Economia

PIB per capita de São Bernardo vai
cair 20% durante a gestão Dilma

DANIEL LIMA - 07/03/2016

Anotem essa previsão e me cobrem se forem capazes: o PIB per capita de São Bernardo vai cair pelo menos 20% durante os constitucionais oito anos de gestão da presidente da República, Dilma Rousseff. Será uma tremenda ironia do destino: atingirá em cheio a Capital Econômica da Província do Grande ABC durante boa parte de um período em que a Prefeitura terá sido administrada pelo petista Luiz Marinho, formulador de proposta de descentralização da dependência automotiva que deu com os burros nágua.

O PIB per capita da Província como um todo cairá ao menos à metade de São Bernardo. Estamos fritos e mal pagos. E, como não canso de cobrar, não se move uma palha institucional sequer com o carimbo de emergência, para superar ou minimizar os estragos.

A bem da verdade, nesses últimos anos apenas o Ciesp de Santo André saiu às ruas, com 300 representantes do setor industrial de pequeno porte, para protestar contra essa gente que transformou o Brasil num monumento ilusionista durante a gestão Lula da Silva e numa trapalhada dos diabos agora com Dilma Rousseff.

O PIB per capital é uma medida mais próxima dos ganhos de bem-estar da sociedade. É usado no cálculo do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) junto com a escolaridade e a expectativa de vida. O PIB per capita considera a demografia. Isso significa que se o PIB sobe 4% e a população cresceu mais do que isso, na verdade os habitantes ficaram mais pobres em relação à situação anterior. Nada é mais corrosivo do que a combinação de PIB em queda real e crescimento demográfico. Aí se retroalimenta o desastre. O PIB de São Bernardo e da região como um todo viveu essa situação nos últimos três anos. Daí o déficit acumulado.

Respaldo técnico

Quem está mal informado ou é deformado por natureza pode achar que este jornalista esteja a blefar quando anuncia o futuro do PIB per capita da região. Bobagem. Faço a projeção com base no passado recente, que acabo de esquadrinhar. E quando esquadrinho, saiam de baixo porque não costumo perder gol escancaradamente à frente. Não tenho vocação à chutometria.

Nos três primeiros anos de mandato de oito possíveis da presidente Dilma Rousseff a Província do Grande ABC perdeu 5,37% do PIB per capita. São Bernardo perdeu mais que o dobro -- 10,91%. Os dados se referem ao período de 2010 a 2013, com base no PIB dos Municípios Brasileiros divulgado em janeiro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Portanto, ainda não foram contabilizados os anos já findos de 2014 e 2015, desastrosos para a economia nacional, quando crescemos 0,5% no primeiro e caímos 3,8% no segundo. A perspectiva para esta temporada é de nova queda, próxima a 4%. Como o PIB da Província tem potencial destrutivo maior que o PIB do Brasil, o melhor é contabilizarem estragos bem maiores.

Previsão conservadora

Estou sendo comedido ao afirmar que perderemos pelo menos 10% do PIB per capita na região e o dobro em São Bernardo. A base de cálculo da queda do PIB da Província e de São Bernardo nos últimos três anos medidos pelo IBGE é o ano de 2010. Esse marco é importante como divisor de águas. Foi a partir daí que se introduziu nova metodologia no processo de medição do PIB. Se fosse mantida a metodologia anterior, a Província estaria ainda mais enrascada.

Como já mostramos nesta revista digital, a mudança introduzida pelo IBGE favoreceu a região como um todo e São Bernardo em particular, por conta da cadeia de produção industrial. Mas, mesmo assim, São Bernardo não aproveitou o empurrão e, desde 2010, vem caindo pelas tabelas. Tanto que o PIB per capita desabou 10,91% no período.

Para que o PIB per capita de São Bernardo de 2010 (já sob nova metodologia) não acusasse perda alguma quando se fechou a temporada de 2013 (terceiro ano de mandato de Dilma Rousseff e quinto de Luiz Marinho à frente da Prefeitura) seria preciso que registrasse o valor de R$ 66, 397,83 mil por habitante. O cálculo se baseia no PIB por habitante de R$ 55.618,89 de 2010, em valores nominais.

O que fizemos para chegar a mais de R$ 66 mil foi simplesmente corrigir aquele valor pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do próprio IBGE, instrumento de medição do PIB. Como São Bernardo apontou de fato R$ 59.149,80 ao final de 2013, a diferença de 10,91% está explicada.

Dos sete municípios da região, apenas Mauá apresentou desempenho pior que São Bernardo nos três últimos anos. Em termos reais, descontada a inflação, Mauá perdeu 18,21%. Diadema cresceu nominalmente (sem efeitos inflacionários) 16,59% no período. Abaixo, portanto, dos 19,38% do IPCA. Santo André avançou 29,33% em termos nominais, São Caetano 25,28%, Ribeirão Pires 39,53% e Rio Grande da Serra 27,98%.

