A 15ª edição do boletim Observatório Econômico traz um banquete de dados sistematizados aos apreciadores da gastronomia socioeconômica. Alguns aparentemente saborosos, como o que dá conta de que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal deve beneficiar mais de 18 mil pessoas de Santo André, ou os que assinalam crescimento de empregos formais na região, no Estado e no País. Outros dados são indigestos e reforçam a constatação de que não se pode baixar a guarda na luta contra os subprodutos do baixo crescimento econômico e das desigualdades sociais.
Quais são os dados indigestos capazes de causar náuseas em administradores públicos antenados com os preceitos da inclusão social pelo desenvolvimento sustentado?
Que tal a exposição de que nada menos que 900 pessoas partem diariamente em busca de emprego nas duas unidades do CPETR (Centro Público de Emprego, Trabalho e Renda) mantidas pela Prefeitura de Santo André? Lê-se que a unidade da Avenida Arthur de Queirós distribui cerca de 500 senhas todo dia, e que a fila começa a se formar antes das sete da manhã e chega a dobrar o quarteirão antes do início do atendimento, às oito. Outras 400 senhas são distribuídas por dia no posto da Rua D. Gertrudes de Lima.
O foco do artigo "CPETR supera metas e quer ampliar serviços" é a assimilação do serviço de cadastramento, seleção e encaminhamento de desempregados pela Prefeitura de Santo André no lugar da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da Força Sindical, desde maio do ano passado. Um quadro apresenta balanço positivo nos 12 meses de gestão municipal, como a colocação de 9,25 mil trabalhadores. Mas o que mais chama atenção é o longo caminho a ser percorrido em uma região que soma mais de 180 mil desempregados, de acordo com a última pesquisa Seade/Dieese.
Distorção setorial
Outra informação amarga, esta sim alçada ao primeiro parágrafo, diz respeito à cadeia de transformação plástica, responsável por cerca de 18 mil empregos na região. "Enquanto o consumo de resinas por parte de concorrentes instalados em Estados como Santa Catarina e Goiás cresceu à taxa anual superior a 10% entre 2000 e 2005, as indústrias do Grande ABC ficaram limitadas a crescimento médio anual de 2,3%." É por isso que a equalização do ICMS paulista e a adoção de políticas mais agressivas voltadas ao adensamento setorial se fazem tão necessárias.
O artigo sobre efeitos do PAC só não é completo porque não veio acompanhado de CD com a trilha sonora Prá Frente Brasil. "O País sentiu por um longo período a falta de políticas urbanas e habitacionais que oferecessem soluções efetivas às enormes carências nos dois setores. Prevalecia um vácuo na gestão pública, decorrente da falta de entendimento da importância dos temas intimamente associados." Menos, menos. Apesar da projeção de investimentos bilionários, a economia brasileira deve continuar na rabeira dos emergentes pelo emperramento de reformas estruturais. Os técnicos do boletim somaram os recursos prometidos pela União e chegaram à conclusão de que Santo André deve receber R$ 210 milhões em 2007, basicamente para urbanização de favelas e obras de saneamento.
O artigo relacionado ao crescimento dos empregos com carteira assinada informa que o Grande ABC criou 4,5 mil postos de trabalho no primeiro trimestre deste ano. E que somente Santo André respondeu por um terço do total. Entretanto, números oficiais mais recentes e contextualizados mostram quadro menos positivo. Entre janeiro e maio o Grande ABC criou 11.058 empregos formais, volume 27% menor que os 15.150 do ano passado. Em Santo André o ritmo caiu 36%, de 5.214 vagas entre janeiro e maio de 2006 para 3.331 no mesmo período deste ano.
* Matéria publicada na edição de julho da revista LivreMercado.
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