O seminário preparado pelo Diário do Grande ABC -- cujo título é “Os rumos da indústria do Grande ABC” -- ganha novos contornos de compreensão preliminar sobre o que se pretende com a programação dividida em três painéis cujas marcas também estão disponíveis no site do jornal. O primeiro é “A desindustrialização do Grande ABC”. O segundo, “O Polo Petroquímico do ABC e o Potencial de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Química e do Plástico”. O terceiro é “A Indústria Automotiva: presente e futuro no ABC”.
Como sou incorrigível abelhudo, avanço um pouco mais alguns parágrafos em complemento ao que escrevi na edição de ontem e que está disponível no link logo abaixo.
Primeiro, o painel sobre desindustrialização é oportuníssimo, mas não garante, de forma alguma, que o assunto será destrinchado da maneira mais apropriada.
A apresentação do acadêmico Sandro Maskio, da Universidade Metodista, é a certeza de temperatura morna. Maskio não é protagonista de debates acalorados. O currículo difere da quase totalidade de acadêmicos engajados ideologicamente que se meteram na economia regional. Maskio é metódico e se move principalmente pela cientificidade de pesquisas de campo. Diria que é escravo dos números, os quais maneja com sobriedade. Se acrescentasse uma pitada de inconformismo seria ótimo. Não pareceria uma extensão fria das planilhas que constrói.
Braga fora de lugar
Um dos debatedores já escolhido (não se sabe se serão dois ou três em cada painel) é o prefeito Donisete Braga, de Mauá, também presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. É natural que o cheiro de oficialidade analítica, que deve ser interpretado com toda a cautela, deverá prevalecer. Donisete Braga está fora de lugar. Deveria constar do painel do Polo Petroquímico, porque Mauá depende em primeiro grau de tudo que acontece com aquele núcleo de produção.
Um segundo debatedor e quem sabe o último do painel sobre desindustrialização deveria ser um sindicalista. O contraponto, em caso de deslocamento de Donisete Braga, deveria ser um empresário de pequeno porte com coragem para dizer tudo o que pensa sobre os efeitos nocivos do sindicalismo cutista às empresas que não aparecem no noticiário econômico, mas engordam as páginas de obituários.
O segundo painel, que trata do Polo Petroquímico, deveria, repito, contar com o prefeito de Mauá, Donisete Braga. Como deputado estadual ele fez aprovar uma legislação que projetava agigantamento do setor na Região Metropolitana de São Paulo. Nada disso ocorreu. A Grande São Paulo conta cada vez mais com restrições ambientais em nome de uma qualidade de vida que não se alcança jamais. Um especialista do setor, que represente uma consultoria especializada, a MaxQuim, por exemplo, daria toque de organicidade informativa e analítica às informações. O executivo José Roriz Coelho representará a Abiplast. É uma boa pedida.
Perguntas do público
O terceiro painel, que trata da indústria automotiva, ainda não tem nomes confirmados. Os setores de autopeças, de montadoras e do sindicalismo cutista são presenças compulsórias. Se forem bem escolhidos, e bem escolhidos significa que devam necessariamente apresentar diagnósticos conflitantes sobre a realidade que nos devora, teremos encontro de primeira linha. Se o ambiente politicamente correto prevalecer, teremos, em contraste, um joguinho mequetrefe de dissimulações.
Completando, sugiro aos organizadores que liberem questionamentos da plateia, com formulações por escrito. A medida garantiria que não teremos três painéis que caracterizem fuga da realidade dura e crua que está nas praças. O evento não pode e não deve ser um espetáculo de acomodações verbais e interpretativas. Entenda-se isso como contorcionismo elegante de transformar cada painel numa sucessão de gentilezas inúteis. Não estou sugerindo o uso e o abuso de métodos comuns das lutas livres modernas, transmitidas pela TV. Mas entreveros verbais seriam bem vindos. Detesto a harmonia cínica de quem acredita que, apesar de tudo que vivemos, vivemos num mundo regional maravilhoso.
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