz megaliquidação.
Quem mandou me subestimar

DANIEL LIMA - 04/03/2016

A MBigucci está liquidando imóveis construídos nos últimos anos. Chega a oferecer 28% de desconto. Se oferece em peças publicitárias até 28% para apartamentos e salas comerciais é sinal de que as negociações podem avançar muito mais e os descontos subirem.

Quem mandou o empresário Milton Bigucci não dar ouvidos a este jornalista? Entendo pouco de construção de apartamentos e salas comerciais mas sou razoavelmente apetrechado em macroeconomia, em microeconomia e, principalmente, conheço bem o que se passa nesta Província?

Quem mandou Milton Bigucci especular publicamente em nome da entidade que presidia, o Clube dos Construtores hoje sobe nova direção, e desafiar este jornalista?

As vítimas de declarações especulativas de Milton Bigucci devem estar a lamentar muito terem confiado num discurso mais que manjado de mercador imobiliário.

Quem mandou duvidarem de um jornalista que só tem rabo preso com a própria consciência e que por isso mesmo, em muitos casos, paga caro por isso?

Genocídio econômico

Quantas famílias e empreendedores que caíram no golpe do metro quadrado lá nas nuvens poderiam ter escapado dessa armadilha de marketing mentiroso e evitado transtornos futuros, que já chegaram principalmente na forma de distratos, ou seja, de rompimento dos contratos firmados na compra de apartamentos e salas comerciais cujos preços desabaram e valem muito menos do que o inicialmente previsto para financiamento a perder de vista? Praticou-se ao longo dos últimos anos verdadeiros genocídios econômicos.

Voltemos a novembro de 2012 para que os leitores entendam um histórico indispensável que me opõe a Milton Bigucci, o rei da lábia imobiliária que, agora, como se vê, é vítima da própria língua.

Num artigo sob o título “Liquidações de apartamentos e salas comerciais já assustam”, reproduzi nesta revista digital daquele novembro de 2012 o ambiente do mercado imobiliário na região, diversamente de Milton Bigucci e seus parceiros da mídia chapa-branca ignoravam, quando não se lambuzavam. Pinço um dos trechos do texto que produzi:

 O que interessa é reafirmar uma situação que preocupa por demais os empresários mais respeitados do setor imobiliário, geralmente de pequeno e médio porte. Nada a ver, portanto, com os mercadores imobiliários, igualmente preocupados, mas que sempre dão um jeito de manipular informações. Foi o que fez Milton Bigucci numa entrevista publicada segunda-feira no jornal Bom Dia ABCD. Bigucci disse com todas as letras, vírgulas e subjetividades que os preços dos imóveis não baixarão. É claro que não baixarão, porque já baixaram. E vão baixar muito mais. A especulação imobiliária só pega no contrapé quem está descuidado e se deixa levar pelo noticiário de jornais alheios aos fatos.

Excessos denunciados

Esse trecho da matéria que assinei em novembro de 2012 foi escrito há mais de três anos, portanto, quando a região já dava sinais mais que claros de que o excesso de construção nas áreas residencial e comercial não combinava com a queda do PIB (Produto Interno Bruto), igualmente já detectado nos últimos tempos.

As declarações de Milton Bigucci, sobre as quais me referi naquele texto, foram impressas um dia após uma das principais empresas do País, a Even, anunciar durante dias e dias e realizar no final de semana uma megaliquidação de imóveis na Região Metropolitana de São Paulo. Os descontos chegaram a 30%. Quem forçou um pouquinho a barra – escrevi à época – conseguiu bem mais.

Ao anunciar para este final de semana agora uma chamada megaliquidação, a MBigucci de Milton Bigucci não inaugura uma temporada de queima de estoques. Promoção semelhante já foi realizada antes. É que os estoques estão abarrotados, embora a peça publicitária seja marotamente enganosa, a sugerir que restam poucas unidades. Se restam poucas unidades, por que então a megaliquidação? Truque de quem passou todo o tempo manipulando as estatísticas do então Clube dos Especuladores Imobiliários.

Consultor desastrado

Quem contrataria Milton Bigucci como consultor imobiliário, se por acaso viesse a falir como empresário do setor imobiliário? Duvido que tivesse gente disposta a lhe pagar dinheiro graúdo para receber conselhos, porque o passado o condena. Mas como empresário do ramo, Milton Bigucci é considerado um dos melhores. Quando se juntava à condição de chefe de uma classe, ganhava foro de sábio e, com isso, conduzia muita gente à bancarrota. Ou não é bancarrota o destino de clientes que caíram no conto da valorização de imóveis em tempos bravios?

Quem, como Milton Bigucci, oferece pelo menos 28% de descontos, é ruim da cabeça de planejamento empresarial ou doente do pé de um marketing ostensivamente especulativo, do qual foi agente ativo e passivo.

Muitas advertências

Cansamos de advertir nesta revista digital que o mercado imobiliário da região era uma espécie de bolha. Os nichos espaciais que comportavam lançamentos mais que fadados ao fracasso se espalhavam e se espalham pela região. Por ter essa autonomia analítica, passamos a ser odiados pelo antigo chefe do Clube dos Construtores. Pretextos não faltaram para tentar desqualificar este profissional.

Em março de 2012 – portanto há exatamente quatro anos – escrevi o artigo “O que se passa com o mercado imobiliário da Província? Um perigo”. Faço questão de reproduzir alguns parágrafos para que os leitores entendam quem é bandido social nestas alturas do campeonato.

 É claro que os controladores do mercado imobiliário na Província do Grande ABC, entre os quais gente graúda da mídia permissiva, vão detestar essa informação, mas o fato é que a situação está para lá de Bagdá. Principalmente os chamados invasores, empresas da vizinha Capital que vieram para a região certos de que iriam encontrar um oásis de rentabilidade. Quebraram a cara, mesmo com todas as vantagens competitivas que conseguem graças ao lobby despudorado nas administrações públicas. Em São Bernardo, particularmente em São Bernardo, a situação do mercado imobiliário é crônica. (...).  Não estou afirmando nem insinuando tampouco sugerindo e muito menos alertando que estamos próximos de um crash imobiliário. Não estou dizendo que uma bolha está próxima de estourar. Nada disso, até porque o arcabouço que rege as transações imobiliárias amadureceu a tal ponto no País que não há praticamente espaço para grandes quebras, embora esse quadro não possa ser desprezado. O problema é mesmo tipicamente de mercado, da lei da oferta e da procura. Há lançamentos demais para interessados de menos. Essa é uma encruzilhada que não oferece garantia de saída feliz. Há armadilhas a provocar desequilíbrios. (...) Os espertalhões cinderelescos, da Capital, perderam a noção do perigo e subestimaram os limites gataborralheiros da Província do Grande ABC. Justamente eles, paulistanos, que sempre olham para a região com desdém. O que se pode fazer quando a ganância é muito maior que a racionalidade econômica?

Sexta-feira inspiradora

A Operação Lava Jato que nesta sexta-feira está botando para quebrar precisa ser regionalizada pelas instâncias locais do Ministério Público, da Polícia e do Judiciário. Sigam o rastro do dinheiro de mercadores imobiliários que muito será revelado. Inclusive a inserção com políticos mais que bandidos sociais.



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