Derrocada comprometedora

O avanço em termos reais de quatro dos municípios da região não compensou a derrocada de São Bernardo. Quando o PIB dos Municípios dos dois últimos anos sair, provavelmente também atingirá as demais localidades da região. O efeito contaminação de São Bernardo demora um pouco, mas se espalha terrivelmente. Da mesma forma que o crescimento se esparrama.

Embora a nova metodologia adotada pelo IBGE não abranja o período completo da Administração Luiz Marinho, não há risco em afirmar que o prefeito oriundo das lides sindicais deixará o Paço Municipal com pronunciado passivo de geração de riqueza por habitante. Luiz Marinho assumiu em janeiro de 2009 e está no último ano do segundo mandato. Seria necessário contar com o novo PIB desde o ano de 2008 para que se anotasse um estudo mais completo. Pelo velho PIB, já aposentando, Luiz Marinho vinha acumulando derrotas sobre derrotas, menos durante 2010, quando o PIB do Brasil cresceu 7,5% e a região como um todo, favorecida pela febre de consumo automotivo, avançou bastante.

Não há informações sobre a possibilidade de o IBGE alargar os dados do comportamento do PIB dos Municípios Brasileiros, recuando mais no tempo. O PIB do Brasil já foi devidamente corrigido, seguindo metodologia internacional. Houve melhora bastante discreta dos números apresentados, quando se comparam o velho e o novo PIB.

As análises que realizamos não ultrapassa o período de 2010 e 2013 porque é assim que determina a nova configuração do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Caímos no PIB per capita, nesse período, 5,37%, porque os R$ 37.377,86 mil registrados em 2010 deveriam ser, quando corrigidos pelo IPCA, nada menos que R$ R$ 44.621,68 ao final de 2013, mas foram apenas R$ 42.224,75.

São Caetano lidera

O maior PIB per capita da região é o de São Caetano, com R$ 97.889,94, segundo os dados do IBGE de dezembro de 2013. O valor é 2,3 vezes maior que o PIB per capita médio regional. São Bernardo das montadoras de veículos tem o PIB per capita médio de R$ 59.149,80. Bem abaixo, portanto, de São Caetano, mas acima de Santo André, que registra R$ 35.503,52, e que, por sua vez, tem apenas um pouco mais que os R$ 33.015,67 de Diadema. O PIB per capita de Mauá é um pouco maior que o de Ribeirão Pires: R$ 23.012,76 ante R$ 22.380,19. Rio Grande da Serra carrega a lanterninha regional com PIB per capita de R$ 11.057,29.

O jornal Valor Econômico publicou na semana passada que o PIB per capita do Brasil vai registrar quatro anos de queda consecutiva entre 2014 a 2017. A previsão é de que a contração chegará próxima a dois dígitos. O PIB per capita dos brasileiros caiu quase 5,5% nos dois últimos anos – foram menos 0,8% em 2014 e menos 4,6% no ano passado. A previsão do jornal é que o PIB per capita deve registrar pelo menos mais duas quedas -- em 2016 e, com menos intensidade, em 2017, voltando a crescer de modo tímido apenas em 2018. Nossa previsão para a Província do Grande ABC estende a perda de PIB per capita por período mais extenso.

Indicador importante

A importância do PIB per capita é defendida por especialistas de vários matizes ideológicos. A retração do PIB per capita é, segundo Mário Mesquita, sócio do Brasil Plural, um dado relevante porque mostra o empobrecimento médio das populações. Não fosse a redução da taxa demográfica do Brasil nas últimas décadas, a situação seria ainda mais clamorosamente inquietante. “Uma contração do PIB de 4% teria um efeito mais pronunciado no PIB per capita, mas não deixaria de ser um número ruim”, disse o ex-diretor de Política Econômica do Banco Central ao referir-se à queda do PIB de 3,8% no ano passado.

Também ao jornal Valor Econômico, Alberto Ramos, diretor de pesquisas para a América Latina do Goldman Sachs, estima que apenas entre 2014 e 2018 a queda real do PIB per capita deverá ficar entre 9,5% e 10%, superando facilmente declínio real de 7,6% acumulado durante a chamada década perdida, período que incluiu os 12 anos entre 1981 e 1992. “Não tenho ideia quando o per capita vai subir de novo. Pode ser em 2017, mas há muito incerteza”, afirmou o especialista, para quem , segundo o Valor Econômico, “a queda do PIB per capita é uma métrica razoável da deterioração do nível de bem estar”.



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