O mercado de trabalho da Província do Grande ABC é campeão nacional de demissões com carteira assinada no setor industrial. Nenhuma área geoeconômica importante do País demitiu tanto quanto a região nos 12 últimos meses. O estoque de trabalhadores nos sete municípios da região recuou 11,94% entre fevereiro do ano passado e fevereiro deste ano. O resultado é 24,03% superior à média da Região Metropolitana de São Paulo, 30,40% acima do Município de São Paulo e 30,40% além da média nacional. Quando a comparação é com as cinco maiores capitais brasileiras, continuamos na dianteira de sofrimento. Um pouco acima de Curitiba, que registrou 11,88% no período. Quer saber o que significa tudo isso?
Tudo isso quer dizer exatamente o seguinte: quando se compara o nível de segurança de emprego no setor industrial da região com a média nacional, o ambiente regional é muito mais suscetível a demissões. Não se trata de resultado sem explicações, uma obra da natureza. Dependemos demais do setor automotivo, em longo processo de desaceleração de produção e sob o controle de um sindicalismo excessivamente centralizador e fechado a inovações no campo trabalhista. Os trabalhadores de primeira classe da Província do Grande ABC, que atuam nas montadoras e sistemistas de veículos, não seguram a barra de um equilíbrio no setor. Muito pelo contrário: agravam a desigualdade.
Produtividade não consta do léxico sindical. Nem o PPE (Programa de Proteção ao Emprego), feito sob medida para grandes empresas com aporte de dinheiro público, ameniza a situação. Muito pelo contrário. A desigualdade de tratamento em relação a pequenas e médias indústrias torna as cadeias produtivas ainda mais conflitivas. Não é exagero afirmar que o PPE é uma fábrica de complicações comerciais que eleva os desajustes entre pequenas e grandes empresas.
PPE é cartão de crédito
Os sindicalistas, principalmente de São Bernardo, controladores da cadeia dos metalúrgicos nas montadoras e nas autopeças, detestam restrições ao Programa de Proteção ao Emprego. Eles venderam esse produto do portfólio de proteção aos poderosos como a salvação da lavoura nestes tempos de recessão econômica e crise política agravadas pela particularidade de a região ser dependente demais do setor automotivo. Há milhares de trabalhadores de montadoras e sistemistas – autopeças que atuam em parceria direta com as montadoras – pendurados nos benefícios do PPE. Quando essa rede de proteção provisória e insustentável para os cofres públicos e as próprias empresas não resistir mais, o estrondo poderá ser ainda maior. O PPE, nas circunstâncias fiscais em que se encontra o Brasil e diante da baixa produtividade das fábricas nacionais, é apenas um cartão de crédito que terá de ser resgatado mais adiante.
Nos últimos 12 meses o setor industrial da Província do Grande ABC viu o estoque de trabalhadores ser rebaixado de 239.738 postos para 214.155. Uma diferença de 25.583. Uma queda de 11,94%. Ou seja: de cada 100 postos de trabalho do setor na região em fevereiro do ano passado, com carteira assinada, quase 12% viraram pó.
Quem mais perdeu foi Diadema, berço de pequenas e médias indústrias do setor metalúrgico e químico. As 7.457 baixas representaram 13,84% das carteiras assinadas em fevereiro do ano passado. Rio Grande da Serra, que representa apenas 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) da região, contabilizou baixa de 14,29% do estoque de trabalhadores industriais. Mas o resultado deve ser minimizado porque as 50 demissões líquidas no período são praticamente nada no universo regional. Rio Grande da Serra contava com apenas 1.704 trabalhadores do setor no estoque de fevereiro deste ano, contra 46.501 de Diadema.
Mais perdas da região
Os demais municípios da região passaram por sufoco semelhante ao de Diadema. A queda do estoque de trabalhadores industriais em Santo André chegou a 10,46%, com quebra líquida de 3.259 carteiras assinadas do total de 31.157 contabilizados em fevereiro de 2015. São Bernardo registrou baixa pouco inferior, de 9,68%, com demissão líquida de 9.007 trabalhadores do total de 93.047 registrados em fevereiro do ano passado.
