Imprensa

Interesse público é mantra para
quem trabalha com informação

DANIEL LIMA - 10/03/2016

Respondendo sem firulas sobre o que me move na função de jornalista, e que explica sobremaneira o fato de colecionar alguns desafetos circunstanciais e outros estruturais, a expressão que melhor define meu trabalho é “interesse público”. Esse é meu mantra, como o é dos jornalistas em geral que não se deixam seduzir pelos podres poderes de plantão.

Pode até ser que haja muita subjetividade na definição do que é “interesse público”. Para mim, tudo que implica em potencial demanda da sociedade -- mesmo que sociedade seja uma abstração -- requer ampliação de informações por parte de quem é oficialmente do ramo. As redes sociais estão aí para bagunçar, no bom e no mau sentido, a marcha das relações sociais em esferas distintas.

O jornalismo destes tempos tecnologicamente fantásticos procura harmonizar essa avalanche de interlocutores virtuais, transformando muita maçaroca em análises. Não é outro o sentido deste CapitalSocial.

Quem vai contestar que há interesse público em tudo que produzimos neste espaço? Não vou descer a detalhes, não vou fazer mil citações de assuntos abordados aqui. Basta uma olhadela rápida no cardápio da primeira página de CapitalSocial para distinguir o que é jornalismo de verdade e jornalismo de baboseiras e conveniências.

Jamais tive qualquer constrangimento em me reunir com fontes de informações em local público ou mesmo em pontos cuidadosamente escolhidos. Em muitos casos, sugiro que o encontro seja o mais discreto possível, porque pretendo preservar quem me abastece de informações. Embora os encontros nem sempre sejam a matéria-prima para produzir essa revista digital, me assalta de preocupação a possibilidade de que um simples almoço vire conspiração.

Como médicos legistas

Sou escravo do interesse público implícito do jornalismo. Pago caro por isso, mas não posso reclamar. Os médicos legistas também lidam com algo aparentemente desagradável e incômodo em determinadas situações, mas o fazem com o entusiasmo natural de vocação materializada.

A diferença entre jornalismo pautado pelo interesse público e legistas de casos especiais é que eles lidam com as artimanhas da morte e nós nos debruçamos sobre as entranhas dos segredos da vida em sociedade.

A comparação pode não ser de bom gosto, mas é emblemática. Reconheço que para muitos diretamente envolvidos com malandragens éticas e tropeços informativos, o jornalismo é algo a ser banido a qualquer custo, porque bisbilhoteiro. Os corpos sob cuidados de legistas não reclamam nem contestam eventuais versões de crimes de homicídio. As mentes vivas dos prevaricadores reagem, quando não opõem hostilidades.

Não tenho ideia de quantos desafetos gostariam de ver meu cadáver. Só sei que há na praça regional alguns milhares de personagens que, reconhecidos em vida pelo trabalho que desenvolveram e que os levaram a ganhar uma das várias modalidades do Prêmio Desempenho, provavelmente não me esquecem e até eventualmente um ou outro reze por mim. Eles se somam, certamente, aos leitores comuns que não se conformam com jornalismo desprovido de compromisso social.

Não carrego nenhum caderninho com anotações de suposta lista negra. Não tenho o espírito vingativo. Só não aceito sentar à mesa com um único bandido social da região. Que todos conhecem não porque seja o único bandido social da região. É simplesmente o mais arrogante e pernicioso.