Quem tem mais possibilidades de ser eleito ao comando da Prefeitura de Santo André a partir de janeiro do ano que vem? E em São Bernardo? Já pensaram no caso de São Caetano, de Diadema, de Mauá e de Ribeirão Pires? Sem contar Rio Grande da Serra. Pensei em construir vários textos, subdivididos tematicamente, para especular a respeito do assunto. Não tenho vergonha de dizer que eleição é especulação em grau elevado – pelo menos até que as urnas sejam apuradas principalmente nestes tempos de Lava Jato e de possibilidades de impedimento da presidente da República.
Desisti de escrever vários textos. O recuo não significa que descartei o assunto. Muito pelo contrário. Ainda nesta semana vou preparar artigo único sobre as várias nuances que construiriam mesmo que provisoriamente os cenários mais prováveis das eleições municipais.
Não pretendo me prender demais a individualidades dos candidatos, embora não possa descartá-las. O que proponho escrever é mais estrutural e circunstancial do que personalizado.
Vou explicar a diferença entre uma coisa e outra. Escrever sobre as eleições na região de forma estrutural e circunstancial não significa incongruência. Uma coisa não exclui a outra. Diferentemente, portanto, de conceitos econômicos. O que chamo de estrutural é o conjunto histórico da política regional. E o que chamo de circunstancial são os acontecimentos locais, mas principalmente nacionais da política. Não há como desconsiderar o momento que vivemos. Quem tapar os olhos à realidade macropolítica e macroeconômica vai sofrer um tremendo baque.
Quadro ebulitivo
Quem me perguntar a razão de ter desistido de série de artigos para me concentrar numa única análise sobre o quadro pré-eleitoral na Província do Grande ABC vai receber como resposta uma explicação simples: a situação está tão precariamente sustentável, com enxurrada de fatos e versões, que seria risco enorme iniciar o que chamaria de série especial e já nos artigos subsequentes ao primeiro, detectar a defasagem da abordagem inicial que, supostamente, daria sustentação às incursões futuras. Ou seja: dar uma pedalada posterior considerando-se que a pedalada anterior se configura anacrônica, por conta de inesperado buraco na estrada que interfere indevidamente na terceira pedalada. Então é melhor dar uma pedalona apenas.
O melhor, portanto, é matar a cobra e mostrar o pau de uma vez, de primeira, sem delongas. E na medida do possível, retomar a articulação dos enunciados até que se constitua arrazoado geral, agora sim, em série.
O que vou escrever envolve pelo menos uma dezena de subtemas que darão sustentação ao macrotema principal. Traduzindo: não vou fazer uma operação de colheita manual de algodão; pretendo ingressar no campo com uma maquinaria que vai dispensar a fragmentação em favor do ganho de escala.
Transferindo a metáfora para o campo esportivo, troquei a subdivisão pela macrotematização porque mais que observar o posicionamento de defensores e atacantes numa cobrança de escanteio, estou é de olho na organização tática das duas equipes em campo. O escanteio pode até redundar em gol, mas será insuficiente para sustentar a vantagem.
Marketing de mudanças?
Garanto aos leitores que o viés analítico desta revista digital será também profundo na prospecção das eleições na Província nesta temporada. Sei lá o que os marqueteiros dos candidatos estão a preparar. Nunca os acompanhei de perto na formulação de projetos para levar seus clientes à vitória.
Na maioria dos casos são profissionais de fora da região, abastecidos pelo próprio candidato e seu entorno na organização de ideias locais. Possivelmente impere emocionalismo acima do necessário, o qual passa em branco em termos críticos nos casos de derrotas. Contam-se apenas os cases de sucesso, como se sabe.
O ambiente politico-eleitoral lembra muito a ação de cartolas, da mídia e de torcedores a pressionar os treinadores de futebol à tomada de supostas decisões mais condizentes com o quadro que se apresenta.
Sei que esses profissionais de marketing são tão discretos no relacionamento com a imprensa como espalhafatosos na definição dos programas de comunicação com os leitores.
Mais ceticismo
João Santana, o marqueteiro do PT enrascadíssimo na Lava Jato, é a expressão mais espetaculosa do que um profissional da área é capaz de promover. Aquela mesa de famintos levada ao programa do partido durante as eleições presidenciais de 2014, num cenário de futuro dantesco ante a possibilidade de a candidata do governo ser apeada do cargo, atingiu os oposicionistas em cheio. Os eleitores mais dependentes do Estado se assustaram.
Resta saber até que ponto, agora que o castelo de João Santana ruiu e supostamente a população estaria mais cética a artilharia daquele tipo -- que se comprovou uma fraude -- resistirá o grau de credibilidade de mensagens assemelhadas nas próximas eleições. Ou alguém tem alguma dúvida de que a linguagem e as imagens das peças de propaganda eleitoral, sempre com efeitos especiais, eram apenas a cinematografia bem acabada do pensamento médio dos candidatos, dispostos a qualquer coisa na busca pela vitória? Até que ponto a mensagem dos candidatos não sofrerá vigoroso constrangimento se ignorarem os mais recentes acontecimentos e, principalmente, as sondagens sociais que colocam o prestígio da classe em harmonia com os panos de limpar o chão?
Portanto, ficamos assim: quem está com o saco cheio do noticiário político regional, o qual não passa de varejismo em detrimento de incursões mais profundas e associadas a um quadro mais amplo dos acontecimentos, e quem quer saber um pouco além do desfile de nomes de candidatos e de partidos políticos, passa a ter um compromisso comigo: nesta semana vocês têm a obrigação de saber que há muitos condimentos eleitorais sob observação atenta. Algo que as redes sociais não conseguem detectar, ou quanto detectam alguns fragmentos, geralmente os descaracterizam porque o império da unilateralidade seletiva de pensamento prevalece. Só os especialistas sabem decifrar alhos de bugalhos.
Como mata-matas
Só não vou antecipar o elenco temático ao qual me dedicarei nesta semana porque o fator surpresa conta muito nessas horas. Não pretendo frustrar a expectativa de ninguém, mas antecipo, como cronista esportivo que jamais deixei de ser e como analista político que de vez em quando me meto a ser que, sem dúvida, as surpresas do futebol são café pequeno quando comparadas às travessuras da política em ano eleitoral.
Aliás, já que falei de futebol, diria que o que se apresenta no momento na área politico-eleitoral se configura como o sistema de mata-mata utilizado em várias competições e que tem maior notoriedade no âmbito sul-americano com a disputa da Taça Libertadores da América.
Não à toa quem é do ramo diz que, por maiores que sejam as diferenças entre as equipes classificadas, quando se vai ao mata-mata o jogo é zerado. Que o diga, por exemplo, o River Plate da Argentina que, classificado em último lugar entre os 16 times que disputaram a etapa de mata-mata do ano passado, superou todos os adversário até se tornar campeão.
Foi assim, aliás, que, em termos nacionais, Santo André, Criciúma e Paulista de Jundiaí conquistaram a Copa do Brasil. O Santo André, como todos lembramos, na decisão contra o Flamengo num Maracanã lotadíssimo. Há dezenas de outros exemplos similares mundo afora, os quais podem não ser regra geral, mas também não são zebras.
As eleições deste ano na Província do Grande ABC se oferecem preliminarmente, diante de tantas dúvidas e contaminações, como mata-matas imprevisíveis.
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