Também muito dependente do mercado automotivo, São Caetano contabilizou no período de 12 meses rebaixamento de 8,98% no estoque de trabalhadores industriais. Eram 27.093 e passaram a 24.660. Mauá e Ribeirão Pires também participam do clube dos dois dígitos de empregos destruídos no acumulado de um ano. Mauá perdeu 10,13%, num total absoluto de 2.496 postos. Ribeirão Pires registrou perda de 10,89% postos, com 881 demissões líquidas.
Capitais resistem mais
Nenhuma das cinco principais capitais brasileiras perdeu proporcionalmente tantos empregos industriais como a Província do Grande ABC em 12 meses. A crise petrolífera atingiu em cheio a cidade do Rio de Janeiro, que viu desaparecerem 17.692 postos de trabalho, os quais representaram 9,07% do estoque. O Rio de Janeiro contava com 195.060 postos de trabalho industrial em fevereiro do ano passado. Passou para 177.368 em fevereiro deste ano. Ou 20,74% menos que o total geral de trabalhadores industriais da Província.
Belo Horizonte conta com um quarto dos trabalhadores industriais da Província do Grande ABC. Eram 66.332 postos de trabalho em fevereiro do ano passado. Com a quebra do estoque em 10,77%, baixa de 7.144 carteiras assinadas, restaram em fevereiro deste ano 59.188 de estoque. Porto Alegre contava em fevereiro do ano passado com 45.265 trabalhadores industriais com carteira assinada. Perdeu 4.350 em 12 meses, o que significou baixa relativa de 9,61% -- restando 40.915 de estoque.
Curitiba conta com um pouco menos da metade de estoque de trabalhadores industriais registrados na Província do Grande ABC. Eram 91.431 em fevereiro do ano passado, mas com a baixa de 11,88% no período pesquisado, passou para 80.569 postos. Um pouco menos que São Bernardo. Já em Salvador, capital baiana, o estoque de trabalhadores industriais em fevereiro do ano passado era de 33.976, semelhante a Santo André. Com a perda de 1.461 postos, o estoque foi reduzido a 32.515.
Se forem somados os estoque de trabalhadores industriais das cinco maiores capitais brasileiras, exceto São Paulo, chega-se a 432.064 trabalhadores em fevereiro do ano passado, 44,5% superior ao registrado pela Província no mesmo mês. Um ano depois, aquelas cinco capitais somavam 391.055. Uma queda de 9,49%%. Ou seja: a Província supera essas capitais quando se comparam estoques antigos e estoques novos num mesmo recipiente avaliativo.
São Paulo bem melhor
Uma comparação com a cidade de São Paulo, tão próxima à região, parece mais apropriada |à constatação do ponto nocivo do chamado Custo ABC às relações trabalhistas e aos investimentos. O setor industrial da Capital registrava estoque de 500.698 trabalhadores em fevereiro do ano passado. Foram decepados 41.608 postos em 12 meses, o que representou 8,31% do estoque. Restaram 459.090 trabalhadores. A perda relativa do emprego industrial na cidade de São Paulo foi 30,40% menor que a apontada na Província.
O setor industrial da Capital representa 10,70% do estoque de trabalhadores em geral, contra 28,87% do registrado na Província. Isso significa que o peso relativo do emprego industrial na região tem poder muito mais corrosivo de destruição de riqueza em situações econômicas de enxugamento de consumo. Tanto é verdade que o emprego geral -- que reúne todos os setores -- durante os 12 meses pesquisados não ultrapassou a perda de 3,60% na Capital. Eram 4.449.833 trabalhadores registados em fevereiro do ano passado, contra 4.289.639 em fevereiro deste ano. A Província do Grande ABC demitiu 38,98% mais trabalhadores em todos os setores de atividades porque a taxa de redução do estoque apontou perda de 5,90%. A taxa média registrada no Brasil foi de 4,14%. Também abaixo da marca da Província.
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