Economia

Diversidade que
gera empregos

WALTER VENTURINI - 13/09/2005

O que faz de Diadema campeã paulista de geração de empregos? A resposta está numa economia diversificada e baseada principalmente em pequenas e microempresas. Num momento em que exportar é a salvação de vários setores da indústria brasileira, o Município do Grande ABC mostra que a proteção contra oscilações dos humores da economia está no equilíbrio entre exportações e mercado interno. Outro ingrediente estratégico na receita é uma política agressiva de captação de novos empreendimentos praticada pela Prefeitura.


A política está em crise, mas a economia brasileira ainda está bem. Principalmente as exportações do setor automotivo, que garantiram ao Grande ABC números positivos na geração de empregos. Pesquisas da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análises de Dados) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos) mostram que em julho deste ano o nível de desemprego foi de 17,1%, menor do que no mês anterior, de 17,9%. Em um mês, 10 mil trabalhadores voltaram à ativa na região.


Mas, atenção: a análise de outros indicadores mostra que é o setor industrial, principalmente o automotivo e segmentos em seu entorno, que garantem novos postos de trabalho. O combustível da vez são os bons resultados das exportações de veículos. Pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho, o setor industrial da região cresceu 31,5% em julho, com a abertura de 643 novos postos de trabalho com carteira assinada. O mesmo Caged, no entanto, indica que, levando-se em conta a indústria e todos os outros setores da economia do Grande ABC, houve recuo de 32% na criação de empregos.


Esses números oscilantes e aparentemente contraditórios não se verificam em Diadema, onde a geração de emprego é constante. Em 2004, por exemplo, o Município registrou variação positiva de 10,54% na criação de empregos, de acordo com dados de pesquisa das regionais do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Foi a maior marca regional do Estado. São Caetano ficou em segundo, com 9,31%. São Bernardo vem em 17º lugar, com índice positivo de 5,29%, e Santo André em 30º, com 1,55%. Pelos números do Caged, Diadema registrou crescimento de 11,08% no nível de emprego, com a abertura de 7.897 novos postos de trabalho.


Este ano, ainda com dados parciais, Diadema continua se destacando como pólo gerador de emprego, junto com centros econômicos como Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. “Nesses dois locais, o crescimento se dá por causa do agronegócio e do setor metal-mecânico que fornece peças para as usinas” — ressalta o diretor da regional do Ciesp de Diadema, Ignacio Martinez Conde Barraza.


Exportações em alta


Os próprios números do Caged indicam que de janeiro a julho deste ano o Grande ABC registrou ritmo 7% menor na geração de emprego em todos os setores da economia em relação a igual período de 2004, enquanto que em Diadema a variação foi crescimento de 5,25%. Se a pesquisa abranger o período de agosto de 2004 a julho de 2005 houve avanço de 9,93% — isto é, a abertura de 7.545 vagas em Diadema. “A exportação alavancou a geração de emprego, muito ligado ao setor automotivo. São cerca de 300 empresas que no ano passado exportaram bastante” — explica Ignacio Barraza. Diadema é a única representante de São Paulo entre 10 municípios brasileiros que participam do Exporta Cidade, projeto-piloto do governo federal cujo objetivo é criar ambiente favorável ao desenvolvimento das vocações produtivas destinadas ao mercado externo, geração de emprego e renda.


“Concordo que o setor que mais empregou foi o automotivo, mas em Diadema houve outros segmentos que fizeram a diferença, como o de cosméticos” — afirma o vice-prefeito Joel Fonseca, também secretário de Desenvolvimento Econômico. Estrela ascendente na economia do Município, o segmento de cosmético foi dos que mais empregou nos últimos anos. Hoje emprega cerca de 11 mil trabalhadores, a maioria contratada a partir do final de 2003, quando foi organizado o Pólo de Cosméticos, que conta com aproximadamente 100 empresas na cadeia produtiva, que vai da produção até a fabricação de embalagens. O pólo organizou a participação de empresas da cidade em seis feiras fora do País, duas em Bolonha, na Itália, duas em Dubai, nos Emirados Árabes, e duas nos Estados Unidos, em San Diego e Las Vegas.


A experiência de criação do Pólo de Cosmético é referência para outro arranjo produtivo que começa a surgir no Município. Com apoio da Prefeitura, empresários iniciaram a criação do Pólo de Autopeças, lançado em junho, que deve englobar empresas dos segmentos de borracha, plástico e metalúrgico. “Nosso objetivo é aglutinar principalmente por volta de 300 pequenas e médias empresas, que precisam desenvolver cultura associativista, o que não é o caso das grandes. São fábricas que contam de cinco a 200 funcionários e onde se encontram mais afinidades que facilitam a montagem de grupos por necessidade” — relata o vice-prefeito Joel Fonseca, que também conta com experiência de ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos para incentivar a consolidação de um grupo associativo de empresas.


O Ciesp contabiliza cerca de 1,5 mil indústrias em Diadema, das quais aproximadamente 85% micro e pequenas, 10% médias e 5% grandes empresas. “Em 2004 crescemos por duas razões. Uma são as exportações dos setores vinculados às automotivas e ao metal-mecânico. Outro motivo é o crescimento dos setores de cosméticos e plásticos no mercado interno” — resume o diretor do Ciesp. O metal-mecânico se beneficiou das exportações. Um exemplo é a Prensas Schuller: em 2004 teve 89% do faturamento líquido de R$ 295 milhões proveniente das exportações.


É da diversidade que Diadema se vale para contornar oscilações da economia. Quando a exportação diminui, os bons resultados de alguns setores no mercado interno como o de cosméticos e de embalagens, podem compensar. E diversidade é o que não falta ao parque industrial. “Em Diadema a gente fabrica desde óleo de coco até alfinete. Essa diversidade impressionante é que no final causa influência positiva” — analisa Ignacio Barraza. O diretor do Ciesp fala de experiência própria: depois de comprar um tipo especial de óleo vegetal para os equipamentos de sua indústria, a AutoMetal, descobriu que havia um fabricante do mesmo produto em Diadema.


Além de variedade, Diadema vai atrás da quantidade, principalmente novas empresas e empregos. O troféu mais significativo foi a instalação, no final de 2004, do maior centro de distribuição da AmBev, que representou a criação de 1,7 mil empregos diretos. “Podemos dizer que a Prefeitura tem uma ação agressiva. A Secretaria dispõe até mesmo de um Departamento de Fomento à Atividade Econômica, que tem um banco de dados com galpões e áreas vazias para empresas interessadas em se instalar na cidade. Levamos o empresário ao local e fazemos levantamento da situação da área, se há dívidas ou taxas para pagar” — conta Joel Fonseca.


Viário em obras


Para o vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Econômico, a Prefeitura vem realizando também série de intervenções que otimizam o ambiente para novos investimentos. São vias como a Avenida Ulysses Guimarães e uma nova alça de acesso à Rodovia dos Imigrantes que facilitam a circulação de cargas, ou três novos piscinões que acabaram com enchentes em áreas econômicas importantes como o Bairro de Piraporinha. Não é por acaso que pesquisa da Fundação Getúlio Vargas incluiu Diadema entre as 100 melhores cidades brasileiras para se trabalhar, em um clube seleto de municípios com mais de 160 mil habitantes e arrecadação anual acima de R$ 210 milhões. 


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