Li algo que me chocou no suplemento mensal do Diário do Grande ABC, que trata de temáticas relacionadas aos compromissos da publicação com uma Província muito melhor do que temos. Está no editorial que o Diário do Grande ABC é o melhor endereço de regionalidade da região. Pura bobagem. Não é o fato de ser o veículo de comunicação mais tradicional da região que o torna automaticamente o melhor em regionalidade. Nosso acervo, disponível aos leitores, prova isso. Regionalidade no sentido amplo do termo, é nossa especialidade e de mais ninguém. O que lamentamos muito, aliás. Não reportamos informações regionais. Analisamos informações regionais, devassamos dados, invadimos a área de nebulosidades e frustrações informativas de terceiros e colocamos tudo no devido lugar regional. Fazemos isso há pelo menos três décadas. A revista LivreMercado e CapitalSocial são a simbiose perfeita de comprometimento com a cidadania regional.
Faço questão de diferenciar o significado de informação e de análise. Informação, à qual se lançam irrestritamente todos os veículos de comunicação da região, é apenas um jogo preliminar, sem necessariamente um agregado de valor. Análise é o jogo propriamente dito. Não um jogo qualquer, em que os três pontos estão em disputa. É um jogo que vale título, vale uma temporada inteira.
Regional enfraquece regionalidade
Quanto mais os veículos de comunicação pontuam presença informativa em termos regionais, mais a regionalidade se enfraquece e vira objeto de entretenimento, de dispersão, de esculhambação da pauta. Tudo porque os agentes principalmente públicos, mas também sindicais, fazem da decantada neutralidade dos jornais nada menos que o campo de manobra preferido à manipulação de fatos. Todos usufruem da credibilidade dos jornais que só informam. Avaliações críticas eventuais não têm peso suficiente à desmistificação. A história do jornalismo regional, mas não de jornalismo de regionalidade, é prova disso.
Fiz rápida consulta ao acervo desta revista digital e cheguei a um número fantástico, do qual nem desconfiava mas que expressa bem o que somos em termos de regionalidade. Nada menos que 597 matérias preponderantemente analíticas, carregam no ventre de forma direta, de protagonismo, ou indireta, de coadjuvante, o verbete “regionalidade”.
Se fôssemos capturar palavras e expressões com significado semelhante, estouraríamos ainda mais a boca do balão. “Integração regional”, por exemplo, corresponde exatamente à essência de “regionalidade”.
Uma breve amostra-grátis
Faço um convite aos leitores: vasculhem os sites dos veículos de comunicação da região e vejam se existe quantidade tão pronunciadamente volumosa de matérias com origem no verbete regionalidade num contexto de confronto, de esclarecimento, de questionamento, de profundidade.
Aleatoriamente, apenas para matar a cobra e matar o pau, desfilo na sequência alguns títulos (e as respectivas datas de publicação) nos quais “regionalidade” exerce papel de protagonismo:
Globalização dá de goleada na falta de ação regional – 05/12/2000.
Metropolização, fracasso sem data de validade – 10/11/2001.
Os prós e os contras do Grande ABC, Urgente! – 11/12/2002.
República de papel e Republiqueta de ações – 28/10/2003.
Regionalidade sem ônus do municipalismo – 27/11/2003.
Consórcio de Prefeitos precisa definir planejamento estratégico – 04/04/2005.
Mãos na massa da regionalidade – 12/04/2006.
Como escapar dos sete pecados capitais? – 27/03/2006.
Regionalidade em 57 alternativas – 24/09/2009.
Celso Daniel reprovaria metrópole preparada pelo governador – 28/06/11.
10 Mandamentos para prefeitos não caírem no esquecimento – 04/10/2013.
Clube dos Prefeitos gosta de perder tempo com bobagens – 20/11/2014.
Quando Avenida dos Estados vai ser prioridade de prefeitos? – 07/01/2016.
Questão cultural
O calhamaço que retiro da impressora após digitar no mecanismo de busca a palavra “regionalidade” sintetiza o desempenho dos veículos de comunicação que comandei editorialmente nos últimos 30 anos na região. Por isso, praticamente tudo que abarca o verbete, do campo econômico ao institucional, que tenha importância ao resgate, a qualquer tempo, dos acontecimentos locais sob uma ótica crítica, será possível encontrar nestas páginas.
Somente quem não tem a menor noção cultural da importância de CapitalSocial e de LivreMercado em termos de entendimento do que se passou na região no século passado e neste século perpetraria algo como a liderança do Diário do Grande ABC em regionalidade. Carregasse o Diário do Grande ABC -- repito, a publicação historicamente mais importante da região -- pelo menos 10% dos posicionamentos críticos analisados por LivreMercado e CapitalSocial, certamente teríamos uma sociedade menos arredia a embates com mandachuvas e mandachuvinhas que ditam as regrais regionais.
Os outros veículos de comunicação local também fariam enorme bem à sociedade se adotassem o princípio elementar do jornalismo, que consiste em desconfiar das fontes de informação que há dezenas de anos se alternam na mágica de transmitir interesses pessoais, grupais e partidários ao consumo dos leitores.
"Regionalidade para ser impressa" é muito mais que um mote desta revista digital. É um compromisso inarredável com a sociedade, na esperança de que, quem sabe, a suburbanidade intelectual seja finalmente reduzida a nível suficiente para que apareçam lideranças capazes de nos retirar de um sono que parece eterno.
Não vejo sentido algum em fazer jornalismo sem que o predomínio da análise sobre qualquer modalidade de embromação das fontes de informação deixe de ser cláusula pétrea.
Por falar nisso, a manchetíssima de ontem desta revista digital, sobre o mercado de trabalho da Província, o mais dolorido do País, é um exemplo do quanto tratamos a regionalidade com conhecimento de causa. E olhem que o verbete “regionalidade” nem consta daquela análise. Como tantas outras matérias, aliás. No fundo, no fundo, deveria este jornalista providenciar a retirada da Editoria de Regionalidade do alto do site. Nossa regionalidade está em todas as análises em formato de matérias. Infelizmente, os demais veículos ainda não compreenderam o que é preliminar e o que é jogo principal.
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