Contados, contadinhos, no sentido cronológico do termo, não sei, mas que está em situação cada vez mais complicada quando se remete a contagem ao fator competitividade, não tenho dúvidas. Fiz o alerta, solitariamente, há quase três anos. Ninguém com responsabilidade diretiva pública e privada na região fez bulhufas desde então. Mesmo com o suposto suporte politico e partidário da administração federal petista.
Agora, vejo na edição de hoje do jornal Valor Econômico, uma declaração de um dirigente da Braskem, empresa-mãe do nosso Polo Petroquímico, que deveria causar inquietação geral porque, entre outros problemas, a ameaça de arrombamento da caixa-preta de improdutividades do Polo Petroquímico afetaria fortemente os cofres das prefeituras de Mauá e de Santo André.
Como sempre, possivelmente tudo vai passar em branco. Caso, claro, não apareçam os idiotas de sempre para minimizar os estragos que já se fazem presentes. Somos uma Província irrecuperável. Vamos então ao caso.
Marcelo Cerqueira é vice-presidente da unidade de petroquímicos básicos da Braskem. Ou seja, é um especialista no assunto e, mais que isso, insuspeitíssimo. Ele revelou hoje ao Valor Econômico que esse conglomerado das Organizações Odebrecht, em sociedade com a Petrobras, vai investir na importação dos Estados Unidos do chamado gás de xisto, matéria-prima que revolucionou a indústria global por derrubar os custos de produção.
Investimento definido
O projeto já desenhado pela Braskem vai exigir investimentos de R$ 380 milhões. O produto será fornecido pela Enterprise Products, a mesma distribuidora que atende as fábricas da petroquímica brasileira nos Estados Unidos. O gás importado vai abastecer até 15% da fábrica de Camaçari, na Bahia, que se tornará unidade flex, capaz de utilizar gás ou nafta na produção.
Mas a injeção de recursos para dar mais gás de xisto a Camaçari não vai parar por aí. Novos investimentos serão realizados. Onde entra o Polo Petroquímico de Capuava nessa história? Não entra. De fato, sai pela porta dos fundos da baixa competitividade. Leiam esses trechos da reportagem do Valor Econômico:
Segundo Cerqueira, há possibilidade de transformar até 30% da planta em um sistema flex. A obra para dobrar essa capacidade deve ocorrer só em 2019, A adaptação de outras unidades da Braskem no Brasil para receber o gás importado é tecnicamente mais difícil, pois elas estão muito distantes do mar – publicou o jornal.
Custos bem diferentes
Se o leitor ainda não se deu conta do que nos espera em termos de competitividade e de evidentes perdas de participação no mercado, vamos a mais um exemplo explicitado na matéria do Valor Econômico:
A definição sobre o insumo usado em uma indústria petroquímica é um tema sensível. Cerca de 75% do custo de produção do eteno, petroquímico que é a base da cadeia de plástico, vem da nafta. “A nafta perdeu competitividade em relação ao gás. Mas esperamos períodos de volatilidade no preço do insumo, e a fábrica de Camaçari terá flexibilidade para aproveitar esses momentos”, afirmou o dirigente da Braskem.
Ou seja, o Polo Petroquímico da região, do qual a Braskem, repito, é a central de suprimento, ficará à margem da competitividade em situações específicas ou estruturalmente. Aliás, já está à margem.
Quem começou a se preocupar com o futuro do Polo Petroquímico da região por conta dessas linhas, não pode interromper a leitura sob pretexto algum. “É preciso que seja informado que a exportação de gás de xisto é uma festa que vai começar. Temos de estar nesse jogo” – disse o vice-presidente da Braskem.
Agora, se preparem para o impacto econômico direto da troca dos derivados de nafta que são produzidos no Polo Petroquímico da região com a aplicação de gás de xisto:
Estimativas de mercado apontam que mesmo com o custo do frete marítimo, o gás importado americano custaria, em média, 50% menos que a nafta no Brasil nos últimos dois anos.
Os Estados Unidos estão aterrorizando o mundo da energia nestes tempos de petróleo em baixa. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, ouvido pelo Valor Econômico, disse que há uma tendência mundial de aumento da oferta de gás natural que deve manter os preços do produto em baixa, puxada por novas descobertas e por mais investimentos em liquefação de gás, que viabilizará a exportação aos mercados consumidores: “Vamos viver a era do gás natural, As petroquímicas que mantêm uma matriz de produção focada no nafta, como é o caso da Braskem hoje, vão perder competitividade internacional se não migrarem para o gás”, afirmou.
Sugiro aos leitores que consumam o link logo abaixo. Trata-se de artigo que escrevi em 8 de maio de 2013. O título “Uma dupla ameaça à economia da Província. E ninguém reage”, refere-se ao que chamei de as duas doenças holandesas da região: a indústria automotiva e o polo petroquímico. Cantamos a caçapa do gás de xisto. O Polo Petroquímico da região está mesmo ameaçadíssimo de virar sucata macroeconômica. Já imaginaram o tamanho do estrago nos orçamentos públicos de Mauá (principalmente) e de Santo André (também expressivo) por conta dessa Doença Holandesa embutida na Doença Holandesa principal, do setor automotivo?
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